sexta-feira, março 17, 2006

Era dia de navio


Desde cedo que era grande a azáfama junto à praia e ao longo do cais. De cima de velhas camionetas descarregavam-se caixotes e sacos com as mais variadas mercadorias. Havia gente que corria apressada, havia abraços, encontros e despedidas, e uma enorme algazarra. Junto ao cais, grandes barcaças recebem a carga directamente das costas dos negros que depois levam até junto do navio que ficou fundeado ao largo por falta de fundo e de um porto capaz. Era uma operação lenta, com muitos percalços, que começava pela manhã cedo e só terminava lá para a noite.

Moçâmedes daquele tempo, era uma cidadezinha pequena, de casas baixas, encravada entre o deserto e o mar, e cujas ruas de traçado rectilíneo eram provavelmente ainda uma herança do Marquês. Na sua origem parece ter estado o desembarque naquela praia de uma centena de portugueses vindos de Pernambuco, no Brasil, nos finais do século dezanove. Uns anos mais tarde, uma linha de comboio, descendo das terras altas do interior, veio ali ter o seu términus. Confundindo-se com a maresia, havia no ar um permanente cheiro a peixe seco, que umas quantas fábricas junto à praia estendiam em longos tabuleiros ao sol.

Mas naquele manhã havia um cheiro diferente. Depois de uma longa viagem enfiados em vagões do caminho de ferro, uma manada de bois aguardava na praia a sua vez de embarcar. Tinham chegado de madrugada, e o Fiel, o pastor Mucubal que acompanhou o gado até ali, com a ajuda de uma vara comprida, ia mantendo os animais junto ao mar enquanto esperava ordens do branco. O senhor Correia. Foi ele que comprou os bois e engendrou todo aquele negócio de mandar o gado vivo para a "Metrópole", e procurava aflito o veterinário e o comandante do navio que veio a terra assistir ao embarque, mas que entretanto perdeu a noção das horas e do número de cervejas que já bebeu no bar do Hotel Moçâmedes. Desde a primeira vez que ali aportou que aquilo fazia parte do ritual da viagem.
Ó Correia, isto são procedimentos obrigatórios nestas navegações de longo curso. Dizia ele ao afogueado comerciante quando este finalmente o encontrou a debater-se com um suculento bife com ovo a cavalo, e com várias garrafas de cerveja vazias à frente. Tenha calma homem, que o navio não sai sem mim. O veterinário já viu os animais, e a papelada está toda em ordem, fique descansado. Beba aqui uma cerveja com a gente.

A princípio não foi fácil convencer os animais a embarcarem. Mas com paciência e com os olhos vendados, um a um, o pastor lá os foi conduzindo por uma rampa de tábuas, com alguns trambolhões pelo meio, para dentro das barcaças. Depois, já encostadas ao navio, colocaram-se umas cilhas por baixo da barriga dos bois e içaram-nos com a ajuda dos paus de carga para o porão. O Fiel não sabia contar, mas isso não impedia que no meio daquelas dezenas de animais, se faltasse algum, ele não desse imediatamente por isso. Entretanto não deu foi pela partida do navio, já de noite. Tinha adormecido de cansaço entre os fardos de palha e os sacos de ração que tinham embarcado para que os animais não morressem de fome durante os quinze dias de clausura que tinham pela frente.
Ficou combinado com o comandante que o pastor acompanharia o gado até Lisboa, e que quando o navio voltasse ali, um mês ou dois depois, o trariam de volta. Parecia bom tipo, o comandante. Teve o cuidado de avisar a tripulação para que deixassem o pastor em paz, e não o chateassem por causa do seu ar primitivo. É que alguns estranharam demais a sua tanga, os seus enfeites e hábitos, e exageravam um pouco na curiosidade. Levou algum tempo até aprenderem a respeitar aquele homem, que quase não falava, mas sorria para toda a gente e executava as suas tarefas de tratador de gado com um desvelo fora do comum. Ao fim de vários dias ainda ninguém o tinha conseguido convencer a largar os bois por uns momentos e subir ao convés a ver o mar. Os balanços e o enjoo eram tão estranhos para ele como para os seus companheiros de porão, e por isso mantinha-se junto deles com a única preocupação de lhes ir mudando a palha e providenciar água e ração quando era preciso. Esquecido de si, o que ajudava a suportar a viagem, quando podia parar uns instantes, encostava-se, fechava os olhos e adormecia. Só quando teve que deitar borda fora um bezerro que nasceu morto é que subiu ao convés. Uma vaca que vinha grávida, com os sobressaltos da viagem, tinha abortado. Fiel ainda tentou em desespero salvar o bezerro, mas não foi capaz. Com o animal sobre os ombros, todo ensanguentado, subiu as escadas de ferro e lançou-o ao mar. Agora havia que tratar da mãe. Lavou-se num balde com água do mar, e ainda ofuscado com aquela luminosidade tão intensa, pediu para falar com o comandante. Queria explicar-lhe o sucedido, e pedir uma garrafa de vinho, tinto, de preferência. Quando avisaram o comandante foi a risota geral.
Então vocês não percebem? Dizia um marinheito. A mim também, se me morre um parente, bebo para esquecer. E ria-se o alarve. Mas o comandante não se riu, e quis saber pormenores. Desceu ele próprio da ponte para se inteirar junto do Fiel, que lá explicou, que o vinho não era para ele, era para dar à vaca. Já tinha visto fazer o mesmo a uns brancos. Quando uma vaca estava fraca do esforço do parto, dava-se-lhe vinho para a animar, e costumava resultar. O comandante mandou buscar vinho da pipa da despensa e desceu com o pastor ao porão. Não que estivesse desconfiado, mas quis acompanhar aquele momento de perto. Era bom que os animais aguentassem a viagem toda com saúde... desde que não lhe bebessem o vinho todo, claro! Havia de se lembrar de escrever isto logo à noite no Diário de Bordo.
No dia seguinte voltou ao porão para verificar se a vaca estava de facto a arrebitar, e convidou o pastor a subir à ponte de comando com ele.
O Fiel olhava fascinado para todos aqueles aparelhos, sobretudo aquela roda gigante ali no meio, enquanto ouvia as explicações.
É com isto que se guia o navio, dizia o comandante. E ele sorria, sorria sempre que lhe falavam, com um sorriso tão espontâneo que mesmo se às vezes não entendia o que lhe diziam, desarmava qualquer animosidade que pudesse surgir. Sempre com os olhinhos a brilhar, olhava para tudo e bebia cada uma das palavras. As que conhecia e as outras. Essas procurava fixá-las, mais tarde viriam provavelmente a ganhar um significado. Tinha olhado pelas vigias para o mar todo à volta, e não vendo vestígios de terra, perguntou como é que o comandante sabia por onde estava a ir. Este tentava explicar-lhe quando se ouviu uma voz por cima das cabeças, e o Fiel assustou-se. O comandante riu-se e apontou para o pequeno altifalante no tecto Isto é a voz do maquinista que sai por aqui. Ele fala lá em baixo da casa das máquinas e nós ouvimos aqui, assim não precisamos de andar sempre a correr para baixo e para cima. Também podemos falar para ele, queres ver? Aproximou-se dos comandos, ligou um interruptor e disse-lhe que falasse, para o Gervásio o poder ouvir lá na casa das máquinas. O Fiel ficou hirto sem saber o que fazer, ou dizer. Mas... falar o quê? Perguntou hesitante, ele que só falava o mínimo indispensável, e só quando tinha alguma coisa para dizer. E o comandante insistiu: Diz qualquer coisa. E ele, quase em sentido, virado para o altifalante diz: Qualquer coisa! As gargalhadas do Gervásio, que rebentaram do outro lado, eram tais... Ó comandante eu não acredito! que este acabou por desligar o som para não deixar o Fiel ainda mais embaraçado. Ele próprio também morto de riso, passou-lhe um braço sobre os ombros e encaminhou-o para a mesa das cartas ali ao lado. Vem, vou mostrar-te onde é que nós estamos... nós estamos aqui. E apontava para um ponto sobre a carta, onde estavam escritos uns rabiscos a lápis. Estás a ver, isto aqui é a terra, Moçâmedes, nós partimos daqui. E apontava um outro ponto mais a baixo. Já fizemos este caminho todo. E seguia o risco traçado na carta a lápis, desde o porto, e ia assinalando as várias marcas ao longo do risco. Estás a ver? Aqui é um dia, dois dias, três dias de viagem... E o Fiel, já mais descontraído, olhava a carta e depois olhava o mar em volta. O comandante tirou de uma caixa uma bússola de mão e saiu com ela para fora da ponte. Chega aqui que vou mostrar-te. E com a bússola na mão, explicava. Estás a ver aqui esta seta? Ela aponta sempre para o mesmo sítio. Ali é o norte. E ia rodando devagar para um lado, depois para o outro, e era verdade, a seta apontava sempre na mesma direcção, a proa do navio, neste caso, por mais voltas que ele desse. O Fiel quis experimentar e pegou na bússola, primeiro a medo, e depois divertido. Ué! Parece feitiço. E ria-se nervoso enquanto rodava, uma vez e outra, e outra ainda mais bruscamente, a ver se conseguia enganar a seta. Mas ela lá voltava sempre ao mesmo sítio. Esses brancos... dizia com espanto, e lembrava-se de já uma vez ter visto uma coisa parecida na mão de uns engenheiros com quem se cruzou. Tinham aparecido num jeep à procura de um caminho, e já nessa altura ele tinha ficado curioso. Mas isso é quê, afinal? Perguntava, intrigado com aquele mistério. Isto é uma bússola, e aponta sempre para o norte. Ali à frente da roda do leme está outra igual a esta, maior, e é com essa que a gente sabe para onde leva o navio.
... e como é que ela sabe e aponta sempre no mesmo sítio? O comandante tentava encontrar uma explicação simples. Esta seta aqui é um íman que é atraído pelo pólo magnético que fica perto do... Não, esta explicação, que lhe parecia tão simples, talvez não fosse a mais adequada. Calou-se uns instantes, e depois recomeçou. Sabes, daqui ainda não se vê, mas mais alguns dias e eu mostro-te. Há uma estrela, que a gente chama de estrela Polar, e que está sempre no mesmo sítio, nunca muda. Há de se ver à noite ali à frente. E apontava para a linha do horizonte por cima da proa. O Fiel ouvia-o com atenção, tentando perceber. Já viste que de noite as estrelas vão andando devagarinho de um lado para o outro do céu, não viste? O outro abanava a cabeça que sim. Mas há uma, essa tal estrela polar, que nunca se mexe, não sai do mesmo sítio, fica lá sempre no cimo da terra, que nós chamamos o Norte. Assim que ela aparecer no céu, daqui a uns dias, eu mostro-te. E houve uns homens antigos que descobriram que este metal, uma espécie de ferro, está sempre a apontar na direcção dessa estrela. Percebes? Ele dizia que sim com a cabeça, mas com pouca convicção. E depois de pensar um pouco perguntou. Mas então pra ir no "puto" é só seguir onde a seta diz? E o comandante concordava. É mais ou menos isso. Como estamos a navegar para norte, e a seta aponta para o norte... E o Fiel, que parecia ter descoberto a pólvora. Ah! Mas afinal é fácil, então. E calou-se por uns momentos pensativo para depois retomar o raciocínio. Mas então... e quando estás a vir do puto para cá? Perguntava intrigado. Aí a seta aponta para trás, disse o comandante. E como é que vais saber então aonde estás a ir se a seta aponta para trás? Tinha lógica. Olha Fiel, como tu vais voltar depois connosco lá da Metrópole para Moçâmedes outra vez, aí eu explico-te. Combinado? E vais ver daqui as uns dias, assim que ela aparecer eu mostro-te, a tal estrela Polar. O Fiel preparava-se para sair, mas lembrou-se, e apontando para a carta que tinha estado a ver há pouco, perguntou se podia voltar a ver. Espera, que eu tenho aqui outra melhor. E tirou de uma gaveta larga uma outra carta que põs por cima da primeira. Esta é melhor, olha aqui. Aquela de facto era diferente, além do mar e da linha da costa, tinha também um grande pedaço para o interior do território. Estás a ver Moçâmedes aqui? A tua terra é onde... como é que se chama a tua terra? E o Fiel, olhando com muita atenção para a carta, disse baixinho. Virei. O quê? O comandante não tinha percebido bem. A minha terra é no Virei. Naquele imenso deserto, além de duas pequenas cidades, só havia mais meia dúzia de pequenos povoados, e por acaso lá estava, uma letra pequenina e um pontinho no mapa. É isto aqui. E com um dedo por cima o comandante indicava o sítio, no meio do deserto, talvez a uns duzentos quilómetros do mar. Isto aqui é Moçâmedes, ali fica Sá da Bandeira, estás a ver? E esta linha aqui é a linha do comboio onde tu vieste com os bois na outra noite. O Virei é aqui mais em baixo. E o Fiel inclinava-se sobre o mapa a tentar vislumbrar algum pormenor, alguma coisa que conhecesse, e parecia um pouco desapontado. Mas não disse nada. Aqui parece perto... mas é looonge! Foi a única coisa que disse, prolongando o "ó" para sublinhar a distância. Agradeceu a visita ao comandante, e voltou para junto dos animais.

O cozinheiro, depois de lhe ter passado o enjoo inicial, insistia com o Fiel para que viesse comer à cantina junto com ele e com os outros, até tinha sido uma ordem do comandante, dizia ele. E depois de alguma resistência, ele lá acabou por ir. Mas só foi uma vez. Achou tudo muito barulhento. Falavam todos muito depressa, e todos ao mesmo tempo, enquanto comiam, e ele não percebia nada. Riam-se por ele comer com as mãos e de outras coisas que ele não percebeu nem se interessou por perceber. A partir daí, preferiu continuar sossegado no seu canto. Passou a ir à cozinha quando só lá estava o cozinheiro, normalmente a meio da manhã enquanto preparava o almoço. Bebia uma chávena de café que ele lhe oferecia e, quando calhava, ajudava-o a descascar as batatas. Quanto tempo faltaria ainda para chegar ao puto?

Nos trópicos anoitece cedo, e um fim de tarde em que o cozinheiro regressava à cozinha depois de ter estado a ajudar o Fiel a mudar a palha do gado, subiram juntos ao convés e ficaram a ver o pôr do sol encostados à amurada. Deviam estar por alturas do equador e era época de grandes calmarias. O navio seguia sem balanços num mar chão, e a única brisa era a provocada pela deslocação do navio. Com o cair da noite o tempo refrescava um pouco e o cozinheiro perguntou-lhe se ia desembarcar em Lisboa assim como andava, quase sem roupa. Fiel só tinha em volta da cintura uma coisa que o outro não percebia bem se eram uns calções, se uma tanga, se quê. Além disso lá na Metrópole faz frio, não é como África, insistia ele.
Na minha terra à noite também é frio... Tenho casaco. Tinha de facto trazido um velho casaco já muito cossado, que lhe dava pelos joelhos. Mas aquilo não chega, não trouxeste mais nada? Nem sapatos... O outro não parecia dar muita importância ao assunto e continuou a olhar o mar com o nariz apontado ao vento. Era bom sentir aquele cheiro novo e húmido que não conhecia. Mas o que o maravilhava mesmo, era quando conseguia ver um peixe voador. Aí parecia uma criança. Ué! Olha só ali! E apontava e ficava a segui-lo fascinado até que ele mergulhasse de novo no mar.

Os dias passavam e o Fiel estava a ficar preocupado com a saúde dos animais. Alguns deles não comiam e estavam a ficar muito enfraquecidos, receava que começassem a morrer. Pediu que avisassem o comandante, e este foi pessoalmente ver o que se passava. Mostrou-lhe algumas vacas muito magras e prostradas que, por muito que se insistisse, se recusavam a comer. Porque seria? Talvez a tristeza, dizia o Fiel. Mas o comandante não ia nessa da tristeza, e pensava se não poderiam estar ali com alguma doença. Resolveu perguntar via rádio para S. Vicente, em Cabo Verde, que era o próximo porto por onde iam passar, se havia algum veterinário na ilha que pudesse vir ver os animais a bordo, logo que chegassem. E foi isso que aconteceu. O veterinário viu os animais no porão e descansou o comandante e o pastor. Não era nada de grave, dizia ele, era apenas devido às condições do transporte. Muito calor, pouco arejamento e desidratação. Não havia nada a fazer, a não ser fazer com que os animias bebessem muita água. E esperar. Esperar sobretudo que a viagem não levasse muito tempo.
O tempo ia arrefecendo aos poucos, conforme avançavam para norte, o que era bom para os animais, e o Fiel cada vez com mais frequência, quando subia ao convés, trazia vestido o seu casaco.
Epá! Hoje o Fiel vem vestido a rigor, trouxe o fraque, parece que vai à ópera. Quando chegares assim vestido ao Cais do Sodré vai ser um sucesso. Riam-se os marinheiros e ria-se ele também, que não percebia o sarcasmo.
Uma manhã, quando entrou na cozinha para tomar o café, tinha uma surpresa à sua espera. Isso é para ti, disse-lhe o cozinheiro apontando para um embrulho a um canto. Vê lá se te serve. O Fiel pegou no embrulho, curioso, e com muito cuidado desembrulhou. Era uma trouxa de roupa. Viu primeiro as calças, que segurou com os braços esticados à frente, olhando admirado, e depois uma camisola de lã, e mais uma camisa, e um par sapatos.
Ué, mas então... E ia revirando as peças uma a uma, até que às tantas, quando pegou nos sapatos e os colocou no chão, levantou-se e comparou. Foi aí que o cozinheiro pela primeira vez reparou. Quando olhou para aqueles pés, que nunca na vida tinham calçado um sapato... e viu a desproporção. Aquilo não eram pés, aquilo mais pareciam barbatanas. Eram uns pés larguíssimos, com umas solas curtidas por muitos anos e muitos quilómetros palmilhados. Epá, não vai ser fácil encontrar uns sapatos para ti. Não tinha pensado nisso.

Na tertúlia do Hotel Moçâmedes, na altura comentou-se bastante a ida do pastor Mucubal à "Metrópole", e agora era grande a curiosidade pelas peripécias por que teria passado um tal personagem em Lisboa. Talvez por isso, cerca dois meses depois, quando se soube que o navio que o levara estava de volta, o comité de recepção que se juntou no cais à espera para ver o Fiel não era muito diferente do que seria se estivesse a chegar o Presidente da República. Estava lá toda a gente, e não foram defraudados. É que o nosso homem, não por adivinhar a recepção, mas provavelmente por ter pressa de se pôr a mexer dali para fora, vinha logo à proa do primeiro escaler que veio a terra. E o comandante também vinha, fez questão de o acompanhar na despedida, talvez pressentindo que uns anos mais tarde se recordaria daquele passageiro como um dos mais ilustres que alguma vez teve a bordo. O Fiel vinha descalço, como sempre, mas para espanto de todos, vinha com um fato vestido, com gravata e tudo. Um bocado tosco, é verdade, mas digno, e sobretudo bem disposto. Nunca até hoje acreditou que aquela gente toda que ali estava era por sua causa. Só ficou um pouco embaraçado quando começaram a bater palmas e a gritar o seu nome quando saltava para o cais, mas disfarçou... estavam contentes, era normal, ele também estava contente por voltar à terra. Estenderam-lhe a mão para o cumprimentar, e ele deu alguns apertos de mão, sem saber a quem, sempre a sorrir. E quando alguém perguntou:
Então Fiel, o que é que achaste lá de Portugal? Gostaste? O Fiel, muito direito, com o seu ar de sempre, pensou um pouco, e antes de se virar para se ir embora à sua vida, respondeu: Aqueles brancos, lá em Portugal, cagam dentro de casa!

"Puto" era uma expressão que se usava na época para designar Portugal, a Metrópole.

5 Comments:

Blogger Filipe said...

Batota!

1:18 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É batata. Perdeste!

2:21 da tarde  
Blogger Mankakoso said...

Êwê!!!! No puto (mulóia, mutrulha, tuga, etc.) kem deu kartas foi u nossu Man'torras!!!! Sem batotas lhi xutou num golu direitamente na xipala du tala holandês!!!
Kandandu mô bróda Lusófolo!!! (ou ainda Lusofolião)

1:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vai continuar a partilhar connosco estas histórias notáveis? É assim que se faz a História de um tempo.
Agora já estou a exigir.

2:30 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

veal weblogs depression commits mentors undermined frame tank heading acceleration daylong
lolikneri havaqatsu

7:50 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home