Eduardo Lourenço
Eduardo Lourenço apresenta uma bela síntese sobre a
ignorância e a perplexidade das elites intelectuais portuguesas face ao
actual estado de coisas da “modernidade”. Uma síntese brilhante de que
tira (pelo menos na notícia…) uma conclusão muito errada: recomenda
“paciência” quando devia recomendar estudo sério e coragem intelectual
para navegar e descobrir novos oceanos de saber, capazes de elucidar e
apontar saídas para o que o deixa em estado perplexo… Lourenço acaba por
fazer não a radiografia destes tempos e seus problemas mas a
radiografia da incapacidade da nossa “elite intelectual” e da sua
pobreza conceptual. Por exemplo, ele constata muito bem que vivemos em
«estado de guerra permanente», mas nada aponta como campo conceptual
para “ler” e colocar em perspectiva esse «estado de guerra permanente».
Ora, esses campos conceptuais existem. Pode-se tomar posição face a
esses campos, pode-se até fazer a sua crítica radical e até recusá-los. O
que não se pode é desconhece-los… E é esse desconhecimento que se
constata neste encontro em que Eduardo Lourenço apresentou a sua bela
síntese sobre a ignorância e a perplexidade das elites intelectuais
portuguesas.
O autor, que disse não acreditar que o tempo desta «espécie de submissão mansa» vá perdurar, ressalvou não querer contribuir para algo como uma «depressão de segundo grau, por conta dos outros».
«Não sei se é um comportamento muito português dormir em cima daquilo que nos ameaça profundamente e nos põe problemas que não podemos resolver esperando que, com o tempo, com um pouco de sorte, acabemos por sair desta espécie de atoleiro em que estamos mergulhados», acrescentou.
«Os vampiros não são tão vampiros como isso, são pessoas reais. São as pessoas que controlam o sistema que a modernidade foi inventando pouco a pouco, com os seus novos meios de produção, que aumentaram efetivamente de maneira fantástica a possibilidade que os homens têm de aceder a um certo número de coisas que são importantes», disse Eduardo Lourenço, já em resposta a questões do público.
O autor declarou que a televisão é hoje «o objeto mais importante», tendo o «espaço público desaparecido», o que deu origem a um momento em que «tudo se passa na televisão, as intervenções dos comentadores na televisão são mais importantes do que a realidade».
Eduardo Lourenço lamentou que a política já não seja uma «política real».
«Passámos […] para um tempo em que aparentemente as guerras já não têm lugar ou são guerras de uma outra espécie, são quase guerras virtuais como se fossem cinema puro, embora os mortos não sejam cinema nenhum. Passámos para um tempo em que estamos – não parece à primeira vista – num mundo em estado de guerra permanente no interior do sistema, não há nenhuma grande produção que não esteja em guerra com uma outra ao lado», afirmou o vencedor do prémio Camões de 1996.
Eduardo Lourenço disse ainda não pensar nada sobre o futuro, uma vez que «se pensasse no futuro era o dono do futuro».
Assim, o ensaísta, que constatou saber o que é estar «à beira do abismo» por estar próximo do seu próprio, apelou a que se tenha paciência, antes de entrar «enfim na terra da promissão».
Eduardo Lourenço: “Fomos invadidos por uma espécie de vampiros”
O ensaísta Eduardo Lourenço disse hoje que houve uma invasão por «uma espécie de vampiros», que são quem controla o sistema inventado pela modernidade, vivendo-se agora um «apocalipse indireto» em «estado de guerra permanente».
Durante a primeira mesa da 15.ª edição do Correntes d´Escritas, na Póvoa de Varzim, sob o título «Pensamentos não são correntes de ninguém», Eduardo Lourenço disse: «Dá a impressão de que, de repente, fomos invadidos, não por uns castelhanos arcaicos nossos vizinhos e que são nossos irmãos e primos, mas por uma espécie de vampiros como aqueles que o cinema de Hollywood ilustra. Não é por acaso que o tema dos vampiros se tornou um tema da moda, os vampiros são emissários da morte, é como se estivéssemos a viver uma espécie de apocalipse indireto».O autor, que disse não acreditar que o tempo desta «espécie de submissão mansa» vá perdurar, ressalvou não querer contribuir para algo como uma «depressão de segundo grau, por conta dos outros».
«Não sei se é um comportamento muito português dormir em cima daquilo que nos ameaça profundamente e nos põe problemas que não podemos resolver esperando que, com o tempo, com um pouco de sorte, acabemos por sair desta espécie de atoleiro em que estamos mergulhados», acrescentou.
«Os vampiros não são tão vampiros como isso, são pessoas reais. São as pessoas que controlam o sistema que a modernidade foi inventando pouco a pouco, com os seus novos meios de produção, que aumentaram efetivamente de maneira fantástica a possibilidade que os homens têm de aceder a um certo número de coisas que são importantes», disse Eduardo Lourenço, já em resposta a questões do público.
O autor declarou que a televisão é hoje «o objeto mais importante», tendo o «espaço público desaparecido», o que deu origem a um momento em que «tudo se passa na televisão, as intervenções dos comentadores na televisão são mais importantes do que a realidade».
Eduardo Lourenço lamentou que a política já não seja uma «política real».
«Passámos […] para um tempo em que aparentemente as guerras já não têm lugar ou são guerras de uma outra espécie, são quase guerras virtuais como se fossem cinema puro, embora os mortos não sejam cinema nenhum. Passámos para um tempo em que estamos – não parece à primeira vista – num mundo em estado de guerra permanente no interior do sistema, não há nenhuma grande produção que não esteja em guerra com uma outra ao lado», afirmou o vencedor do prémio Camões de 1996.
Eduardo Lourenço disse ainda não pensar nada sobre o futuro, uma vez que «se pensasse no futuro era o dono do futuro».
Assim, o ensaísta, que constatou saber o que é estar «à beira do abismo» por estar próximo do seu próprio, apelou a que se tenha paciência, antes de entrar «enfim na terra da promissão».
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