era soldado maqueiro e estava preso. Junto com desertores e com outros que eram verdadeiros bandidos, ele estava ali regularmente e sempre pela mesma razão. É que sempre que recebia o Pré, com uns tostões no bolso, corria à cantina apanhar uma monumental bebedeira, e depois de recuperar do coma alcoólico na enfermaria, ia directamente para a prisão sem passar pela partida.
Mas a cadeia não era sítio para se descansar. Todas as manhãs, acompanhados por uma guarda armada, os presos saíam para o campo para uma espécie de trabalhos forçados. Naquele dia a tarefa designada pelo comandante era limpar à mão uma grande área de terreno que tinha sido desmatada e onde enormes troncos jaziam espalhados. Os homens lá iam rebolando e arrastando os pesados troncos conforme podiam, contando histórias entre eles e maldizendo a sorte. Entretanto numa pausa, discutiam acerca de um filme recente que tinham visto, sobre o Hécules ou Sansão e Dalila, um desses filmes bíblicos que foram moda, e eles achavam que "se um daqueles antigos viesse aqui, pegava num tronco destes sozinho, levantava e atirava para longe..." Que capacidades teriam esses antigos para pegar em pesos descomunais como se fossem caixas de cartão? Era estranho de facto... até que depois de um silêncio, o Faztudo concluiu: "
É que eles não tinham o conhecimento do peso".
(Bié - 1972)