domingo, abril 18, 2004

ARCHIMEDES

Há agora aqui uma nova impulsão, de baixo para cima, igual ao peso do volume de líquido deslocado...
Depois de ter estado uns dias no banho,Maria,eis que volta de novo à superfície.
- O que é que achas, Maria?
- Não, dizes tu com a tua habitual perspicácia (também já me cansas!), foi a outra que abriu o ralo da banheira, não viste? Eu estava no banho e agora fiquei sem água, parvo. Foi ela, só pode ter sido ela, não há aqui impulsão nenhuma.
- Qual, aquela das danças sevilhanas?
- Exactamente, e parece que também sabe lê a sina...
- Acho que agora estás a exagerar, a moça o que disse foi que estudava aquela coisa dos signos, o que não tem nada a ver.
- Pois, isso dizes tu mas, uma coisa puxa a outra e as duas lavam as mãos. Não costumas ver abelha Maia naTV?
- Maria, não me envergonhes à frente das pessoas. Uma mão lava a outra e as duas lavam a cara.
- Prontos, fica com a tua que eu fico com a minha. E passa-me aí a roupa que eu quero-me ir embora.
- Não estás a querer fazer uma cena de ciúmes pois não, Maria?
E a Maria a fazer beicinho e a dizer baixinho enquanto se ia evaporando, pois, agora que já tens quem te leia já não te
importas que eu me vá embora. Ainda tentei responder, dizer que não, que ficasse... mas ela já não me ouvia, esvaía-se em vapôr, pelo exaustor da casa de banho.
O que fazer agora sem ela? Parece que ainda a ouço a sussurrar-me ao ouvido: Um dia que eu me vá embora, que me troques por outra qualquer (coitadinha!), vais ficar com a vida toda devassada. Podes crer que não havia ninguém melhor do que eu para guardar os teus segredos. Podes crer!