quinta-feira, novembro 29, 2012

Já leram o memorando da troika?

Já leram o memorando de entendimento com a troika, assinado por Portugal em Maio de 2011? Eu li, e em pé de página deixo o link para quem o quiser consultar, na sua tradução oficial. São 35 páginas, escritas num português desagradável e tecnocrático, que têm servido a este governo para justificar tudo. Ainda ontem, com descaramento, um dirigente do PSD dizia que "este não era o Orçamento do PSD, mas sim da troika"! Ai sim? Então eu proponho a todos um breve exercício de leitura. Tentem descobrir, lendo o memorando, onde é que lá estão escritas as 4 medidas fundamentais pelas quais este governo vai entrar para história de Portugal! Sim, tentem descobrir onde é que lá está escrito que se deve lançar uma sobretaxa no subsídio de Natal de todos os portugueses (decidida e executada em 2011); cortar os subsídios aos funcionários públicos e pensionistas (decidido e executado em 2012); alterar as contribuições para a TSU (anunciada e depois retirada em Setembro); ou mexer nas taxas e nos escalões do IRS, incluindo nova sobretaxa (anunciados no Orçamento para 2013), e definidos pelo próprio ministro das Finanças como "um aumento enorme de impostos"? Sim, tentem descobrir onde estão escritas estas 4 nefastas medidas e verão que não estão lá, em lado nenhum. Ao contrário do que este Governo proclama, estas 4 medidas, as mais graves que o Governo tomou, não estão escritas no "memorando com a troika"! Portugal nunca se comprometeu com os seus credores a tomar estas 4 medidas! Elas foram, única e exclusivamente, "iniciativas" do Governo de Passos Coelho, que julgava atingir com elas certos objectivos, esses sim acordados com a "troika". Porém, com as suas disparatadas soluções em 2011 e 2012, o Governo em vez de melhorar a situação piorou-a. Além de subir o IVA para vários sectores chave, ao lançar a sobretaxa e ao retirar os subsídios, o Governo expandiu a crise económica, e acabou com menos receita fiscal e um deficit maior do que tinha. Isto foi pura incompetência, e não o corolário de um "memorando de entendimento" onde não havia uma única linha que impusesse estes caminhos específicos! Mais grave ainda, o Governo de Passos e Gaspar, sem querer admitir a sua incúria, quer agora obrigar o país a engolir goela abaixo "um enorme aumento de impostos", dizendo que ele foi imposto pela "troika". Importa-se de repetir, senhor Gaspar? É capaz de me dizer onde é que está escrito no "memorando de entendimento" que em 2013 o IRS tem de subir 30 por cento, em média, para pagar a sua inépcia e a sua incompetência? Era bom que os portugueses aprendessem a não se deixar manipular desta forma primária. Foram as decisões erradas deste Governo que, por mais bem intencionadas que fossem, cavaram ainda mais o buraco onde já estávamos metidos. E estes senhores agora, para 2013, ainda querem cavar mais fundo o buraco, tentando de caminho deitar as culpas para a "troika"? Só me lembro da célebre frase de Luís Filipe Scolari: "e o burro sou eu?"
 Para ler o memorando vá a: http://www.portugal.gov.pt/media/371372/mou_pt_20110517.pdf
(texto de Domingos Amaral)

sábado, novembro 17, 2012

Angola levanta-se em defesa dos pobres portugueses

"Mário Soares não deu com a língua nos dentes nem escreveu um testamento sobre as violentas cargas policiais em frente à Assembleia Nacional, ruas limítrofes e Cais do Sodré. Dezenas de pessoas foram parar ao hospital, algumas gravemente feridas, devido às agressões dos agentes da polícia de choque. Francisco Louçã, o frade trapeiro da esquerda, não entrou no parlamento aos gritos, exigindo uma condenação contra o Governo Português por ter violado gravemente os direitos humanos nas ruas de Lisboa, a decrépita capital imperial. As máfias organizadas da política à portuguesa ficaram em silêncio face à brutalidade policial. Alguns até elogiaram os agentes, por terem atacado à bruta e atirado para o hospital dezenas de portugueses que o único crime que cometeram foi manifestar a sua indignação. Não têm trabalho nem pão e ainda por cima o seu governo tira-lhes o pouco que resta para dar aos banqueiros nacionais e da Troika. A RTP fez a cobertura dos acontecimentos mas escondeu parte da verdade. A SIC mostrou tudo mas sem filtro ou colou às imagens uma mensagem que deturpava a verdade dos factos. A TVI foi mais longe e às imagens associou palavras de um repórter que garantia aos telespectadores que os feridos mais graves foram feitos pelos próprios manifestantes! Os portugueses um dia destes regressam ao tempo em que os polícias davam tiros para o ar e acertavam nas partes baixas dos manifestantes. Os direitos humanos estão em perigo em Portugal e os angolanos não podem ficar em silêncio porque estamos a falar de um país que faz parte da CPLP. Se há reuniões de emergência por causa da situação política e humanitária na Guiné-Bissau, é hora de convocar todos os líderes da comunidade para avaliar a situação dos direitos humanos em Portugal. É chocante ver agentes da polícia bater num idoso no chão, até lhe partirem a cabeça. Ou em mulheres que estavam a passar no local errado à hora errada. Ninguém pode ficar indiferente ao sangue que na quarta-feira correu em Lisboa. Angola tem sido, sobretudo nos últimos dez anos, o baluarte da democracia e da liberdade na comunidade de países que falam a língua portuguesa. Num momento em que surgem visíveis sinais de violência sobre cidadãos indefesos, temos de cerrar fileiras e exigir que Portugal respeite os direitos humanos. A polícia portuguesa devia vir a Luanda fazer uma formação com a nossa Política de Intervenção Rápida. Quando antes das eleições algumas dezenas de jovens, manipulados por partidos políticos que ainda têm o cordão umbilical ligado às máfias políticas em Portugal, fizeram manifestações de rua, tudo acabou de uma forma civilizada. Choveram pedras sobre os agentes da polícia e os seus carros. Mas tudo se resolveu com a detenção dos desordeiros. Depois de identificados foram para casa e alguns tiveram de responder no Tribunal de Polícia. Não houve agressões selváticas. Os direitos humanos foram respeitados. Os dos manifestantes e os de todos os outros. Apesar da actuação profissional e civilizada dos agentes da Polícia Nacional, a RTP amplificou desalmadamente os acontecimentos. Dirigentes do Bloco de Esquerda exigiram a condenação do Executivo. A imprensa portuguesa entrou em delírio de aldrabices compulsivas. Houve um festival de ingerências nos assuntos internos de Angola. Em Lisboa aconteceu um verdadeiro massacre sobre manifestantes indignados e as máfias fingem que não percebem o que aconteceu. Até os nossos políticos, tão sensíveis à liberdade de expressão, estão em silêncio. O Mário Crespo não entrevista o Rafael Marques nem o Filomeno Vieira Lopes. O Justino Pinto de Andrade ficou calado só porque lhe deram a presidência do júri do prémio Maboque. Ninguém se levanta em defesa dos pobres portugueses que estão a morrer de fome." (in JORNAL DE ANGOLA)

terça-feira, novembro 06, 2012

Eles acre­di­tam em Deus e pro­me­tem go­ver­nar em seu no­me...

«Se a du­pla Rom­ney/Ryan ga­nhar a elei­ção pa­ra a Ca­sa Bran­ca em No­vem­bro pró­xi­mo, va­mos ter de re­pen­sar o mun­do co­mo se es­ti­vés­se­mos nos pri­mór­di­os do sé­cu­lo XX. Eles de­fen­dem que a «vi­o­la­ção le­gí­ti­ma» não de­ve dar di­rei­to a abor­tar, as­sim co­mo o in­ces­to ou a mal­for­ma­ção do fe­to tam­bém não da­rão; eles de­fen­dem que só os mai­o­res de 68 anos, do­en­tes, têm di­rei­to a ser tra­ta­dos pe­lo Es­ta­do, gra­tui­ta­men­te; eles de­fen­dem que a ta­xa má­xi­ma de IRS de­ve bai­xar de 35 pa­ra 26% e que, a par­tir de ren­di­men­tos de 200.000 dó­la­res anu­ais, a ta­xa de­ve ser ze­ro; eles de­fen­dem o aban­do­no da in­ves­ti­ga­ção e in­ves­ti­men­to nas ener­gi­as lim­pas e a apos­ta na in­ten­si­fi­ca­ção da ex­plo­ra­ção de pe­tró­leo, no Alas­ca, no off-sho­re e em qual­quer zo­na pro­te­gi­da, acom­pa­nha­da de in­cen­ti­vos fis­cais às pe­tro­lí­fe­ras (o mes­mo que o nos­so Ál­va­ro Pe­rei­ra, que se­pul­tou a in­dús­tria das ener­gi­as al­ter­na­ti­vas em tro­ca de apos­tar nos po­ços de pe­tró­leo nas tra­sei­ras do Mos­tei­ro de Al­co­ba­ça); eles de­fen­dem a per­se­gui­ção aos imi­gran­tes, o fim do se­gu­ro de saú­de pú­bli­co (o «Oba­ma­ca­re»), o fim das bol­sas de es­tu­do pa­ra os jo­vens sem di­nhei­ro pa­ra es­tu­dar, a des­re­gu­la­men­ta­ção to­tal do sis­te­ma fi­nan­cei­ro e da gran­de in­dús­tria, o di­rei­to ina­li­e­ná­vel de to­dos os ci­da­dãos an­da­rem ar­ma­dos e dis­pa­ra­rem li­vre­men­te, a pro­cla­ma­ção da ca­pi­tal de Is­ra­el em Je­ru­sa­lém, o re­for­ço das des­pe­sas mi­li­ta­res, e, de um mo­do ge­ral, a guer­ra aos ára­bes, rus­sos, chi­ne­ses e pre­tos. Eles acre­di­tam em Deus e pro­me­tem go­ver­nar em seu no­me, com um pro­gra­ma de ter­ro­ris­mo so­ci­al e de de­bo­che eco­nó­mi­co que vai fa­zer do idi­o­ta do Ge­or­ge W. Bush um ga­jo por­rei­ro.
Es­ta po­bre gen­te ame­ri­ca­na, for­ma­da po­li­ti­ca­men­te nos chás da Tup­perwa­re e nas mis­sas do­mi­ni­cais dos pre­ga­do­res lo­cais, é o que po­de­re­mos ter, nos pró­xi­mos anos, en­tre nós, os eu­ro­peus, e os chi­ne­ses, se eles ga­nha­rem as elei­ções de No­vem­bro. Os mes­mos, os mes­mís­si­mos im­be­cis que fi­ze­ram im­plo­dir a eco­no­mia mun­di­al em no­me da li­vre ini­ci­a­ti­va, pro­põem-se res­ga­tá-la com as mes­mas re­cei­tas le­va­das ao ex­tre­mo de um au­to-da-fé — e me­ta­de dos ame­ri­ca­nos acre­di­ta ne­les. Co­mo é que a Amé­ri­ca che­gou aqui? E co­mo é que nós va­mos atrás?» 
(Miguel Sousa Tavares)