sexta-feira, dezembro 23, 2011

Uma pena

...afinal, depois de ver o filme até ao fim percebi que Mr. Bloom estava a falar para uma plateia vazia. Uma pena!

quinta-feira, dezembro 22, 2011

2011

"O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros”. (Confúcio)

"Observando Portugal, não poderia estar mais cheio de razão. O ano teve um culpado no começo, José Sócrates. Continuou com culpados diversos: os mercados, a Grécia, a Alemanha, os especuladores. Mas nenhum destes senhores, entidades, países ou fantasmas se chegou à frente para assumir responsabilidades. No fim, como no começo, parece que a culpa é nossa, de cada um de nós, individualmente, que teremos tido a ousadia e audácia de acreditar, por momentos, no que nos disseram os governantes, os programas dos partidos, os “sinais” da economia. Somos os culpados de termos acreditado nesta gente toda, que agora nos diz que teremos de pagar pelos erros, enganos e mentiras que nos andaram a oferecer envenenada e falsamente."
Pedro Rolo Duarte

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Aos meus amigos, um hino à vida

Exmo Senhor Primeiro Ministro

Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim. Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome "de guerra". Basilio é o apelido pelo qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo amigos, se lembram de mim em anos mais recuados. Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer. Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso. Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios, desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de muito do que tinha aprendido. Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida. Despedi-me. Conquistei outro emprego, mais uma vez sem ajudas. Trabalhei mais. Saí de casa dos meus pais. Paguei o meu primeiro carro, a minha primeira viagem, a minha primeira renda. Fiquei efectiva. Tornei-me personna non grata no meu local de trabalho. "És provavelmente aquela que melhor escreve e que mais produz aqui dentro." - disseram-me - "Mas tenho de te mandar embora porque te ris demasiado alto na redacção". Fiquei. Aos 27 anos conheci a prateleira. Tive o meu primeiro filho. Aos 28 anos conheci o desemprego. "Não há-de ser nada, pensei. Sou jovem, tenho um bom curriculo, arranjarei trabalho num instante". Não arranjei. Aos 29 anos conheci a precariedade. Desde então nunca deixei de trabalhar mas nunca mais conheci outra coisa que não fosse a precariedade. Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa". Tinha como ordenado 'fixo' 485 euros x 7 meses por ano. Tinha iniciado um mestrado que tive depois de suspender pois foi preciso escolher entre trabalhar para pagar as contas ou para completar o curso. O meu dia, senhor primeiro ministro, só tinha 24 horas... Cresci mais. Aos 38 anos conheci o mobbying. Conheci as insónias noites a fio. Conheci o medo do amanhã. Conheci, pela vigésima vez, a passagem de bestial a besta. Conheci o desespero. Conheci - felizmente! - também outras pessoas que partilhavam comigo a revolta. Percebi que não estava só. Percebi que a culpa não era minha. Cresci. Conheci-me melhor. Percebi que tinha valor. Senhor primeiro-ministro, vou poupá-lo a mais pormenores sobre a minha vida. Tenho a dizer-lhe o seguinte: faço hoje 42 anos. Sou doutoranda e investigadora da Universidade do Minho. Os meus pais, que deviam estar a reformar-se, depois de uma vida dedicada à investigação, ao ensino, ao crescimento deste país e das suas filhas e netos, os meus pais, que deviam estar a comprar uma casinha na praia para conhecerem algum descanso e descontracção, continuam a trabalhar e estão a assegurar aos meus filhos aquilo que eu não posso. Material escolar. Roupa. Sapatos. Dinheiro de bolso. Lazeres. Actividades extra-escolares. Quanto a mim, tenho actualmente como ordenado fixo 405 euros X 7 meses por ano. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. A universidade na qual lecciono há 16 anos conseguiu mais uma vez reduzir-me o ordenado. Todo o trabalho que arranjo é extra e a recibos verdes. Não sou independente, senhor primeiro ministro. Sempre que tenho extras tenho de contar com apoios familiares para que os meus filhos não fiquem sozinhos em casa. Tenho uma dívida de mais de cinco anos à Segurança Social que, por sua vez, deveria ter fornecido um dossier ao Tribunal de Família e Menores há mais de três a fim que os meus filhos possam receber a pensão de alimentos a que têm direito pois sou mãe solteira. Até hoje, não o fez. Tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: nunca fui administradora de coisa nenhuma e o salário mais elevado que auferi até hoje não chegava aos mil euros. Isto foi ainda no tempo dos escudos, na altura em que eu enchia o depósito do meu renault clio com cinco contos e ia jantar fora e acampar todos os fins-de-semana. Talvez isso fosse viver acima das minhas possibilidades. Talvez as duas viagens que fiz a Cabo-Verde e ao Brasil e que paguei com o dinheiro que ganhei com o meu trabalho tivessem sido luxos. Talvez o carro de 12 anos que conduzo e que me custou 2 mil euros a pronto pagamento seja um excesso, mas sabe, senhor primeiro-ministro, por mais que faça e refaça as contas, e por mais que a gasolina teime em aumentar, continua a sair-me mais em conta andar neste carro do que de transportes públicos. Talvez a casa que comprei e que devo ao banco tenha sido uma inconsciência mas na altura saía mais barato do que arrendar uma, sabe, senhor primeiro-ministro. Mesmo assim nunca me passou pela cabeça emigrar... Mas hoje, senhor primeiro-ministro, hoje passa. Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor. Falo inglês melhor que o senhor. Francês então nem se fale. Não falo alemão mas duvido que o senhor fale e também não vejo, sinceramente, a utilidade de saber tal língua. Em compensação falo castelhano melhor do que o senhor. Mas como o senhor é o primeiro-ministro e dá tão bons conselhos aos seus governados, quero pedir-lhe um conselho, apesar de não ter votado em si. Agora que penso emigrar, que me aconselha a fazer em relação aos meus dois filhos, que nasceram em Portugal e têm cá todas as suas referências? Devo arrancá-los do seu país, separá-los da família, dos amigos, de tudo aquilo que conhecem e amam? E, já agora, que lhes devo dizer? Que devo responder ao meu filho de 14 anos quando me pergunta que caminho seguir nos estudos? Que vale a pena seguir os seus interesses e aptidões, como os meus pais me disseram a mim? Ou que mais vale enveredar já por outra via (já agora diga-me qual, senhor primeiro-ministro) para que não se torne também ele um excedentário no seu próprio país? Ou, ainda, que venha comigo para Angola ou para o Brasil por que ali será com certeza muito mais valorizado e feliz do que no seu país, um país que deveria dar-lhe as melhores condições para crescer pois ele é um dos seus melhores - e cada vez mais raros - valores: um ser humano em formação. Bom, esta carta que, estou praticamente certa, o senhor não irá ler já vai longa. Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente menos. Para ser mais exacta o meu IRS do ano passado foi de 4 mil euros. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. No ano passado ganhei 4 mil euros. Deve ser das minhas baixas qualificações. Da minha preguiça. Da minha incapacidade. Do meu excedentarismo. Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara. Pode ser que os outros dois aprendam alguma coisa sobre acordos de pesca. Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, feliz natal OU feliz ano novo à sua escolha, senhor primeiro-ministro. E como eu sou aqui sem dúvida o elo mais fraco, adeus. Myriam Zaluar, 19/12/2011 (carta encontrada algures na net)

segunda-feira, dezembro 19, 2011

Passos em falso

sábado, dezembro 17, 2011

as pernas dos alemães até tremem

sexta-feira, dezembro 16, 2011

Educar uma mãe é educar uma nação

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Vida breve

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Private post



Ver mapa maior “Waco Kungo Airport” (6 ou 7 km a norte do aeroporto fica Waco Kungo cidade, ex Santa Comba). Cerca de 1 km a norte da pista do aeroporto corre uma estrada em diagonal no sentido leste-oeste com uma inclinação de cerca de 20 º. Seguir essa estrada para a esquerda, no sentido oeste. A estrada entretanto flecte para norte até à “Central de Bombagem”. Em linha recta, cerca de 10 km para oeste da Central de Bombagem fica Massango, já para lá do rio Queve. Mais ou menos a meio desses 10 km, ligeiramente a norte, está a ex-nossa linda Fazenda Sta Eulália (44) nome dado pelo meu Pai em homenagem à aldeia onde nasceu a minha Mãe no Alentejo. É fácil de localizar porque nas redondezas não se vêem árvores mais frondosas, um legado dos nossos Pais que com o seu bom gosto e espírito romântico plantaram imensas a rodear as casas e toda a fazenda, cedros sobretudo, e araucárias também. A nossa casa, ou o que resta dela, ainda se vê entre as árvores do lado de baixo da estrada, assim como o tanque de água redondo que nos servia de piscina, poucos metros à direita. Do outro lado, mesmo em frente, havia um grande armazém, um aviário e um estábulo. Destes dois ainda se vislumbram as ruínas... E calo-me aqui para não chorar.
(cerca de 3 km em linha recta para direita da nossa casa pode ver-se a fazenda dos Garuti, arranjadinha e com aspecto de estar em perfeita laboração, o que me dá grande satisfação)

terça-feira, dezembro 13, 2011

Eu queria ver o Mundo

"Eu queria ver o Mundo fora da perspectiva egocêntrica europeia. Podia ter escolhido a Ásia ou a América do Sul, mas acabei por escolher África apenas porque o bilhete do avião era mais barato. Vim e fiquei. E por cerca de 25 anos vivi com um pé dentro e outro fora de Moçambique. O tempo passou, e hoje já não sou mais um jovem, de facto, aproximo-me da velhice. Mas a razão porque vivi toda a minha vida com um pé nas areias de África e o outro na neve europeia, na melancólica região de Norrland na Suécia, onde cresci, tem a ver com a vontade de ver claro e de compreender. A maneira mais simples de explicar o que aprendi da minha vivência em África é através da parábola acerca do porquê dos seres humanos terem dois ouvidos mas só uma língua. Porquê? Provavelmente porque devemos ouvir duas vezes mais do que falar. Em África, ouvir é um princípio de conduta. Princípio esse que foi perdido no constante tagarelar no mundo ocidental, onde ninguém parece ter tempo nem mesmo interesse para ouvir o outro. Da minha própria experiência, reparei quão rápido tinha que responder a perguntas durante uma entrevista na TV há uns anos atrás. É como se tivéssemos perdido completamente a capacidade de ouvir. Falamos, falamos, e acabamos por ficar com medo do silêncio, refúgio de quem procura serenamente uma resposta.
Tenho idade para me lembrar de quando a literatura Sul Americana emergiu na consciência popular e mudou para sempre a nossa visão da condição humana e do que significa ser-se humano. Agora acho que chegou a vez de África. Por toda a parte, gente do continente Africano escreve e conta histórias. Em breve a literatura africana explodirá na cena mundial, tal como há uns anos a literatura sul americana explodiu quando Gabriel Garcia Marques e outros lideraram uma tumultuosa e emocionante revolta contra uma verdade arreigada. Em breve uma torrente literária Africana oferecerá uma nova prespectiva da condição humana. O autor moçambicano Mia Couto, por exemplo, criou um realismo mágico que mistura a linguagem escrita com a grande tradição oral de África. Se formos capazes ouvir, iremos descobrir que muitas narrativas africanas estão estruturadas de forma completamente diferente do que estamos habituados. Estou certamente a simplificar, ainda que todos saibam que é verdade o que afirmo. A literatura ocidental é normalmente linear, vai do princípio para o fim sem grandes digressões no espaço e no tempo. Não é este o caso em África. Em lugar de uma narrativa linear, em África existe uma livre e exuberante forma de contar historias que avança e recua no tempo, juntando o passado e o presente. Alguém que tenha morrido há muito tempo pode intervir numa conversa entre duas pessoas bem vivas. Isto é só um exemplo. Os nómadas que ainda existem no deserto o Kalaari contam Histórias uns aos outros durante as suas deambulações diárias em busca de raízes comestíveis e animais para caçar. Muitas vezes contam mais que uma história ao mesmo tempo. Por vezes três ou quatro histórias correm em paralelo. Mas antes de regressarem o local onde passarão a noite, as histórias são ligadas, ou separadas para sempre, mas a todas é dado um fim.
Há uns anos atrás, estava eu sentado num banco de rua frente ao Teatro Avenida em Maputo, onde trabalhava como conselheiro artistico. Estava um dia muito quente, tinhamos feito uma pausa nos ensaios e saído para a rua na esperança que passasse uma brisa fresca. O ar condicionado do Teatro há muito que deixara de funcionar. Dois velhos africanos estavam também sentados comigo naquele banco, havia lugar para os três. Em África as pessoas partilham mais do que um copo de água com um grande espírito de irmandade. Mesmo em tempos difíceis as pessoas são generosas. Ouvi então os dois homens que falavam de um terceiro que tinha morrido há pouco tempo, e um deles dizia, “Eu visitei-o em sua casa, e ele começou a contar-me uma história interessante que lhe tinha acontecido quando ainda era jovem. Mas era uma história longa. A noite veio e decidimos que eu deveria voltar no dia seguinte para ouvir o resto da história. Quando eu voltei ele tinha morrido” O outro estava em silêncio. E eu decidi não me levantar do banco enquanto o homem não respondesse ao que tinha ouvido. Tive a impressão que assunto era importante. Finalmente ele falou. “Não é uma boa maneira de morrer - antes de teres contado o fim da tua história” Ao ouvir aqueles dois homens, dei por mim a pensar que a designação para a nossa espécie não devia ser Homo sapiens mas Homo narrants, ser que narra histórias. O que nos diferencia dos animais é podermos escutar os sonhos uns dos outros, os medos, as alegrias, as tristezas, os desejos e fracassos, e os outros pelo seu lado poderem ouvir os nossos também. Muita gente comete o erro de confundir informação com conhecimento. Não são a mesma coisa. Conhecimento envolve interpretação da informação. Conhecimento implica ouvir. Então, se eu estou certo que nós somos criaturas contadoras de histórias, apesar de nos permitirmos estar calados de vez em quando, a narrativa eterna continua. Muitas palavras serão escritas no vento e na areia da praia, ou publicadas num qualquer obscuro “site”. Mas o contador de histórias continuará, até que o último ser humano pare de as escutar. Poderemos então enviar a grande crónica da Humanidade por o Universo infinito. Quem sabe? Talvez lá esteja alguém desejando escutar..." Henning Mankell

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Desde os anos 80, quando conheci Laurie Andersen, que não ouvia música tão estimulante nem tão inovadora. Charles Spearin, um canadiano a seguir com atenção.

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Serge Latouche

Nacido en Vannes (Francia) hace 70 años, ante un público que le escuchaba sentado hasta en los pasillos de acceso al salón de actos del Colegio Mayor Larraona de Pamplona, subrayaba ayer noche que el actual ritmo de crecimiento económico mundial es tan insostenible como el deterioro y la falta de recursos en el planeta. Invitado por el colectivo Dale Vuelta-Bira Beste Aldera, y bajo el título de su conferencia El decrecimiento, ¿una alternativa al capitalismo? , reclamó que la sociedad establezca una autolimitación de su consumo y de la explotación medioambiental. Desde su punto de vista no se trata de plantear una involución sino acoplar la velocidad de gasto de los recursos naturales con su regeneración. Especialista en relaciones económicas Norte / Sur, premio europeo Amalfi de sociología y ciencias sociales, su movimiento decrecentista, nacido en los años 70 y extendido en Francia, defiende la sobriedad en la vida y la preservación de los recursos naturales antes de su agotamiento. A su juicio, si el decrecimiento no es controlado "el decrecimiento que ya estamos experimentando" será consecuencia del hundimiento de una forma de capitalismo insostenible, y además será desmesurado y traumático. Una bomba semántica. Afirma Serge Latouche que el término decrecimiento es un eslogan, "una bomba semántica provocada para contrarrestar la intoxicación del llamado desarrollo sostenible", una forma de pensamiento, la sostenibilidad, extendida por el economicismo liberal de los años ochenta, y que propicia pagar por todo, "por ejemplo, en el caso del trigo, obliga a pagar por los excedentes, por su almacenamiento y también hay que pagar por destruir los sobrantes". "Deberíamos hablar de A-crecimiento", dijo como una invitación hacia la reflexión sobre nuestro estilo de vida, incluso sobre la exhibición de los superfluo y el enriquecimiento desmesurado. Desde su punto de vista "vivimos fagotizados por la economía de la acumulación que conlleva a la frustración y a querer lo que no tenemos y ni necesitamos", lo cual, afirma, conduce a estados de infelicidad. "Hemos detectado un aumento de suicidios en Francia en niños", agregó, para aludir más adelante a la concesión por parte de los bancos de créditos al consumo a personas sin sueldo y patrimonio como sucedió en Estados Unidos en el inicio de la crisis económica mundial. Para el profesor Latouche, "la gente feliz no suele consumir". Sus números como economista aseguran que le dan la razón: cada año hay más habitantes en el planeta a la vez que disminuyen los recursos, sin olvidar que consumir significa producir residuos y que el impacto ambiental de un español equivale a 2,2 hectáreas, y que cada año se consumen 15 millones de hectáreas de bosque "esenciales para la vida". "Y si vivimos a este ritmo es porque África lo permite", subrayó. Para el profesor Latouche, cual cualquier tipo de escasez, alimentaria o de petróleo, conducirá a la pobreza de la mayoría y al mayor enriquecimiento de las minorías representadas en la grandes compañías petroleras o agroalimentarias. Trabajar menos y producir de forma inteligente. Tachado por sus detractores de ingenuo, postuló trabajar menos y repartir el empleo, pero trabajar menos para vivir y cultivar más la vida, insistió. Desde un proyecto que calificó como "ecosocialista", además de consumir menos, la sociedad debería consumir mejor, para lo cual propuso producir cerca de donde se vive y de forma ecológica para evitar que por cualquier puesto fronterizo entre España y Francia circulen hasta 4.000 camiones a la semana "con tomates de Andalucía cruzándose con tomates holandeses". Finalizó con una alabanza al estoicismo representado en España por Séneca: "No se obtiene la felicidad si no podemos limitar nuestros deseos y necesidades".