sexta-feira, outubro 28, 2005

Avós


Pergunto-me se estas quatro crianças, aqui ao colo do avô numa foto do Expresso, terão conhecido o outro avô. É que esse ainda era mais engraçado. Era empresário de espectáculos, empresariava artistas, pode até talvez dizer-se que a "kizomba" e o "kuduru" não seriam o que são hoje se não fosse o gosto musical e o faro empresarial desse homem. De entre os vários artistas que tinha "em carteira", havia uma pérola rara, um homem que se tem vivido nos States provavelmente tinha morrido rico e famoso, e com milhões de discos gravados. Mas este nascera em Angola, chamava-se Minguito, e era cego. Quem tenha vivido em Luanda nos anos sessenta lembrar-se-á dele com certeza. Com a sua concertina, o Minguito a tocar música de "Rebita" levantava as plateias dos subúrbios quando queria, bastava estar inspirado. Espectáculo com ele em cartaz era sucesso garantido. E o Minguito tinha um sonho, que era um dia vir actuar a Portugal. Já outros o tinham feito, porque não ele? Seria a consagração suprema. Eduardo Nascimento (num estilo mais modernaço) tinha há pouco ganho o Festival da Canção, e o Ouro Negro (uns anos antes) até acabou por ficar por cá. Naquela altura, para um artista angolano, Lisboa era o Mundo.
Uma história que se contava em Luanda, era que o Minguito tanto insistia, tanto insistiu com o seu empresário, que um dia este resolveu fazer-lhe a vontade. "Minguito, temos finalmente um espectáculo em Lisboa. Prepara as tuas coisas". Daí a uns dias levou-o ao aeroporto, alugou um táxi-aéreo, meteu-se com ele no avião, deram umas quantas voltas no ar... e depois levou-o a uma das salas de Luanda onde tinha um espectáculo já marcado. Diz quem viu que foi um espectáculo memorável, com o público a aplaudir de pé... e que o Minguito até chorou!