domingo, agosto 28, 2005

Azedar

Manuel Alegre escreve no Expresso que não acredita que o povo português tenha entrado num processo regressivo, como o daquelas tribos de que fala Levi-Strauss em Tristes Trópicos. "Um país não se suicida", diz ele. Pois eu não tenho tanta certeza disso. Trocámos as nossas pescas, a nossa agricultura, e tudo o mais que era o nosso ganha pão e a nossa dignidade, por uns cobres vindos da Europa para nos "modernizarmos", e afinal ficámos foi com uma rede de estradas e um porto gigantesco em Lisboa que desfigura completamente a cidade e que se tornou no principal porto da península Ibérica. A Espanha recebe e exporta os seus contentores pelo centro histórico da nossa capital, enquanto nós ficamos de mão estendida à porta a receber a gorjeta. Por tudo e por nada enchemos a boca com uma história de novecentos anos, mas não temos prespectivas para o futuro. Não temos nada para a troca a não ser o turismo e as praias. Podiamos aproveitar, agora que já ardeu quase tudo, para terraplanar e betonar o resto que falta e transformar isto num imenso parque de estacionamento para os turistas. Talvez os países não se suicidem mas tenham um prazo de validade. Este começa a azedar.