Aqui comigo, durante um coffeebrake, a monitora do curso, Vivian Altman rodeada por um grupo de ilustríssimos cineastas moçambicanos.
(a página de Vivian)
O último a sair que apague a luz e feche a porta
Aloni Pilianga é um moçambicano da Zambézia que foi militar durante vários anos, e chegou ao fim da guerra com o posto de tenente. Entretanto conheceu o país todo e foi num campo de refugiados no Malawi que se formou em acções humanitárias, ao serviço da Cruz Vermelha. Quando passou à reserva não quis passar também a fazer parte do número de desempregados que ficam o dia todo sentados à espera de um emprego, ou de uma qualquer ajuda do Estado.
Reformado como Tenente, a grande experiência que Pilianga trazia das FA era a de instrutor. Não tanto instrutor de guerra, mas mais instrutor de homens. E quando se viu sem farda, já na vida civil, achou que podia, e devia, continuar a ser instrutor. E quem é que mais precisa de instrução neste país? Perguntou. “São as nossas crianças, o futuro de Moçambique”, como não se cansa de dizer com entusiasmo. E resolveu meter mãos à obra. Andou quilómetros (só há pouco tempo conseguiu arranjar uma pequena motorizada) bateu a muitas portas, falou com muita gente, pediu, pediu, pediu sobretudo apoios e ajudas para o seu sonho de criar “escolinhas” em todos municípios onde elas não existem. “Para que as nossas crianças não cresçam abandonadas, nem passem os dias sozinhas, sem escola, sem o apoio do pai ou da mãe que foram trabalhar”. Nunca desanimou. Na tropa, segundo diz, aprendeu duas coisas muito importantes, “a coragem e a paciência”, e depois de muito trabalho, de muito esforço, conseguiu criar sozinho uma ONG. Chamou-lhe AHMO - Associação Humanitária Moçambicana. Hoje a sua “área de acção” estende-se da Namaacha à Catembe, por onde se desdobra em permanentes correrias para manter de pé os projectos já iniciados.
Na Namaacha, fruto da colaboração com uma ONG estrangeira, de maior dimensão, conseguiu apoio para a construção de raiz de duas escolinhas rurais. Infelizmente, noutros locais, onde o apoio se resume ao da população local, ou quando a autoridade municipal cede um pequeno espaço para acolher as crianças, as únicas ajudas que tem muitas vezes são as que saem do seu próprio bolso. Por essa razão, durante a nossa conversa, ao próprio autor deste texto foi sugerido: “Senhor jornalista, o senhor já sabe, da próxima vez que cá vier se puder trazer um saco de açúcar e uns pacotes de leite para as crianças, são muito bem vindos!” Porque de facto, a maior dificuldade que Aloni Pilianga enfrenta, além da mobilização das educadoras, é a falta de alimentação para dar às crianças. "Nos meios rurais as populações são muito pobres, as mamãs passam os dias fora nas machambas e nós só conseguimos segurar as crianças na escolinha se tivermos algo para lhes dar de comer. Uma pequena porção me farinha, um bocadinho de leite e açúcar já era uma grande ajuda. Para a próxima vez não se esqueça, senhor jornalista!”