ela apareceu a primeira vez lá em casa, lembro-me como se fosse hoje. Tocarem à porta foi a primeira surpresa, àquela hora quem seria? E outra surpresa foi quando abri e era ela. Ali parada a olhar lá para dentro por cima do meu ombro e a sorrir.
- Sabes, é das marchas populares, disse eu. Fiquei de guardar isto, desde que penhoraram a sede da colectividade que não há sítio onde guardar as coisas. Foi por causa de um diferendo com a Câmara.
(Pensar eu que tinha sido arrastado prás Marchas por aquela cabeleireira trintona e reboluda!)
- E serve duns anos pros outros?
- Claro que serve, já viste quanto isto custa? É só mudar algumas cores e um ou outro pormenor e já está, já ninguém se lembra do ano anterior!
E ela sorria, fascinada. Aquele pé-direito era enorme, e todos aqueles arcos e balões coloridos pendurados do tecto deviam dar um aspecto estranho. Eu já me tinha habituado, não via, não ligava. Mas ela...
- Mas isto é o máximo, parece que estás nas festas de Campo Maior todo o ano. É lindo! Nunca foste a Campo Maior?
- Não, para quê?