Eles acreditam em Deus e prometem governar em seu nome...
«Se a dupla Romney/Ryan ganhar a
eleição para a Casa Branca em Novembro próximo, vamos ter de
repensar o mundo como se estivéssemos nos primórdios do
século XX. Eles defendem que a «violação legítima» não deve
dar direito a abortar, assim como o incesto ou a malformação
do feto também não darão; eles defendem que só os maiores de 68
anos, doentes, têm direito a ser tratados pelo Estado,
gratuitamente; eles defendem que a taxa máxima de IRS deve
baixar de 35 para 26% e que, a partir de rendimentos de 200.000
dólares anuais, a taxa deve ser zero; eles defendem o abandono
da investigação e investimento nas energias limpas e a
aposta na intensificação da exploração de petróleo, no
Alasca, no off-shore e em qualquer zona protegida,
acompanhada de incentivos fiscais às petrolíferas (o mesmo
que o nosso Álvaro Pereira, que sepultou a indústria das
energias alternativas em troca de apostar nos poços de
petróleo nas traseiras do Mosteiro de Alcobaça); eles
defendem a perseguição aos imigrantes, o fim do seguro de
saúde público (o «Obamacare»), o fim das bolsas de estudo para
os jovens sem dinheiro para estudar, a desregulamentação
total do sistema financeiro e da grande indústria, o direito
inalienável de todos os cidadãos andarem armados e
dispararem livremente, a proclamação da capital de Israel
em Jerusalém, o reforço das despesas militares, e, de um modo
geral, a guerra aos árabes, russos, chineses e pretos. Eles
acreditam em Deus e prometem governar em seu nome, com um
programa de terrorismo social e de deboche económico que vai
fazer do idiota do George W. Bush um gajo porreiro.
Esta pobre gente americana,
formada politicamente nos chás da Tupperware e nas missas
dominicais dos pregadores locais, é o que poderemos ter, nos
próximos anos, entre nós, os europeus, e os chineses, se eles
ganharem as eleições de Novembro. Os mesmos, os mesmíssimos
imbecis que fizeram implodir a economia mundial em nome da
livre iniciativa, propõem-se resgatá-la com as mesmas
receitas levadas ao extremo de um auto-da-fé — e metade dos
americanos acredita neles. Como é que a América chegou aqui? E
como é que nós vamos atrás?»
(Miguel Sousa Tavares)
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