terça-feira, novembro 26, 2013

ESTÁ A ACONTECER. JÁ SE APERCEBEU?

“Está a acontecer. Aquilo que nem nos passava pela cabeça que pudesse acontecer está mesmo a acontecer. Está a acontecer cada vez com mais regularidade as farmácias não terem os medicamentos de que precisamos. Está a acontecer que nos hospitais há racionamento) de fármacos e uma utilização cada vez mais limitada dos equipamentos. Está a acontecer que muitos produtos que comprávamos nos supermercados desapareceram e já não se encontram em nenhuma prateleira. Está a acontecer que a reparação de um carro, que necessita de um farol ou de uma peça, tem agora de esperar uma ou duas semanas porque o material tem de ser importado do exterior. Está a acontecer que as estradas e as ruas abrem buracos com regularidade, que ou ficam assim durante longos meses ou são reparados de forma atamancada, voltando rapidamente a reabrir. Está a acontecer que a iluminação pública é mais reduzida, que mais e mais lojas dos centros comerciais são entaipadas e desaparecem misteriosamente. Está a acontecer que nas livrarias há menos títulos novos e que as lojas de música se volatilizaram completamente. Está a acontecer que nos bares e restaurantes há agora vagas com fartura, que os cinemas funcionam a meio gás, que os teatros vivem no terror da falta de público. Está tudo isto a acontecer e nós, como o sapo colocado em água fria que vai aquecendo lentamente até ferver, não vemos o perigo, vamos aceitando resignados este lento mas inexorável definhar da nossa vida coletiva e do Estado social, com uma infinita tristeza e uma funda turbação. Está a acontecer e não poderia ser de outro modo. Está a acontecer porque esta política cega de austeridade está a liquidar a classe média, conduzindo-a a uma crescente pauperização, de onde não regressará durante décadas. Está a acontecer porque, nos últimos quase 40 anos, foi esta classe média que alimentou cinemas, teatros, espetáculos, restaurantes, comércio, serviços de saúde, tudo o que verdadeiramente mudou no país e aquilo que verdadeiramente traduz os hábitos de consumo numa sociedade moderna. Foi na classe média — de professores, médicos, funcionários públicos, economistas, pequenos e médios empresários, jornalistas, artistas, músicos, dançarinos, advogados, polícias, etc. —, que a austeridade cravou o seu mais afiado e longo punhal. E com a morte da classe média morre também a economia e o próprio país. E morre porque era esta classe média que mais consumia — e que mais estimulava — os produtos culturais nacionais, da literatura à dança, dos jornais às revistas, da música a outro tipo de espetáculos e de manifestações culturais. É por isso que a cultura está a morrer neste país, juntamente com a economia. E se a economia pode ainda recuperar lentamente, já a cultura que desaparece não volta mais. Um país sem economia é um sítio. Um país sem cultura não existe. Durante a II Guerra Mundial, quando o esforço militar consumia todos os recursos das ilhas britânicas, foi sugerido ao primeiro-ministro Winston Churchill que cortasse nas verbas da cultura. O homem que conduziu a Inglaterra à vitória sobre a Alemanha recusou perentoriamente. “Se cortamos na cultura, estamos a fazer esta guerra para qué?” Mutatis mutandis, a mesma pergunta poderíamos fazer hoje: se retiramos todas as verbas para a cultura, estamos a fazer este ajustamento em nome de quê? Mas esta, claro, é uma questão que nunca se colocará às brilhantes cabeças que nos governam”. Nicolau Santos

terça-feira, novembro 19, 2013

"Amanhã é um país desconhecido"

O Moçambique de amanhã depende do que acontecer no Moçambique de hoje.

De momento o que está a acontecer a nível político, pois nem sequer é possivel falar niveis ideológicos, não é encorajador. Mas o amanhã é um país desconhecido.


Não se sabe ao certo quando começa e quando acaba. O nosso amanhã é diferente do amanhã dos nossos netos.

Preferimos portanto cingirmo-nos aos próximos anos.

Um cenário plausivel é que continuaremos a ser guiados, cada vez mais directamente, para uma situação, comum em África, que é a da caricatura da democracia aproveitando o baixissimo nivel cultural da maioria e um progressivo e inexoravel controle dos poucos meios de comunicação social. A confirmação da efectiva fascização do poder, que já controla efectivamente o legislativo, o executivo e o judicial.


Este cenário, que parece quase inevitável, continua a ser a regra mais aplicada em África, com pouquissimas excepções.


Porque seriamos nós diferentes de Angola, do Congo, da Uganda ou do Zimbabwe por exemplo, com passados tão semelhantes, motivações tão próximas e afinidades tão fortes entre os seus dirigentes?

A ilusão de que agora, alguns, vamos ser ricos (…muito ricos…) obscurece sinistramente uma visão esclarecida sobre um possivel amanhã radioso para todos os moçambicanos. Entretanto as grandes multinacionais vão cumprindo o seu papel de mandantes dos interessses imperialistas das grandes potências mundiais e nós vamos ficando com os buracos, a poluição, fora de casa e com uma divida colossal para pagar.
Um cenário alternativo seria o de voltar a eleger valores éticos e morais como vias de orientação do processo politico, combater frontalmente a corrupção, a começar pela que se instalou nos quadros politicos e governativos, promover a qualidade do ensino, moralizar a função pública, despolitizar a direcção das instituições e das empresas públicas e, acima de tudo abrir um diálogo não demagógico sobre as perspectivas que se podem desenhar com a aplicação dos beneficios da exploração das riquezas naturais para a melhoria efectiva das condições de vida de todo o povo moçambicano.
E porque não dar alguma atenção a documentos como a Agenda 2025 ?
Na sua versão original, e na sua revisão, são apontados caminhos corajosos e, sobretudo, possiveis para uma renascença da credibilidade interna e externa de Moçambique como um estado de direito governado para o bem de todo o povo.
Essa, sim,  seria uma verdadeira “renascença Africana”.
Este cenário parece utópico no momento actual.
Contudo, para quem atento, o espirito de justiça está cada vez mais alerta e a repulsa pelas arbitrariedades, cada vez mais frequentes, que se vão praticando para o apoderamento da riqueza nacional por uma restrita classe de politicos a serviço de si próprios, é cada dia mais patente a todos os niveis sociais e particularmente significativa entre os jovens, cansados das promessas vazias e do espetáculo da rampante corrupção de quem só se sabe governar a si próprio.
É esse espirito que nos trás de volta a esperança, tão desgastada, num futuro Moçambique feito de pessoas felizes e de natureza respeitada.
(José Forjaz, arquitecto)

quinta-feira, novembro 14, 2013

quarta-feira, novembro 13, 2013

Quando a Europa salva os bancos, quem paga?