tag:blogger.com,1999:blog-63406472024-03-23T18:14:14.303+00:00lusofoliaO último a sair que apague a luz e feche a porta
<img src="http://bp2.blogger.com/_wfoAcNot-HY/SB62ju_ADhI/AAAAAAAAA40/WqGaYLc-rPU/s400/Porto+Maputo.jpg">Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.comBlogger2554125tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-17832503075921091142014-07-04T06:43:00.003+01:002014-07-04T06:43:43.803+01:00Ideias para melhorar o estado da nação<div class="container">
<div class="titulo">
<br /></div>
<div class="texto">
<span class="capitular">Q</span>uando nos perguntamos
pelo estado da nação, por mais voltas que demos, é difícil evitar dizer
que vai mal. Já esteve pior. Há progressos. Números menos maus. O
desemprego desce, mas o emprego não sobe. O horizonte continua demasiado
incerto. Portugal mingua de gente, sobretudo dos mais novos. Nestes
tempos sombrios, mais do que acentuar a pouca luz, talvez valha a pena
alinhar algumas ideias que podem melhorar o estado da nação:</div>
<div class="texto">
<strong>1.</strong> Reduzir prazos. O Presidente da
República devia antecipar as eleições legislativas para o início do
próximo ano. O país corre o risco da paralisia política e económica se o
calendário se mantiver. Uma antecipação permitiria a formação de um
governo antes do chefe do Estado ficar tolhido pelas presidenciais.
Permitiria também um Orçamento do Estado de 2016 concebido a tempo e da
responsabilidade do governo que terá de o executar.</div>
<div class="texto">
<strong>2.</strong> Reduzir prazos. Os prazos
eleitorais, para a formação de governos ou para a apresentação e
discussão de programas, orçamentos… são de um exagero comprovado,
lamentado, mas nunca alterado. Não quererá o Presidente tomar a
iniciativa?</div>
<div class="texto">
<strong>3.</strong> Reduzir prazos. A resolução da
crise de liderança no PS tem um prazo absurdo. E não estou certo de que a
crise esteja resolvida no dia 28 de Setembro, data do referendo para o
candidato a primeiro-ministro… Um partido que ocupa meses e meses para
resolver os seus problemas internos não dá grandes garantias ao país. O
PS faria bem em olhar para o seu irmão PSOE. Em Espanha, o mês de Julho é
suficiente para fazer uma campanha interna, eleger o secretário-geral e
fazer um congresso extraordinário.</div>
<div class="texto">
<strong>4.</strong> Reduzir prazos. Num país tão
necessitado de investimento interno e externo, os prazos para
licenciamento de projetos são intermináveis. Dezenas de pareceres, uns
com prazo, outros sem prazo… convites à corrupção ou à desistência. Será
tão difícil exigir prazos, encurtar prazos e o seu cumprimento?</div>
<div class="texto">
<strong>5.</strong> Acabar com o discurso de cortes e
mais cortes orçamentais que raramente correspondem à realidade, seja por
excesso, seja por defeito. Falta critério, rigor, sentido estratégico.
Sobram casuísmo e voluntarismo. Trocam-se cortes por cortes sem que
correspondam a transformações estruturais com coerência global. Depois
admiram-se com o Tribunal Constitucional…</div>
<div class="texto">
<strong>6.</strong> Acabar com o discurso
grandiloquente do admirável mundo novo a que chegámos ou a que vamos
chegar. Esperança sim. Eufemismos não. Prometer «pleno emprego» e
«multiplicação de oportunidades» é capaz de ser um pouco exagerado… Tal
como prometer aumentos salariais, reduzir impostos e acabar com cortes,
sem mais.</div>
<div class="texto">
<strong>7.</strong> Acabar com o PBEC, processo de
burocratização em curso. Falar em qualidade do atendimento, dinamização
de lojas do cidadão ou em chaves móveis digitais quando fecham postos de
atendimento e crescem filas à porta de serviços públicos é uma
provocação insuportável. A crise fez aumentar a burocracia, quando devia
ter acontecido o contrário. Sempre que consulto o meu médico de família
ele tem menos tempo para falar comigo e me olhar nos olhos. O
computador e os formulários ocupam-lhe cada vez mais a atenção.</div>
<aside class=" ">
<strong>8.</strong> Acabar com as querelas
constitucionais artificiais. Se a Constituição da República tem de ser
alterada, apresentem-se projetos de revisão, discutam-se e aprovem-se.
Até lá, cumpra-se a Constituição.
</aside><div class="texto">
<strong>9.</strong> Investir na previsibilidade. O
mundo já é, por natureza, demasiado incerto para nos darmos ao luxo de
acrescentar incerteza sem justificação. Não poderemos ser mais
previsíveis na fiscalidade, na justiça (tantas vezes desesperadamente
prescrita), nos programas escolares, na avaliação, na regulação?...</div>
<div class="texto">
<strong>10.</strong> Investir na ciência e na inovação.
É por aqui que podemos dar saltos qualitativos de desenvolvimento. As
alterações introduzidas nas políticas governamentais contrariam as
orientações que possibilitaram os bons resultados dos últimos anos.</div>
<div class="texto">
<strong>11.</strong> Ter voz ativa na União Europeia.
Procurar alinhamentos úteis. O discurso do primeiro-ministro italiano
Matteo Renzi, esta semana no Parlamento Europeu, merece apoio. E
consequência. A paralisia apenas nos aproxima do abismo. Já chega!</div>
<div class="texto">
(AntónioJosé Teixeira-Expresso) </div>
</div>
Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-72216949815764138802014-06-10T09:23:00.001+01:002014-06-10T09:23:41.205+01:00Mia Couto e Águalusa<span lang="PT"></span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">“Muxima” é a palavra que em quimbundo designa
“coração”. E “amigo”, como se diz? Que palavras dizem a amizade de José Eduardo
Agualusa e Mia Couto? Alguns pontos de uma genética comum: livros, identidade,
a vida secreta das plantas, as cores que temos e que uma menina de quatro anos
vê e um adulto não vê. Mas esta é a maneira poética de ler as suas vidas. Falta
a guerra, as guerras, a procura de respostas, o empenhamento cívico e político.
A felicidade que floresceu na infância, apesar do horror.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Pub</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">São criaturas de fronteira.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia Couto, nascido António, em Moçambique, já
disse de si: “Sou um branco que é africano; um ateu não praticante; um poeta
que escreve prosa; um homem que tem nome de mulher; um cientista que tem poucas
certezas na ciência; um escritor numa terra de oralidade.”</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">José Eduardo Agualusa é um “angolano em
viagem, quase sem raça”. Se a raça vier do ar e do chão, é da raça dos pássaros
e das árvores.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">São amigos há tanto tempo que parece uma
amizade de sempre. Têm percursos quase coincidentes, apesar da especificidade
das suas histórias e da dos seus países. Mia nasceu em 1955, Agualusa em 1960.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Nesta semana, Agualusa lançou o romance
histórico Rainha Ginga — E de como os Africanos Inventaram o Mundo. Mia fez a
apresentação.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">A entrevista foi na casa de Agualusa. Mia, não
surpreendentemente, estava em casa. É preciso dizer que se riem muito. Um do
outro, de si próprios, de imbecilidades (a palavra é deles). Os risos são muito
mais recorrentes do que aqueles que são anotados no texto. Porquê? Deve ser da
graça que encontram no mundo. (Graça no dicionário: mercê, benefício, dádiva;
benevolência, estima, boa vontade; beleza, elegância.)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Qual é a palavra de que mais gosta em
quimbundo? Pode ser pela sonoridade ou pelo conteúdo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Sou da zona do umbundo, o Huambo. O
quimbundo tem uma tradição escrita que o umbundo não tem. Ainda cheguei a
aprender quimbundo. É mais fácil responder em umbundo: ombembua. Significa
“paz”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">O som de ombembua faz-me pensar numa nuvem.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Flutua.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — É uma língua inventada pelos
pássaros.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — É piado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia, o biólogo e inventor de palavras, fala a
língua dos pássaros? Qual é a palavra de que mais gosta num dialecto
moçambicano?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Estou a aprender aquilo a que
presunçosamente chamaria “a língua da vida”. O que me apaixona na Biologia é a
parte linguística, não é a parte científica. No sentido de decifrar códigos. Há
linguagens que estão ali, presentes, e a gente está surda. E cega.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Por exemplo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Fui-me apercebendo com mais clareza como
é que as plantas dizem coisas. Têm de as dizer porque têm relações simbióticas
com pássaros, com morcegos, por causa da polinização. Quando um fruto muda de
cor, está a dizer que aquele é o momento. Está a falar connosco. Isso, o
cheiro, são formas de diálogo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — O fruto é mesmo para ser colhido e
disseminado. Diz: “Vem comer-me e propaga-me.” Concordo com o Mia. Pensamos que
as coisas estão ocultas, os grandes segredos, e está tudo à luz do sol. Não
somos capazes de ver. As crianças muitas vezes vêem.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Os adultos não vêem?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Nalguns casos, vêem à medida que
envelhecem. As crianças vêem o evidente. Costumo contar uma história da minha
filha, de quando era bem pequenina. Uma senhora fez-lhe uma pergunta muito
idiota. “De que raça és tu?” Ela não entendeu. Não tinha sequer o conceito de
raça. A senhora tentou corrigir a pergunta, errando ainda mais. “De que cor és
tu?” A minha filha olhou muito espantada. “Mas tu não vês que sou uma menina?
As meninas são pessoas. As pessoas têm cores diferentes. A minha língua é
vermelha, os meus dentes são brancos, o meu cabelo é castanho.” Temos todas as
cores. É preciso uma criança de quatro anos para dizer o óbvio.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Como é que perdemos a capacidade de ouvir,
ver, ler o mundo? Tem que ver com a perda da inocência? Junto a experiência do
medo. Eram muito jovens, um e outro, quando viveram a guerra dos vossos países.
Não consigo imaginar o que é ter 15 anos e ter a guerra a rebentar à porta. Ou 22.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Éramos mais novos. Eu nasci com a
guerra, em 1960.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">A guerra fratricida começa mais tarde, quando
está na adolescência. Aquela que está lá, antes disso, é a guerra colonial.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Tenho a noção da presença da guerra
no meu quotidiano desde sempre. A questão é essa: quando temos desde sempre,
também olhamos para a guerra de uma outra maneira. O meu pai trabalhava nos
caminhos-de-ferro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — O meu pai também.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — O meu pai começou a dar aulas às
populações ao longo da linha do caminho-de-ferro. Tinha um vagão especial, com
uma sala de aulas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span>
</span>Tenho a noção da presença da guerra no meu quotidiano desde sempre. A
questão é essa: quando temos desde sempre, também olhamos para a guerra de uma
outra maneira</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span> </span>José
Eduardo Agualusa</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Como era o vagão?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Muito bonito. A companhia era
inglesa, vagões em mogno, com salões, quartos. Tinha um quarto para mim e para
a minha irmã, com beliches. Havia um cozinheiro, uma cozinha, sala de jantar.
Nas férias, acompanhávamos o meu pai. Lembro-me muito bem de o comboio ser
atacado. Várias vezes. Descarrilavam os comboios, et cetera. O caminho-de-ferro
de Benguela era a principal empresa, na época. Portanto, um interesse
estratégico. Tu deves ter sentido o mesmo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Sim.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Toda a minha infância teve a guerra
como pano de fundo. Não estava dentro das casas. Estava ali ao lado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — A guerra que não está ao lado de casa
chega através de vozes e de histórias. Coisas que assumem um carácter
ficcional. Com nove anos, ouvia falar do que se passava na guerra de libertação
nacional.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Além da guerra, estava lá desde sempre o
quadro colonial.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — A violência, a injustiça
colonial... Se eu, uma criança privilegiada, fui afectado por isso (são
memórias que tenho até hoje), imagino o menino...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — ... que sofria do outro lado do muro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Custa-me muito ouvir um certo
saudosismo colonial. O discurso do retornado com saudade de África. Como se
fosse um paraíso intocado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Como se fosse diferente. [Porque] “os
portugueses nunca fizeram como os outros”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Era uma sociedade profundamente
distorcida, e só não via quem fosse completamente cego. Era explícito para uma
criança de poucos anos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Não era preciso que lhe explicassem ou
chamassem a atenção?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Não.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Estava exposto. Era obsceno.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — O sentimento de inocência, ali,
perdia-se rapidamente.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Antes da guerra, percebíamos a
violência colonial, a injustiça colonial.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Era uma discriminação de que tipo, para
começar?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — De todo o tipo. O colonialismo é
feito com pessoas. Pessoas boas e pessoas más. Os sistemas maus puxam pelo pior
das pessoas. O sistema colonial é um sistema de dominação. Se não, não é um
sistema colonial. E a qualquer reacção, a pessoa era considerada terrorista.
Ouvi “terrorista” ou “turra” contra pessoas que não eram nem estavam ligadas ao
movimento nacionalista. Eram simplesmente pessoas que contestavam uma
injustiça.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span>
</span>Precisamos de ter medos porque os medos nos conduzem. É um alerta, um
sistema de avisos. O problema é quando os medos nos dominam, nos paralisam</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span> </span>Mia
Couto</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Conte-me da sua experiência em Moçambique.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — É muito semelhante. Vivia numa cidade,
que, sendo a segunda de Moçambique, era pequena. Na Beira, esse carácter
colonial estava tão à flor da pele que ninguém teve de me explicar nada. Quando
tenho consciência do mundo e tenho de tomar partido, já sabia quem eu era e o
que é que ia fazer.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Militou na Frelimo muito cedo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Quando vou para a universidade, com 17
anos, sabia que não ia estudar. Sabia que ia aderir ao movimento de libertação
nacional. Não porque tivesse sido doutrinado. Mas por aquilo que vivi. Sabia
que queria fazer uma ruptura completa com o passado. Devo dizer uma coisa: fui
muito feliz nesta infância. Tive uma infância infinita.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Como é que se inventa esse espaço para a
felicidade?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Porque se cria. Porque as coisas
acontecem assim. Mesmo durante o período de maior violência, pode-se ser feliz.
Também fui muito feliz na infância.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Imagina que era outro tipo de
violência... O espaço da minha casa era de grande afecto.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — O da minha casa, também.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Se calhar era pior ter a experiência da
violência interna, dentro de casa.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Com certeza. Fui muito protegido.
Tive uma família sem... história.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Parece uma coisa terrível, uma família sem
história. E afinal não.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Antes isso do que uma história sem
família.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Já voltamos à felicidade na infância. Antes:
sentia discriminação pelo facto se ser branco?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Sim. Havia várias discriminações. Na
cidade, circulavam autocarros. Na África do Sul, estava escrito “Negros/Não
Negros”. Ali não estava escrito, mas era assim que se vivia. Não era preciso
escrever. Estava escrito dentro da cabeça das pessoas. Sabia-se que um negro
nunca podia sentar-se no banco da frente. Havia um banco traseiro, corrido, que
era o lugar onde ficavam os negros. Outra discriminação: não havia “os
brancos”. Havia os brancos de primeira e os brancos de segunda. Os brancos de
segunda (era o meu caso) nunca poderiam chegar a chefe da função pública.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Tinha que ver com dinheiro e status, essa
discriminação?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Tinha que ver com nascimento, com os que
já nasciam na colónia. Esses eram os brancos de segunda classe.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Isso chegou a ser uma coisa
instituída. Havia os assimilados, os brancos de segunda, os brancos de
primeira.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Os assimilados eram portugueses de pele
preta.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Era uma coisa horrível! A pessoa
tinha de provar que comia de garfo e faca.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Além das boas maneiras, tinha de ser
católico, monógamo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">A marca do dinheiro era notória? Havia
colégios em Moçambique frequentados por portugueses brancos e goeses. A
distinção aí não era em função da cor.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Mesmo entre os goeses havia uma
discriminação enorme. O goês tinha direito a pertencer a um certo clube social
em função da sua casta. Havia vários clubes. Bastava dizer: “Sou do clube
indo-português”, e sabia logo qual era o estatuto social daquele fulano.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — É legítimo pensar (é o pensamento
comum) que em Moçambique havia mais discriminação (não instituída, mas havia)
do que em Angola?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Não sei comparar, mas acredito que sim.
Por causa da influência directa da África do Sul e da Rodésia.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Um momento de felicidade da infância: que é
que primeiro vos ocorre?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Não tive momentos. Tive imensos
momentos. Tinha um quintal enorme. Cães. Brincava muito sozinho. Inventava
mundo sozinho. O meu espaço de felicidade era esse quintal. Além disso, a minha
casa era o limite da cidade. À frente, não havia nada. Vivi nesse infinito. Fui
uma criança com um pé no asfalto e um pé no mato.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Sabes, a varanda colonial que circundava
a casa e que fazia a transição? Nunca percebi bem o que era o dentro e o fora.
Havia uma porta de rede, batente. Sabíamos que saímos de casa porque ouvíamos
aquela porta bater. Nunca percebíamos se estávamos dentro ou fora. Foi uma
coisa muito mágica.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Isso dura até quando? O que caracteriza essa
noção de infinito, o não haver barreiras, é a ausência de medo, de ameaça. Ou
não?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Ausência de medo é uma coisa que
funciona bem para caracterizar aquilo. Não?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Não estou seguro. A minha filha
diz-me uma coisa sobre o ser criança. Primeiro, há sempre alguém que manda em
nós. Crescer é deixar de ter alguém a mandar em nós. Ou ter menos pessoas a
mandar em nós. Diminui a cadeia de comando. A outra coisa é o medo. O medo está
muito presente nas crianças. Vamos perdendo medos à medida que crescemos. Não?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Vais mudando de medos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Não sei se não vais mesmo atenuando
os medos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Tínhamos medos. É melhor confessar!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Tínhamos medos e éramos felizes!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Eram medos domesticáveis. Medo do
escuro. Vinguei-me quando fiz um primeiro livro para crianças [O Gato e o
Escuro]. O medo cumpre a função de primeiro grande conselheiro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Não entendo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Precisamos de ter medos porque os medos
nos conduzem. É um alerta, um sistema de avisos. O problema é quando os medos
nos dominam, nos paralisam.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Tive uma professora especial, de
uma família nacionalista, uma senhora de grande coragem. Não tive de aprender a
geografia ou a história portuguesas. Não tínhamos Salazar na parede.
Estudávamos poesia angolana. Ela criou o seu próprio programa de ensino. Em
contrapartida, era muito violenta. Vivia no terror de ir ao quadro. Passámos
tormentos que hoje seriam impossíveis.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Fez alguma redacção, para essa professora ou
outra, de que se lembre especialmente? Em relação à qual tenham dito: “Que bem
escreve.”</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Não tenho a menor ideia. Era
considerado um mau aluno. Estava na chamada fila dos burros irrecuperáveis.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Nunca teve essa ideia de si próprio, pois não?
A sério.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Não me achava muito inteligente. A
minha irmã era muito mais inteligente do que eu. Fazia tudo mais depressa,
melhor.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Eu também vivi essa situação.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Estão a fazer género, os dois.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa e Mia — Não! [gargalhada]</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Fui melhorando. Eu era feliz em
casa. E inventava.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Inventava dentro da sua cabeça ou já
escrevendo alguma coisa? Quando pergunto por uma redacção, tento compreender
quando estabelece uma relação com a palavra escrita.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Mais tarde, muito mais tarde. É
preciso ler muito [para escrever].</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Como foi consigo, Mia?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Era mau aluno e a escola foi penosa.
Apurei o sentido de não estar no lugar [onde efectivamente estava] na escola.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Eu também!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Isso foi uma escola fantástica. De
alheamento. Com os olhos abertos, fingindo estar atento. É uma coisa que
procuro ensinar aos meus filhos: a capacidade de não estar.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — É uma coisa de budista avançado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — A escrever comecei cedo. A única coisa
que me salvava de ter nota negativa a Português era a redacção.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — A minha mãe era professora de
Português. Tinha muitos livros em casa. Também devias ter. O teu pai era poeta.
Não me proibiam o acesso aos livros. Lemos os livros que podemos ler. Pegamos
num livro e percebemos se é para nós ou não. Tento fazer isso com os meus
filhos. Li dicionários e enciclopédias. Tenho ali dois tomos de uma
enciclopédia que os meus pais me deram há pouco tempo, porque eu tinha muitas
saudades daquela enciclopédia, uma Lello Universal. [Levanta-se e vai buscar.]</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Edição dos anos 1930, com figuras, capa dura.
Linda.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Nesta enciclopédia, o Fernando
Pessoa tinha morrido há pouco tempo e só tem direito a duas linhas. Para se ver
que não lhe davam muita atenção. O Hitler ainda é tratado com benevolência.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">E assim se aprende o mundo. Ando às voltas
para tentar saber de onde vem o vosso mundo fantástico.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Posso contar uma história da escola?
Tinha um professor magro, alto, que um dia leu uma redacção que fez. Era uma
redacção para a mãe dele. Sobre as mãos da mãe dele. Comoveu-me tanto. Era
estranho. Ele também estava comovido. Tinha uma relação de paixão com o texto.
Falava das mãos da mãe como eu pensei que podia falar das mãos da minha mãe. As
mãos da mãe dele só tinham marcas. Do tempo, do trabalho. Aquilo foi importantíssimo.
Aquele professor ficou um menino frágil.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Esse professor era o Zeca Afonso? Sei que foi
aluno dele.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Não. O Zeca foi meu professor por um
período curto de tempo. Foi substituir a minha professora de Geografia. Toda a
gente o considerava um óptimo professor. [Em surdina] Eu achava-o péssimo. Mas
era divertido e ensinava outras coisas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">O vosso mundo fantástico, poético, o talento
para ver a realidade nos seus aspectos mais espantosos, e a converter em
palavras, de onde vem?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — É difícil falarmos de nós próprios. Vem
de várias coisas. Por exemplo, sou de uma geração educada a ser homem, macho.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Quais eram os códigos?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Um homem não chora. Um homem não
confessa certo tipo de sentimentos. É duro. A relação com o lado sentimental
era diferente desta que tomei para mim. Quando se escreve e se tem de ser
mulher e ser outro, dentro de nós há uma briga. Há uma ousadia que é preciso
ter. A capacidade de nos aceitarmos múltiplos, plurais, é um bom ponto de
partida para escrever.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Não sei dizer. Talvez tenha que ver
com essa infância.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Posso dizer o que é que ele tem de
especial?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span> </span>De
repente, as palavras organizam-se, há uma luz ali, os personagens começam a
desenhar uma história. É como ler. Mas sou eu que estou a fazer. É um duplo
prazer. É um mundo que vai nascendo de dentro de nós</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span> </span>José
Eduardo Agualusa</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Pode. É capaz de ser mais fácil falarem um do
outro. Verem-se de fora.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Ele é uma criatura de fronteira. Alguém
que esteve entre mundos e que não quis nunca construir um lugar físico. Vive em
histórias permanentemente. A moradia dele não é um lugar e um tempo. O tempo só
serve para a travessia, para a viagem. E nunca está em lado nenhum. Está aqui
mas está a fingir que está aqui. [Gargalhada de Agualusa.] Estando nós a viajar
no meio da Ucrânia ou num musseque em Angola, ele está sempre na criação de
histórias. Não tem um onde.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Na minha família, toda a gente
contava histórias. Toda a gente queria contar as melhores histórias.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia, esperavam de si grandes histórias,
grandes coisas?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Eu era o mais desvalido da casa. Era o
pasmado, o que não sabia fazer coisas práticas. Tinha de haver um território
onde dissesse — onde disséssemos — que somos visíveis.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — [Contar histórias] é uma afirmação
identitária. O que é importante no nosso caso, tu como moçambicano, eu como
angolano, é que na escrita há uma afirmação identitária.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Começa por ser isso. Depois já não
queremos saber disso.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — O meu primeiro livro, A Conjura, um
romance histórico sobre o século XIX, é claro para mim que surge como afirmação
identitária. Depois é como o Mia diz. A gente toma o gosto naquilo. E vai.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Resolver e afirmar uma identidade, através da
escrita, é também uma maneira de suturar feridas?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Afirmação identitária mesmo. Um
modo de dizer: “Estou aqui neste país e sou angolano desta maneira.”</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">E a ferida? Não havia como não estarem em
ferida, doridos, quando começaram a escrever. O fim da guerra, das guerras, era
recente. A escrita ajudou a organizar o mundo?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — A ideia de alguém ter uma ferida
particular... Todos temos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — A escrita ajuda sempre. A escrita é
um processo de reflexão. Ajuda-nos a situar-nos naquele momento, naquele universo.
Depois vem a fruição, o prazer de que falava o Mia. Escreve-se pelo prazer que
a escrita dá.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Descreva.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — É muito bom. Tem aquela coisa da
descoberta, certo, é um exercício de alteridade, maravilha, compreende-se
melhor o outro e compreendemo-nos melhor a nós, verdade. E, além disso, e o
mais importante não é nada disso, há o prazer. De repente, as palavras
organizam-se, há uma luz ali, os personagens começam a desenhar uma história. É
como ler. Mas sou eu que estou a fazer. É um duplo prazer. É um mundo que vai
nascendo de dentro de nós.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">É bonito que fale desse prazer, sobretudo
porque temos a imagem do escritor angustiado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Em Portugal, há a escola do
escritor angustiado. Portugal tem um culto do sofrimento, da tristeza, da melancolia.
Aquilo que é prazer tem de ser [também] sofrimento.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — O sofrimento como elemento identitário é
[marca] do catolicismo. Quando me ofereci para ser membro da Frelimo, fui a uma
sessão em que era o único gajo jovem e o único gajo branco. Havia um grupo que
ajuizava os candidatos e estes tinham de apresentar uma “narração do
sofrimento”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Narração do sofrimento?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Cada candidato chegava e dizia o que é
que sofreu. Comecei a ficar atrapalhado. Eu não tinha sofrido nada, na verdade.
Aquilo era gente mesmo sofredora. Gente que tinha sido presa, que passava fome,
que tinha sido espancada, discriminada racialmente. Percebi a minha felicidade
como nunca tinha percebido. Entendi mais tarde que aquilo era uma marca do
cristianismo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">A confissão e partilha?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — O sofrimento como prova de identidade.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Cristianismo na sua versão mais
calvinista, que era a que vocês mais tinham.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Voltemos atrás para que Agualusa diga o que é
que Mia tem de especial.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Ele não me acha nada de especial.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Provavelmente, o facto de o Mia ser
o irmão do meio [é decisivo]. O irmão do meio tem de dar provas. Tem que ver
sempre com a necessidade de afirmação. Chamar a atenção numa área. Chamar a
atenção da mãe. Estamos a tentar explicar coisas que não se explicam. Nasceu
com isto..., com esta deformidade. [Riso.]</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">A deformidade de ser um poeta que escreve
prosa? Foi assim que Mia se apresentou uma vez.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Como é que nasce um xamã? Um xamã
tem um lado que é de formação e um lado que não é de formação — é de condição.
É poeta, nasceu poeta!, coitado, podia ter nascido com uma perna torta.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Imagina que tinhas jeito para fazer
coisas? Tens jeito? Hoje podias ser um engenheiro de pontes. São também as
portas que se fecham.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Se tivesse terminado Agronomia,
podia não ser hoje escritor.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Tenho uma tese sobre por que é que não
terminaste.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Qual é?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Agronomia implica um tipo que tem raiz.
Este gajo não pode ter raiz. Só pode ter asa.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">É uma leitura poética.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — É a verdade. Isto explica duas coisas.
Porque é que aderiste ao curso — porque precisas de ter raiz. E não concluíste
porque não podes ficar numa raiz só.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Devia ter ido para artes
levitatórias. Ou ser condutor de balões.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Quando é que se conheceram?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Posso estar a criar ficção, mas
acho que fui a primeira pessoa a fazer uma recensão de um livro do Mia, aqui em
Portugal, no Expresso. Na sequência disso, uma amiga comum organizou um jantar,
onde o Mia esteve com a Patrícia [mulher].</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Antes disso, cruzámo-nos e falámos sobre
o teu texto. Percebemos que tínhamos muita coisa em comum. Sendo africanos,
brancos, de um certo tipo de família...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Está a enunciar as coisas que vos aproximaram?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Havia um (termo horrível) destino. Parece
uma confissão. Daqui a bocado, uma confissão gay. Parecia que estávamos fadados
um para o outro. O Zé já era apaixonado pela escrita e pela leitura. Ele era
jornalista, eu já tinha sido jornalista.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — E havia o interesse pela Biologia.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Falámos de nomes de plantas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">De política, falaram muito?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Claro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Tínhamos zangas e discórdias.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Não me lembro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — O Zé tinha uma coisa mais clarividente
do que eu. Maior distância crítica. Eu estava muito dentro do processo político
da Frente de Libertação. Seres mais novo também ajudou. Quando ele punha
dúvidas, eu estava naquela postura do militante mais convicto.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Quando é que deixou de ser convicto? E
militante?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Luto por causas. Continuo a
combater provavelmente pelas mesmas causas. Pela pacificação e democratização
de Angola. Nesse aspecto, não mudei nem perdi a fé.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Não? Se olho para um livro como o Barroco
Tropical, que se passa no futuro angolano, e que dá uma visão tão negra, tão
ácida desse futuro, penso que está desencantado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — É o livro do não futuro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — O Barroco é uma distopia, um
retrato de um mundo que não quero para mim, para os meus filhos, para as
pessoas que amo. As distopias servem para alertar para os erros do presente na
intenção de corrigir esses erros. Se for olhado dessa maneira, não é um livro
pessimista. Pode haver muito horror, e há, em alguns dos meus livros. Na
Estação das Chuvas, por exemplo. [O que escrevo é] também uma denúncia desse
horror.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — O Zé está condenado a não sair mais de
Angola.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Como assim?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Angola está tão dentro de ti que, mesmo
estando ausente, Angola persegue-te. Não vais ter outro território de sonho.
Comigo é a mesma coisa em relação a Moçambique. Talvez pela condição histórica
de termos nascido no momento em que os países se estavam a afirmar. Não temos
casa — casa da alma — se não for aquela que está ali.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Assistiram à celebração da paz, tiveram o
sonho. Os países cresceram com as suas desigualdades, injustiças.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Mas a paz não foi feita ainda. Em
Angola, o fim da guerra foi um triunfo militar. Não foi através do diálogo. Não
se constrói a paz assim. A paz implica uma conversa que nunca foi feita.
Implica compreender as razões do outro. As razões do outro não foram ouvidas,
foram apagadas. Estão calcadas, não estão resolvidas. A guerra civil tem uma
razão de ser que se percebe ao longo da História. Tem que ver com a construção
da cidade, do mundo urbano, que cresceu à custa do mundo rural, através da
escravatura. A sociedade mestiça de Luanda enriqueceu com o tráfico negreiro.
Há um rancor histórico que persiste até hoje. É preciso ir mais longe, fazer
uma reconciliação. Eu teria preferido uma paz negociada. Eu preferia sobretudo
que nunca tivesse havido confronto físico, bélico, guerra! Os territórios
sujeitos à guerra têm durante uma eternidade essa guerra. A violência sempre
eclode de novo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Como se fosse um eco.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Um eco. Aquela violência foi, está
lá, ficou. Como quebrar esse ciclo de violência? É o desafio que temos. Vamos a
todos os grandes filósofos, profetas, de Cristo a Buda. Todos ensinam o mesmo.
Dá a outra face. Faz com que o outro se coloque no teu lugar. Coloca-te no
lugar do outro. Tenta compreender o outro. Não é nada que a gente não saiba. Só
que não se faz. O pior é isso: não é que não saibamos como fazer.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span>
</span>Angola está tão dentro de ti que, mesmo estando ausente, Angola
persegue-te. Não vais ter outro território de sonho</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span> </span>Mia
Couto</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span> </span>Há
uma alegria no Mia, na escrita do Mia... E uma melancolia. Uma tristeza
elegante</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span>
</span>Agualusa</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Não se faz por causa de diamantes, petróleo,
orgulho, por tudo isto?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — [suspiro] Acho que por estupidez.
Falta de inteligência, mesmo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Fale de como viu o processo de paz em
Moçambique.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Tenho de rectificar um bocado o discurso
que andava a fazer até há pouco tempo. Depois do fim da guerra civil, em 1992,
os moçambicanos decidiram não falar sobre o assunto. Um ano, dois anos depois,
e não tinha acontecido nada. Ninguém queria abrir aquela caixa. Pensei que era
a maneira mais sábia. As pessoas percebiam que qualquer coisa não tinha sido
resolvida. Essa qualquer coisa era tão essencial que era melhor não tocar nela.
Afinal, acho que não se resolveu bem quando se resolveu não falar. [Não foi uma
boa decisão] enterrar isso no esquecimento. A solução esquecimento não é uma
solução.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Estás a dar-me razão. Tivemos este
combate durante anos. Sempre defendi que é preciso criar rituais de
reconciliação, de perdão. As pessoas têm de chorar em conjunto. Como os casais.
Como os amigos desavindos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Como as famílias.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Exactamente, é uma família. As
pessoas têm de ser capazes de fazer o luto e de se perdoarem.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — De alguma maneira, esse ritual foi feito
[em Moçambique]. Mudei de atitude, mas não estou de acordo com uma solução de
tipo sul-africano, muito institucionalizada, que não toca os rituais mais
profundos das pessoas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Rainha Ginga, o novo livro de Agualusa, tem no
centro uma figura icónica da história angolana. Mia está a escrever sobre
Gungunhana, o rei moçambicano, gigante, que viveu entre 1850 e 1906, que todos
queriam capturar. Está para breve?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Não sei. Quando quero escrever um
romance, aparece-me poesia. Acabei um livro de poesia. Agora encaro a prosa
como um filho que resta. Vou demorar ainda uns seis meses a acabar o que já
tenho feito.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Na contracapa da Rainha Ginga, diz que “Angola
tem muito passado pela frente, no sentido de que há tanto passado angolano por
descobrir e ficcionar”. Anos depois da ratificação da paz, mesmo que ela não
seja tão efectiva quanto gostaria, há tempo para ir lá atrás e falar de uma
figura assim, do século XVI?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Escrevi este livro ao mesmo tempo
que o Mia escrevia sobre Gungunhana e em Angola se produzia um filme sobre a
Rainha Ginga. Talvez haja em África uma demanda comum. É uma tentativa de
redescobrir o passado numa perspectiva africana. O que temos, normalmente, é
uma perspectiva europeia ou uma perspectiva um pouco extremada, nacionalista,
que também é mentirosa. Este livro responde a uma inquietação comum ao
continente (e não apenas à África de língua portuguesa).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Porque é que Ginga o fascina?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Por ser uma mulher que foi capaz de
subverter todas as regras, a sua própria tradição, e de construir um mundo que
era o seu mundo. De inventar um mundo à sua imagem.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">É um pouco o que fazem com a escrita: inventar
um mundo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Pois, mas ela põe no terreno, nós
pomos no papel. Menos corajoso.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Gungunhana interessou-o porquê?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Por aquilo que não foi. Há dois
discursos que o esmagam. Houve uma ficção daquele personagem por parte dos
portugueses, que o queriam maior do que era. Era preciso ter um inimigo grande
para engrandecer o feito de o ter vencido. A Frelimo, o Governo moçambicano,
precisou de construir nele um herói nacional. Houve uma mistificação daquele
personagem. O que procuro é a pessoa que sobrou no meio destas duas ficções.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Gosto dessa ideia [a pessoa que
sobrou].</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Ainda sobre a coincidência de
escrevermos romances históricos: esta sede pelo passado vem da falta de futuro.
O Barroco Tropical do Zé era uma maneira de dizer que queremos outro futuro. A
necessidade de desenhar um futuro faz com que a gente tenha de recomeçar lá
atrás, a recriar um tempo que não foi aquele que nos disseram que existia.
Houve uma tentativa de impor só um passado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span> </span>A
necessidade de desenhar um futuro faz com que a gente tenha de recomeçar lá
atrás, a recriar um tempo que não foi aquele que nos disseram que existia</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span> </span>Mia</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Uma visão única da história?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Como se o passado fosse uma coisa
simples, singular, única. E houve vários passados.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Parece que o passado nunca passa.
Uma das coisas mais interessantes ao estudar esta época da Rainha Ginga foi
perceber que aquilo é tão presente... A forma como aqueles conflitos se
desenrolam, as alianças feitas..., e tudo com pessoas. Por vezes, perdemos a
noção de que eram pessoas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Porque os vemos apenas como mitos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Sim. Eram pessoas inseridas em
processos históricos complicadíssimos. Quando comparamos a época da
independência, que é uma época de redesenhar as fronteiras, com a da Rainha
Ginga, que era também de redesenhar fronteiras, e de fazer um país, ou países,
porque é Angola que está em construção, é o Brasil que está em construção, é
Portugal que de certa forma está em construção, as situações são semelhantes. E
essas pessoas são pessoas. Procuravam o mesmo que procuramos hoje.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">O quê? Felicidade, amor, glória?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Isso tudo que realmente conta,
essas coisas básicas, simples. Falámos tanto do medo: procuravam perder o medo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">O que é busca na sua viagem incessante?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Compreender. Compreender o outro
para perceber o que faço aqui. É tão cliché, mas é assim mesmo. À medida que
vamos crescendo, percebemos que o outro somos nós. Que não há um outro. Cada
vez sou mais fascinado (voltando à Biologia) pelas formigas. Há a tese de que o
formigueiro é que é o animal. As formigas são células do animal; não são sequer
células autónomas porque não sobrevivem longe, sozinhas. Talvez não estejamos
longe disto. Talvez sejamos um único animal.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — O teu próximo curso é Biologia, vais
ver.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — A humanidade é uma única entidade.
Sempre fomos o mesmo ao longo do tempo. É o mesmo animal, o mesmo ser. Daí o
absurdo dos conflitos. Estamos a combater-nos a nós próprios. Uma guerra civil
é uma guerra na qual nos combatemos a nós próprios, o nosso organismo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Como um cancro. Que nasce de nós e nos mata.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — É.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Porque é que deixamos de ver os outros
como uma parte de nós? Porque aprendemos a olhar de mais para nós. Há uma
anulação de nós próprios que temos de aprender. No fundo, o escritor é um
escutador. Aprendeu a ouvir os outros. E percebendo no fim que quem está ali é
ele próprio. Mas tem de começar por fora.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agora que estamos a terminar, estava a
perguntar-me se seria diferente esta entrevista se eu fosse um homem. Será que
falaríamos mais dos conflitos africanos?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Pode ser. E pode ser que não
soubéssemos responder!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Se calhar também estamos a procurar ser
engraçados por ser uma mulher. [Gargalhada dos dois.]</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Isto é também uma maneira de perguntar se
querem falar mais de política, de guerra. Têm um discurso muito crítico
politicamente.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Eu recebo notícias de Luanda todos
os dias. Sou atingido pelo facto de o regime existir e se comportar de uma
determinada maneira. E reajo a isso, como é óbvio.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mas não é o centro da sua vida como no passado
a política foi um centro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Na minha vida, nunca foi.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Na minha, foi.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — O centro são as pessoas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — A política é uma maneira de chegar às
pessoas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Tu foste militante partidário, eu
nunca fui. Completamente diferente. Sou militante de ideias. Não sou militante
de movimentos políticos. Como cidadão, intervenho todos os dias. Com certeza.
Mas a minha vida é muito mais.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Sente alguma limitação quando intervém?
Perseguem-no?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Eu tinha uma crónica no jornal A
Capital e deixei de ter. Alguém comprou o jornal e não pude continuar a
escrever. Claro que há limitações. O Rafael Marques escrevia no mesmo jornal e
pela mesma razão [foi dispensado]. Fomos apagados. Agora escrevo num jornal
online, na Rede Angola.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Aos 17 anos, procurava uma extensão da
família num partido político. Abandonei os estudos de Medicina, tudo, para me
dedicar àquela causa. Foi muito complicado pensar que [a política] era outra
coisa. A ruptura, em 1986, magoou-me muito. Ao mesmo tempo foi uma grande
libertação. Quiseram pagar-me os estudos, quando [saí da política activa].
Felizmente não aceitei. Não queria ter dívidas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">São o melhor amigo um do outro? Como irmãos?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Alguém é um grande amigo se temos um
momento intenso, uma coisa bonita que estamos a ver, e pensamos: “Gostaria que
ele estivesse aqui.” Penso nele. Rimo-nos muito das mesmas coisas,
imbecilidades. Partilhamos coisas que os escritores normalmente não partilham.
Ideias para livros. Sem receio. Agora diz lá porque é que tu és meu amigo!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Agualusa — Concordo inteiramente com o que
disseste. Há uma alegria no Mia, na escrita do Mia... E uma melancolia. Uma
tristeza elegante.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mia — Ele faz uma coisa de que tenho inveja:
uma poesia que faz de conta que não é. Há um trabalho poético que ele não põe à
varanda. Quanto é que me pagas por ter dito isto?</span></div>
Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-30730728940014857282014-06-02T07:11:00.000+01:002014-06-02T07:11:11.472+01:00Carta a um irmão político<div class="container">
<div class="titulo">
<br /></div>
<div class="texto">
<span class="capitular">A</span>inda me lembro da noite
em que ouvi pela primeira vez a palavra sectário. Devia ter aí uns
catorze ou quinze anos e não fazia a mínima ideia do que aquilo queria
dizer. Mas pelo ar com que empregavas a expressão, não devia ser coisa
boa. Aliás, inserida na frase "os seus amigos sectários...", não podia
mesmo ser coisa boa. E pela cara com que o nosso pai a recebia, a coisa
não era mesmo boa. Como militante do PCP que o pai era há décadas, ele
já devia ter ouvido esse ataque umas mil vezes. Como militante
socialista que tu eras há uns sete ou oito anos, já a terias proferido
algumas vezes. </div>
<div class="texto">
Não sei se era coisa da faculdade de Direito onde
andavas, com a JS e a JCP a disputar a Associação de Estudantes como se
fosse a coisa mais importante do mundo, se eram assuntos mais vastos da
esquerda, daqueles que ainda hoje ocupam a cabeça de tanta gente, sem
progresso ou resultado aparente. Sei apenas que olhava para vocês com
admiração pelo empenho com que discutiam, mas sempre com a impressão de
que gostava muito mais de assistir do que participar. Às vezes, o meu
tio João juntava-se às discussões, e como militante da primeira hora do
PSD, fazia com que tudo aquilo se tornasse num diálogo ainda mais
interessante e ainda mais impossível. Cresci a ver e a ouvir isso e não
tenho dúvidas de que vocês os três, cada um com a sua dose, são
responsáveis parciais pelo que acabou por ser o meu trabalho. Foi um
treino forçado, mas intensivo.</div>
<div class="texto">
Passaram trinta anos. Tu nunca largaste a política nem o
PS. O meu tio João morreu no ano passado com as quotas e o fervor pelo
PSD em dia. E o pai, claro, morreu sem nunca deixar o PCP, apesar de
todas as dúvidas a que fomos assistindo, de ter votado como votou no
Congresso do Porto - acho que ao lado do Miguel Portas - e de tudo o que
se passou nos anos seguintes, com alguns dos melhores amigos dele a
saírem do partido. À maneira dele, lidou bem com isso. Manteve os amigos
e nunca confundiu as coisas. Lembro-me do desgosto que ele teve quando o
Lima de Freitas apoiou o Freitas do Amaral em 1986. Mas lembro-me ainda
melhor de como, ano após ano, eles os dois mais o David Mourão
Ferreira, conversavam noite fora na Praia do Carvoeiro, esquecendo as
divergências políticas e lembrando tudo o que os unia e divertia.</div>
<div class="destaque">
Podia seguir página abaixo, com exemplos destes. Mas
lembro apenas mais um, quando o pai ficava tardes à conversa com a
Helena Sacadura Cabral, que encontrava quando ia almoçar a um pequeno
restaurante nas Janelas Verdes. E só lembro isso porque, além das óbvias
divergências políticas deles e da ainda mais óbvia amizade, a Helena
tinha em casa um problema bicudo, aquele que todos os portugueses
conhecem, o do Paulo e do Miguel Portas. E só lembro isto, porque na
terça-feira à noite, pouco tempo depois de termos falado pela primeira
vez ao telefone - já tu eras candidato e já eu tinha posto o meu lugar
no Expresso à disposição da administração e da redação -, a Constança
Cunha e Sá ligou-me a a dizer "ouve lá, vocês só têm que fazer como o
Paulo e o Miguel".
</div>
<div class="texto">
A Constança não podia ter sido nem mais genuína nem
mais simpática. Mas não sei se a coisa é assim tão simples, muito menos
se é mais mais fácil ou difícil. Eles foram jornalistas mas foram sempre
políticos. Tu nunca foste jornalista e eu nunca fui político. Andámos e
andamos em barricadas diferentes. E é assim que tem que ser. Temos a
vantagem de saber que nunca teremos de fazer um frente a frente, mas
temos a desvantagem de saber que o Expresso te vai cair em cima de
quando em vez e que tu vais tentar cair em cima do Expresso. Não sei se
vai haver Congresso e não faço a mínima ideia se o vais ganhar. Mas sei
que agora é diferente.</div>
<div class="texto">
O Expresso já teve um desafio maior pela frente, quando
Francisco Balsemão foi para o governo e depois para primeiro-ministro. O
jornal passou com distinção na prova. Foi impiedoso, às vezes demais, e
fê-lo com estilo e com estrondo. Não gosto de falar em nome da redação
onde trabalho, mas conhecendo os meus colegas, sei que não lhes passa
pela cabeça fazer alguma coisa diferente. Presumo que estejas preparado
para isso. Eu estou. Ou melhor, vou estando.</div>
<div class="texto">
Outro dia, na homenagem que fizeram ao pai na Casa de
Goa, o Vasco Vieira de Almeida lembrou, como só ele é capaz de o fazer,
como o pai combinava a ortodoxia marxista com uma permanente discussão
de tudo e com todos. Sei que ele ia ficar aflito ao ver-nos chocar. Mas
não ia esperar outra coisa de nós. Se alguma coisa correr mal, podemos
pedir ao Vasco para arbitrar. Boa sorte.</div>
</div>
Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-70832408634714060682014-04-28T14:09:00.002+01:002014-04-28T14:09:52.359+01:00Celebram-se este mêsCelebram-se este mês os 40 anos da morte do 25 de Abril. Ou talvez
não seja bem isto. Mas parece. Não se sabe ao certo como vão ser
comemoradas as quatro décadas de democracia. Suspeita-se apenas que a
cerimónia vai ser pobre, triste, e presidida por gente que não mexeu uma
palha para que a Revolução acontecesse. Os capitães de Abril não
estarão presentes. Durante o Estado Novo, as pessoas que fizeram o 25 de
Abril não podiam falar na Assembleia da República. Ao fim de 40 anos de
democracia, continuam a não poder. Podem estar presentes, desde que
seja só para enfeitar. Mas não querem. É pena. Sugiro um friso de
capitães de Abril feito de fotografias em tamanho real, recortadas em
cartão. Faz o mesmo efeito que os organizadores da cerimónia pretendiam,
e podem usar-se fotografias dos tempos em que os capitães de Abril
estavam mais novos e mais magros. É uma maneira de termos um 25 de Abril
ainda mais próximo do original. E de plástico, que é mais barato.<br />
Outra ideia, um pouco mais subversiva, mas igualmente respeitadora
da ordem e do silêncio: todos os democratas presentes na Assembleia para
a cerimónia comemorativa do 25 de Abril levam no bolso uma máscara do
Vasco Lourenço. E, quando a corja topa da tribuna do hemiciclo, põem a
máscara. Talvez pregue um susto suficiente para que alguns dos
organizadores da festa corram a comprar um bilhete para o Brasil. As
agências de viagens bem precisam de um incentivo destes.<br />
Entretanto, e creio que já no âmbito das festividades, Durão Barroso
afirmou que, antes do 25 de Abril, "apesar de algumas liberdades
cortadas, havia na escola uma cultura de mérito, exigência, rigor,
disciplina e trabalho" que se perdeu. Realmente, havia algumas
liberdades cortadas. E algumas goelas, também. Mas, para o presidente da
União Europeia, o regime em que havia uma polícia política que prendia,
torturava e matava tinha um ensino muito bom. Parece que, na antiga
RDA, o desporto também era óptimo. Dizem que Jack, o Estripador, tinha
uma linda colecção de selos. E, como se sabe, os nazis tinham marchas
lindas.<br />
De facto, e com muita pena minha, o ensino do Estado Novo era melhor e
mais exigente. Cito, por exemplo, o Livro de Leitura da 3.ª Classe, de
1958: "Com o Estado Novo abriu-se para Portugal uma época de
prosperidade e de grandeza, comparável às mais brilhantes de toda a sua
história. (...) Construíram-se muitas escolas, e hão-de construir-se as
que forem precisas para que todas as crianças em idade escolar tenham
onde educar-se e instruir-se." A prova de que o ensino era bom é que
Durão Barroso memorizou estas palavras do livro único e não mais as
esqueceu. É pena que, aparentemente, os primeiros-ministros que
governaram Portugal após o 25 de Abril não tenham conseguido manter este
nível de excelência nas nossas escolas. Não sei se Durão Barroso
conhece algum. Mas todos eles merecem uma palmatoada. E deviam decorar
os nomes dos rios e caminhos-de-ferro de Angola, para castigo.<br />
<div style="background-color: white; border: medium none; color: black; overflow: hidden; text-align: left; text-decoration: none;">
<br />Ler mais: <a href="http://visao.sapo.pt/24-de-abril-sempre-democracia-nunca-mais=f777986#ixzz30BaeaD00" style="color: #003399;">http://visao.sapo.pt/24-de-abril-sempre-democracia-nunca-mais=f777986#ixzz30BaeaD00</a></div>
Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-44286150738423848922014-04-15T06:20:00.000+01:002014-04-15T14:16:25.349+01:00Felipe Gonzalez em Lisboa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg00Sch8o4IDYnWyqMJ00R1GtVWN1zqUsytJIxMFfE8JZEw8QgTld3CbQffvBpCggEvtoE2IxGJWTeKysHcuIFRx8-sArG9-M14bsK5Qoiy6AhmyYSTvCUMhiwzGJKup2ZrtwfW9g/s1600/felipe-gonzalez-d6e5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg00Sch8o4IDYnWyqMJ00R1GtVWN1zqUsytJIxMFfE8JZEw8QgTld3CbQffvBpCggEvtoE2IxGJWTeKysHcuIFRx8-sArG9-M14bsK5Qoiy6AhmyYSTvCUMhiwzGJKup2ZrtwfW9g/s1600/felipe-gonzalez-d6e5.jpg" height="202" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<section id="conteudo">
<div class="newsP">
O antigo presidente do Governo espanhol
Felipe González defendeu esta terça-feiras que as campanhas eleitorais
para o Parlamento Europeu, tanto em Espanha como em Portugal, devem
debater as questões europeias, ao invés de se centrarem nos assuntos de
política interna. </div>
<div class="newsP">
González, que liderou o país vizinho durante 13 anos e
meio (a partir do início da década de 80 do século passado), interveio
na conferência do Expresso/SIC/Instituto de Ciências Sociais que
assinala os 40 anos do 25 de Abril, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.</div>
<div class="newsP">
O ex-líder do PSOE (Partido Socialista Operário
Espanhol) começou por falar do impacto que o 25 de Abril teve na sua
geração e no seu país, que em 1974 ainda vivia sob a ditadura
franquista. "O que se passava em Portugal era o culminar de uma
aspiração", disse. "Em Espanha queríamos que ocorresse um 25 de Abril",
acrescentou.</div>
<div class="newsP">
"Víamos com grande ilusão a rutura que se viveu em
Portugal", acrescentou, para de seguida mencionar duas diferenças entre o
processo português e o espanhol. Por um lado, do lado de lá da
fronteira "há um vazio da representação simbólica", na falta de uma data
que possa ser equiparada ao 25 de Abril. Por outro, a realidade
portuguesa, com as colónias africanas, levou a que a Guerra Fria se
tenha jogado nesses espaços, com a intervenção da União Soviética, que
marcou o processo de descolonização.</div>
<div class="newsP">
Mas se a evocação do 25 de Abril foi o ponto de
partida da intervenção de González, o antigo político espanhol faria de
seguida uma intervenção muito estruturada (e a mais aplaudida até esse
momento nas diversas sessões plenárias da conferência) sobre a atual
situação na Europa, sobretudo nos países ibéricos. </div>
<div class="newsP">
E neste ponto ponto, González disse claramente de
onde vem: "Sou um europeu europeísta. A solução [para a crise atual]
passa por mais Europa, com outro tipo de subsidariedade".</div>
<div class="newsP">
A receita seguida até ao momento tem sido a errada.
"O que não cresce não paga dívidas", afirmou o ex-político espanhol,
antes de referir o fraco desempenho das economias espanhola e
portuguesa, nas quais o crescimento dos respetivos PIB é muito baixo
(quando não é negativo), ficando muito aquém nas necessidades para o
pagamento dos juros da dívida de cada um dos países.</div>
<div class="newsP">
A raiz do problema é mais vasta, segundo González. "O
modelo da economia da globalização está excessivamente financeirizado. E
quando gera riqueza, distribui-a mal, tanto na China como na Dinamarca.
E se o modelo distribui mal quando cresce, distribui muito pior numa
fase de ajustamento", disse.</div>
<div class="newsP">
Como corolário desta realidade, para González vive-se a "pior crise de <i>governance</i> da democracia representativa".</div>
<div class="newsP">
<br /></div>
<div class="newsP">
<b>"Portugal e Espanha vão continuar mal"</b></div>
<div class="newsP">
A solução para este défice é mais Europa. "Não me
importaria nada que houvesse um ministro da Economia e das Finanças na
Europa. Mas com legitimidade democrática. E a maior legitimidade
democrática está no Parlamento Europeu. E isso não se está a discutir
nos nossos dois países, o que me preocupa", disse o antigo presidente do
Governo espanhol, depois de ter salientado que dos dois lados da
fronteiras são as agendas domésticas a marcar o debate pré-eleitoral.</div>
<div class="newsP">
Desarmando os que lhe apontam o dedo por contestar os
caminhos da construção europeia, e isso dar espaço aos adversário da
Europa, o ex-chefe do Governo espanhol responde: "Se não há um
europeísmo crítico com os erros que se vão cometendo, então aí é que os
anti-europeus vão crescer". </div>
<div class="newsP">
Neste estado de coisas, "a solução passa por animar
estas eleições europeias". "Chegará o momento de discutir quem governa
melhor a margem de governo que temos [em cada país]. Hoje é preciso
escolher o que se quer que se faça com a Europa", disse.</div>
<div class="newsP">
González antecipou-se de certa forma ao debate que
viria a encerrar a conferência, em que os ex-presidentes da República
Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio responderam à pergunta
"valeu a pena?". "Valeu a pena, para Portugal e para Espanha. Não há
nada mais importante do que recuperar a liberdade. Digo-o nesta hora de
sofrimento. Claro que valeu a pena", afirmou o antigo presidente do
governo espanhol.</div>
<div class="newsP">
O ensaísta Eduardo Lourenço foi o comentador da
intervenção de González, subordinada à ideia "Visto de Espanha".
Partilhando a opinião do político espanhol - "interessa encontrar uma
saída, que só pode ser a casa comum europeia, evocada por Gorbatchov",
disse Lourenço -, o pensador português introduziu no entanto alguns
pingos de pessimismo na reflexão.</div>
<div class="newsP">
Se antes González dissera que Portugal e Espanha "vão
continuar mal neste ano e no próximo, e provavelmente no seguinte",
Lourenço disse que não haverá opções autónomas para qualquer dos países.
"Não temos mais nenhuma saída do que as saídas que a Europa encontrar
para ela própria", afirmou o pensador português.</div>
<div class="newsP">
E aqui Lourenço lançou os avisos à navegação: "Mas a
Europa não é a barca das barcas. A Europa, com largas exceções, é uma
guerra civil sem fim. Para mim, a história não é um conto de fadas, é
uma espécie de tragédia contínua. Espero que esta Europa que queremos
construir seja um oásis de paz que nunca foi".</div>
</section><br />
<div style="background-color: white; border: medium none; color: black; overflow: hidden; text-align: left; text-decoration: none;">
<br />
Ler mais: <a href="http://expresso.sapo.pt/portugal-e-espanha-vao-continuar-mal-neste-ano-e-no-proximo-e-talvez-no-seguinte=f865571#ixzz2yvfpxQnT" style="color: #003399;">http://expresso.sapo.pt/portugal-e-espanha-vao-continuar-mal-neste-ano-e-no-proximo-e-talvez-no-seguinte=f865571#ixzz2yvfpxQnT</a></div>
Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-17332185617335087742014-04-09T16:11:00.002+01:002014-04-09T16:15:09.727+01:00Umberto Eco sobre a internetEm 2011, aos 80 anos, Umberto Eco concedeu uma entrevista à revista Época onde comentou sobre os prós e contras da internet como ferramenta formadora de indivíduos leitores críticos e/ou analfabetos funcionais. E sobre a acessibilidade do conhecimento possibilitada pela mesma.<br />
ÉPOCA - Como o senhor se sente, completando 80 anos?
Umberto Eco - Bem mais velho! (Risos.) Vamos nos tornando importantes com a idade, mas não me sinto importante nem velho. Não posso reclamar de rotina. Minha vida é agitada. Ainda mantenho uma cátedra no Departamento de Semiótica e Comunicação da Universidade de Bolonha e continuo orientando doutorandos e pós-doutorandos. Dou muita palestra pelo mundo afora. E tenho feito turnês de lançamento de O cemitério de Praga. Acabo de voltar de uma megaexcursão pelos Estados Unidos. Ela quase me custou o braço. Estou com tendinite de tanto dar autógrafos em livros.<br />
ÉPOCA - O senhor tem sido um dos mais ferrenhos defensores do livro em papel. Sua tese é de que o livro não vai acabar. Mesmo assim, estamos assistindo à popularização dos leitores digitais e tablets. O livro em papel ainda tem sentido?
Eco - Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet.<br />
ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?
Eco - A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento.<br />
ÉPOCA - Mas o conhecimento está se tornando cada vez mais acessível via computadores e internet. O senhor não acha que o acesso a bancos de dados de universidades e instituições confiáveis estão alterando nossa noção de cultura?
Eco - Sim, é verdade. Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.<br />
ÉPOCA - Há uma solução para o problema do excesso de informação?
Eco - Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.<br />
ÉPOCA - O senhor já está pensando em um novo romance depois de O cemitério de Praga?
Eco - Vamos com calma. Mal publiquei um e você já quer outro. Estou sem tempo para ficção no momento. Na verdade, vou me ocupar agora de minha autobiografia intelectual. Fui convidado por uma instituição americana, Library of Living Philosophers, para elaborar meu percurso filosófico. Fiquei contente com o convite, porque passo a fazer parte de um projeto que inclui John Dewey, Jean-Paul Sartre e Richard Rorty - embora eu não seja filósofo. Desde 1939, o instituto convida um pensador vivo para narrar seu percurso intelectual em um livro. O volume traz então ensaios de vários especialistas sobre os diversos aspectos da obra do convidado. No final, o convidado responde às dúvidas e críticas levantadas. O desafio é sistematizar de uma forma lógica tudo o que já fiz...<br />
ÉPOCA - Como lidar com tamanha variedade de caminhos?
Eco - Estou começando com meu interesse constante desde o começo da carreira pela Idade Média e pelos romances de Alessandro Manzoni. Depois vieram a Semiótica, a teoria da comunicação, a filosofia da linguagem. E há o lado banido, o da teoria ocultista, que sempre me fascinou. Tanto que tenho uma biblioteca só do assunto. Adoro a questão do falso. E foi recolhendo montes de teorias esquisitas que cheguei à ideia de escrever O cemitériode Praga.<br />
ÉPOCA - Entre essas teorias, destaca-se a mais célebre das falsificações, O protocolo dos sábios de Sião. Por que o senhor se debruçou sobre um documento tão revoltante para fazer ficção?
Eco - Eu queria investigar como os europeus civilizados se esforçaram em construir inimigos invisíveis no século XIX. E o inimigo sempre figura como uma espécie de monstro: tem de ser repugnante, feio e malcheiroso. De alguma forma, o que causa repulsa no inimigo é algo que faz parte de nós. Foi essa ambivalência que persegui em O cemitério de Praga. Nada mais exemplar que a elaboração das teorias antissemitas, que viriam a desembocar no nazismo do século XX. Em pesquisas, em arquivos e na internet, constatei que o antissemitismo tem origem religiosa, deriva para o discurso de esquerda e, finalmente, dá uma guinada à direita para se tornar a prioridade da ideologia nacional-socialista. Começou na Idade Média a partir de uma visão cristã e religiosa. Os judeus eram estigmatizados como os assassinos de Jesus. Essa visão chegou ao ápice com Lutero. Ele pregava que os judeus fossem banidos. Os jesuítas também tiveram seu papel. No século XIX, os judeus, aparentemente integrados à Europa, começaram a ser satanizados por sua riqueza. A família de banqueiros Rotschild, estabelecida em Paris, virou um alvo do rancor social e dos pregadores socialistas. Descobri os textos de Léo Taxil, discípulo do socialista utópico Fourier. Ele inaugurou uma série de teorias sobre a conspiração judaica e capitalista internacional que resultaria em Os protocolos dos sábios do Sião, texto forjado em 1897 pela polícia secreta do czar Nicolau II.<br />
ÉPOCA - O senhor considera os Procotolos uma das fontes do nazismo?
Eco - Sem dúvida. Adolf Hitler, em sua autobiografia, Minha luta, dava como legítimo o texto dos Protocolos. Hitler tomou como verdadeira uma falsificação das mais grosseiras, e essa mentira constitui um dos fundamentos do nazismo. A raiz do antissemitismo vem de muito antes, de uma construção do inimigo, que partiu de delírios e paranoias.<br />
ÉPOCA - O personagem de O cemitério de Praga, Simone Simonini, parece concentrar todos os preconceitos e delírios europeus do século XIX. Ele é ao mesmo tempo antissemita, anticlerical, anticapitalicas e antissocialista. Como surgiu na sua mente alguém tão abominável?
Eco - Os críticos disseram que Simonini é o personagem mais horroroso da literatura de todos os tempos, e devo concordar com eles. Ele também é muito divertido. Seus excessos estão ali para provocar riso e revolta. No romance, Simonini é a única figura fictícia. Guarda todos os preconceitos e fantasias sobre um inimigo que jamais conhece. E se desdobra em várias personalidades: durante o dia, atua como tabelião falsificador de documentos; à noite, traveste-se em falso padre jesuíta e sai atrás de aventuras sinistras. Acaba virando joguete dos monarquistas, que se opõem à unificação da Itália, e, por fim, dos russos. Imaginei Simonini como um dos autores de Os protocolos dos sábios do Sião.<br />
ÉPOCA - A falsificação sobre falsificações permitida pela ficção tornou o livro controverso. Ele tem provocado reações negativas. O senhor gosta de lidar com polêmicas?
Eco - A recepção tem sido positiva. O livro tem feito sucesso sem precisar de polêmicas. Quando foi lançado na Itália, ele gerou alguma discussão. O L'osservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, publicou um artigo condenando os ataques do livro aos jesuítas. Não respondi, porque sou conhecido como um intelectual anticlerical - e já havia discutido com a igreja católica no tempo de O nome da rosa, quando me acusaram de atacar a igreja. O rabino de Roma leu O cemitério de Praga e advertiu em um pronunciamento que as teorias contidas no livro poderiam se tornar novamente populares a partir da obra. Respondi a ele que não havia esse perigo. Ao contrário, se Simonini serve para alguma coisa, é para provocar nossa indignação.<br />
ÉPOCA - Além de falsário, Simonini se revela um gourmet. Ao longo do livro, o senhor joga listas e listas de receitas as mais extravagantes, que Simonini comenta com volúpia. O senhor gosta de gastronomia?
Eco - Eu sou MacDonald's! Nunca me incomodei com detalhes de comida. Pesquisei receitas antigas com um objetivo preciso: causar repugnância no leitor. A gastronomia é um dado negativo na composição do personagem. Quando Simonini discorre sobre pratos esquisitos, o leitor deve sentir o estômago revirado.<br />
ÉPOCA - Qual o sentido de escrever romances hoje em dia? O que o atrai no gênero?
Eco - Faz todo o sentido escrever ficção. Não vejo como fazer hoje narrativa experimental, como James Joyce fez com Finnegan's Wake, para mim a fronteira final da experimentação. Houve um recuo para a narrativa linear e clássica. Comecei a escrever ficção nesse contexto de restauração da narratividade, chamado de pós-modernismo. Sou considerado um autor pós-moderno, e concordo com isso. Vasculho as formas e artifícios do romance tradicional. Só que procuro introduzir temas que possam intrigar o leitor: a teoria da comédia perdida de Aristóteles em O nome da rosa; as conspirações maçônicas em O pêndulo de Foucault; a imaginação medieval em Baudolino; a memória e os quadrinhos em A misteriosa chama; a construção do antissemitismo em O cemitério de Praga. O romance é a realização maior da narratividade. E a narratividade conserva o mito arcaico, base de nossa cultura. Contar uma história que emocione e transforme quem a absorve é algo que se passa com a mãe e seu filho, o romancista e seu leitor, o cineasta e seu espectador. A força da narrativa é mais efetiva do que qualquer tecnologia.
ÉPOCA - Philip Roth disse que a literatura morreu. Qual a sua opinião sobre os apocalípticos que preveem a morte da literatura?
Eco - Philip Roth é um grande escritor. A contar com ele, a literatura não vai morrer tão cedo. Ele publica um romance por ano, e sempre de boa qualidade. Não me parece que nem o romance nem ele pretendem interromper a carreira (risos).<br />
ÉPOCA - Mas por que hoje não aparecem romancistas do porte de Liev Tolstói e Gustave Flaubert?
Eco - Talvez porque ainda não os descobrimos. Nada acontece imediatamente na literatura. É preciso esperar um pouco. Devem certamente existir Tolstóis e Flauberts por aí. E têm surgido ótimos ficcionistas em toda parte.<br />
ÉPOCA - Como o senhor analisa a literatura contemporânea?
Eco - Há bons autores medianos na Itália. Nada de genial, mas têm saído livros interessantes de autores bastante promissores. Hoje existe o thriller italiano, com os romances de suspense de Andrea Camilleri e seus discípulos. No entanto, um signo do abalo econômico italiano é que não é mais possível um romancista viver de sua obra literária, como fazia (Alberto) Moravia. Hoje romance virou uma atividade diletante. É diferente do que ocorre nos Estados Unidos, aindaum polo emissor de ótima ficção e da profissionalização dos escritores. Além dos livros de Roth, adorei ler Liberdade, de Jonathan Franzen, um romance de corte clássico e repleto de referências culturais. A França, infelizmente, experimenta uma certa decadência literária, e nada de bom apareceu nos últimos tempos. O mesmo parece se passar com a América Latina. Já vão longe os tempos do realismo fantástico de García Márquez e Jorge Luis Borges. Nada tem vindo de lá que me pareça digno de nota.<br />
ÉPOCA - E a literatura brasileira? Que impressões o senhor tem do Brasil? O país lhe parece mais interessante hoje do que há 30 anos?
Eco - O Brasil é um país incrivelmente dinâmico. Visitei o Brasil há muito tempo, agora acompanho de longe as notícias sobre o país. A primeira vez foi em 1966. Foi quando visitei terreiros de umbanda e candomblé - e mais tarde usei essa experiência em um capítulo de O pêndulo de Foucault para descrever um ritual de candomblé. Quando voltei em 1978, tudo já havia mudado, as cidades já não pareciam as mesmas. Imagino que hoje em dia o Brasil esteja completamente transformado. Não tenho acompanhado nada do que se faz por lá em literatura. Eu era amigo do poeta Haroldo de Campos, um grande erudito e tradutor. Gostaria de voltar, tenho muitos convites, mas agora ando muito ocupado... comigo mesmo.<br />
ÉPOCA - O senhor foi o criador do suspense erudito. O modelo é ainda válido?
Eco - Em O nome da Rosa, consegui juntar erudição e romance de suspense. Inventei o investigador-frade William de Baskerville, baseado em Sherlock Holmes de Conan Dolyle, um bibliotecário cego inspirado em Jorge Luis Borges, e fui muito criticado porque Jorge de Burgos, o personagem, revela-se um vilão. De qualquer forma, o livro foi um sucesso e ajudou a criar um tipo de literatura que vejo com bons olhos Sim, há muita coisa boa sendo feita. Gosto de (Arturo) Pérez-Reverte, com seus livros de fantasia que lembram os romances de aventura de Alexandre Dumas e Emilio Salgari que eu lia quando menino.<br />
ÉPOCA - Lendo seus seguidores, como Dan Brown, o senhor às vezes não se arrepende de ter criado o suspense erudito?
Eco - Às vezes, sim! (risos) O Dan Brown me irrita porque ele parece um personagem inventado por mim. Em vez de ele compreender que as teorias conspiratórias são falsas, Brown as assume como verdadeiras, ficando ao lado do personagem, sem questionar nada. É o que ele faz em O Código DaVinci. É o mesmo contexto de O pêndulo de Foucault. Mas ele parece ter adotado a história para simplificá-la. Isso provoca ondas de mistificação. Há leitores que acreditam em tudo o que Dan Brown escreve - e não posso condená-los.<br />
ÉPOCA - O que vem antes na sua obra, a teoria ou a ficção?
Eco - Não há um caminho único. Eu tanto posso escrever um romance a partir de uma pesquisa ou um ensaio que eu tenha feito. Foi o caso de O pêndulo de Foucault, que nasceu de uma teoria. Baudolino resultou de ideias que elaborei em torno da falsificação. Ou vice-versa. Depois de escrever Ocemitério de Praga, me veio a ideia de elaborar uma teoria, que resultou no livro Costruire il Nemico (Construir o Inimigo, lançado em maio de 2011). E nada impede que uma teoria nascida de uma obra de ficção redunde em outra ficção.<br />
ÉPOCA - Quando escreve, o senhor tem um método ou uma superstição?
Eco - Não tenho nenhum método. Não sou com Alberto Moravia, que acordava às 8h, trabalhava até o meio-dia, almoçava, e depois voltava para a escrivaninha. Escrevo ficção sempre que me dá prazer, sem observar horários e metodologias. Adoro escrever por escrever, em qualquer meio, do lápis ao computador. Quando elaboro textos acadêmicos ou ensaio, preciso me concentrar, mas não o faço por método.<br />
ÉPOCA - Como o senhor analisa a crise econômica italiana? Existe uma crise moral que acompanha o processo de decadência cultural? A Itália vai acabar?
Eco - Não sou economista para responder à pergunta. Não sei por que vocês jornalistas estão sempre fazendo perguntas (risos). Talvez porque eu tenha sido um crítico do governo Silvio Berlusconi nesses anos todos, nos meus artigos de jornal, não é mesmo? Bom, a Itália vive uma crise econômica sem precedentes. Nos anos Berlusconi, desde 2001, os italianos viveram uma fantasia, que conduziu à decadência moral. Os pais sonhavam com que as filhas frequentassem as orgias de Berlusconi para assim se tornarem estrela da televisão. Isso tinha de parar, acho que agora todos se deram conta dos excessos. A Itália continua a existir, apesar de Berlusconi.<br />
ÉPOCA - O senhor está confiante com a junção Merkozy (Nicolas Sarkozy e Angela Merkel) e a ascensão dos tecnocratas, como Mario Monti como primeiro ministro da Itália?
Eco - Se não há outra forma de governar a zona do Euro, o que fazer? Merkel tem o encargo, mas também sofre pressões em seu país, para que deixe de apoiar países em dificuldades. A ascensão de Monti marca a chegada dos tecnocratas ao poder. E de fato é hora de tomar medidas duras e impopulares que só tecnocratas como Monti, que não se preocupa com eleição, podem tomar, como o corte nas aposentadorias e outros privilégios.
ÉPOCA - O que o senhor faz no tempo livre?
Eco - Coleciono livros e ouço música pela internet. Tenho encontrado ótimas rádios virtuais. Estou encantado com uma emissora que só transmite música coral. Eu toco flauta doce (mostra cinco flautas de variados tamanhos), mas não tenho tido tempo para praticar. Gosto de brincar com meus netos, uma menina e um menino.<br />
ÉPOCA - Os 80 anos também são uma ocasião para pensar na cidade natal. Como é sua ligação com Alessandria?
Eco - Não é difícil voltar para lá, porque Alessandria fica a uns 100 quilômetros de Milão. Aliás foi um dos motivos que escolhi morar por aqui: é perto de Bolonha e de Alessandria. Quando volto, sou recebido como uma celebridade. Eu e o chapéu Borsalino, somos produção de Alessandria! Reencontro velhos amigos no clube da cidade, sou homenageado, bato muito papo. Não tenho mais parentes próximos. É sempre emocionante.
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mim, domingo de Angola é paraíso. É um Céu. Colorido. É moamba de peixe
ou caril de galinha de Quilengues. Domingo de Angola não tem rival no
mundo. Começa na praia e acaba na sesta. Não tem Sporting-Benfica, nem
linha de Sintra, não tem passeio a Vila Franca. Não tem touros, nem
Cacilhas, nem caracóis no Ginjal. Domingo de Angola, para mim, é o
melhor domingo do mundo que eu conheço – e que já não é nada pequeno,
benza-o Deus.<br />
Moamba para mim é um ritual. Tem pirão de fuba de mandioca – que eu sou
do Sul, usa-se de milho, mas eu prefiro de mandioca à moda do Norte, à
moda de Malanje, tal qual no Uíje – mete farinha de pau e obrigado velha
que está uma delícia. Tem de ser comido à sombra de um palmeira ou
coqueiro, debaixo de uma mandioqueira ou mangueira quando é no interior.
Porque coqueiro só no litoral. É por estas e por outras que eu gosto do
domingo em Angola. Domingo de Branco. Domingo de Preto. Domingo de
todos, domingo de missa, de padre, de domingo.<br />
A verdadeira moambada, aquela que é feita de galinha tenra, tão tenra
que sabe a peito de virgem, a moamba verdadeira, tem de ser do cacho
primeiro da palmeira do quintal. O molho será apurado pelo velho
cozinheiro, que foi mestre dos pais, dos filhos e dos filhos dos filhos.
Tem molho que é de “come e arrebenta e o que sobra vai no mar” como
dizia o poeta patrício e mulato Viriato da Cruz, no “Sô Santo”. Moamba
verdadeira, repito, só se come duas ou três vezes na vida. É preciso
estar-se em estado de graça. Estar-se com Nosso Senhor e com os anjos.<br />
Moamba para mim, é saudade, hoje que estou longe, hoje que estou perto.
Estou perto de estar tão longe. Não compreendem leitores? A gente está
longe e tem saudades. Antes de adormecer, pela noite, vem a lembrança,
da pitangueira do quintal, da Rosa Lavadeira, do amo-seco Canivete que
falava “axim” à moda de Viseu, e tudo isso aparece nítido, cada vez mais
claro e puro como certas horas da madrugada da Serra do Lépi. A
primeira vez que comi moamba, dela me lembro como da primeira vez que
beijei mulher, do primeiro desafio de futebol, do primeiro amor nocturno
na areia da praia, com mulher de verdade. A primeira moamba, lembra-se
como se lembra a primeira ida à escola.<br />
O travo nativo do cacho de déndém, que leva meses a fazer-se, até os
frutos terem a tonalidade da queimada. Metade o clarão no céu da noite, a
outra metade, escuro, um escuro de breu. Tudo isso o sabor tropical
junta naquele fruto, que tem brisa do mar, sol de praia, frescura de
casuarina, amor de mulata. O coconote e as influências indianas nadando
no molho. Tem jindungo, a moamba genuína, aquela que cheira a sândalo,
que escorre do canto da boca, do patrício apaixonado, de olho rútilo e
lábio trémulo. Mas a galinha, essa tem de ser de Quilengues, magra e
criada no mato, quase sem penas, galinha de sanzala, galinha de preto,
que é como quem diz, de pobre. Isto está divinal, velha, eu um dia
volto. Se entra a erva-doce, zumba que zumba e farinha de pau, oh, céus,
oh, Mãe, isto não é moamba, isto é poesia. Literatura.<br />
Mas tem de ser comida no terreiro da casa de adobe do bairro velho. Tem
de ser comida em ritual, na casa de adobe com telhado de zinco da
estrada da escola da Liga, ou num dos Muceques de Luanda, por sobre as
areias avermelhadas do Prenda ou do Burity.<br />
Depois a altura do peito de mulher na moleza da carne ou do peixe. Se é
“roncador”, aka, é peixe da costa e sabe que sabe tão bem. Mas de
galinha é melhor. Galinha de Quilengues escanifrada, repito. Galinha de
pobre.<br />Fico por momentos em êxtase, as mãos sobre o estômago,
lembrando o terreiro da família Gamboa lá de Luanda onde comi uma coisa
dessas uma vez há muitos anos. Num bairro velho de Benguela, eu estarei
ainda um dia com meus companheiros dos tempos de eu menino, comendo
moamba e bebendo quissângua à sombra do bambu do Edelfride – na casa do
Edelfride.<br />
Moamba é riqueza de pobre e fraqueza de rico. Entra em palácios sem
pedir licença, com o mesmo à vontade com que se senta nos quintais com
sombra de mangueira e entra em terrina de esmalte, prato de esmalte,
caneca de esmalte, garfo de alumínio. Velho sonho de poeta, lembrança de
castimbala, moambada para mim é saudade e sonho, recordação e batuque,
história de amor.<br />
Um dia, quando eu voltar, hei-de comer uma moambada de peixe ou de
carne, à sombra de um cajueiro, num Muceque de Luanda, moamba do cacho
primeiro da palmeira do quintal, não é velha? Depois de muito beber
dormirei a sesta. E hei-de gostar de ouvir um desses rapazes do meu
tempo, feito velho de cabelos brancos, recitar baixinho enquanto
adormeço, a balada do Viriato:<br />
“… Kitoto e batuque pró povo lá fora champanha, ngaieta tocando lá dentro…<br />Garganta cantando:<br />“Come e arrebenta<br />E o que sobra vai no mar…”<br />Para mim, domingo de Angola é isso tudo. Um Céu colorido. Uma moamba de peixe. Uma noite de luar.<br />
… não tem Sporting-Benfica, não tem touros, nem caracóis no Ginjal…<br /><br /><span style="background-color: orange;">Ernesto Lara Filho,poeta benguelense e cronista</span></span>Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-28448165670911687432014-03-18T07:08:00.000+00:002014-03-18T07:08:02.485+00:00Eduardo Lourenço<strong>Eduardo Lourenço apresenta uma bela síntese sobre a
ignorância e a perplexidade das elites intelectuais portuguesas face ao
actual estado de coisas da “modernidade”. Uma síntese brilhante de que
tira (pelo menos na notícia…) uma conclusão muito errada: recomenda
“paciência” quando devia recomendar estudo sério e coragem intelectual
para navegar e descobrir novos oceanos de saber, capazes de elucidar e
apontar saídas para o que o deixa em estado perplexo… Lourenço acaba por
fazer não a radiografia destes tempos e seus problemas mas a
radiografia da incapacidade da nossa “elite intelectual” e da sua
pobreza conceptual. Por exemplo, ele constata muito bem que vivemos em
«estado de guerra permanente», mas nada aponta como campo conceptual
para “ler” e colocar em perspectiva esse «estado de guerra permanente».
Ora, esses campos conceptuais existem. Pode-se tomar posição face a
esses campos, pode-se até fazer a sua crítica radical e até recusá-los. O
que não se pode é desconhece-los… E é esse desconhecimento que se
constata neste encontro em que Eduardo Lourenço apresentou a sua bela
síntese sobre a ignorância e a perplexidade das elites intelectuais
portuguesas.</strong>
<br />
<h1>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';">Eduardo Lourenço: “Fomos invadidos por uma espécie de vampiros”</span></span></h1>
<h4>
<span style="font-family: 'Verdana','sans-serif'; line-height: 115%;">
O ensaísta Eduardo Lourenço disse hoje que houve uma invasão por «uma
espécie de vampiros», que são quem controla o sistema inventado pela
modernidade, vivendo-se agora um «apocalipse indireto» em «estado de
guerra permanente».</span></h4>
<span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';">Durante a primeira
mesa da 15.ª edição do Correntes d´Escritas, na Póvoa de Varzim, sob o
título «Pensamentos não são correntes de ninguém», Eduardo Lourenço
disse: «<span style="background: none repeat scroll 0% 0% yellow;">Dá a
impressão de que, de repente, fomos invadidos, não por uns castelhanos
arcaicos nossos vizinhos e que são nossos irmãos e primos, mas por uma
espécie de vampiros como aqueles que o cinema de Hollywood ilustra. Não é
por acaso que o tema dos vampiros se tornou um tema da moda</span>, os vampiros são emissários da morte, é como se estivéssemos a viver uma espécie de apocalipse indireto».</span><br />
<span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';">O autor, que disse
não acreditar que o tempo desta «espécie de submissão mansa» vá
perdurar, ressalvou não querer contribuir para algo como uma «depressão
de segundo grau, por conta dos outros».</span><br />
<span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';">«Não sei se é um
comportamento muito português dormir em cima daquilo que nos ameaça
profundamente e nos põe problemas que não podemos resolver esperando
que, com o tempo, com um pouco de sorte, acabemos por sair desta espécie
de atoleiro em que estamos mergulhados», acrescentou.</span><br />
<span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';">«Os vampiros não
são tão vampiros como isso, são pessoas reais. São as pessoas que
controlam o sistema que a modernidade foi inventando pouco a pouco, com
os seus novos meios de produção, que aumentaram efetivamente de maneira
fantástica a possibilidade que os homens têm de aceder a um certo número
de coisas que são importantes», disse Eduardo Lourenço, já em resposta a
questões do público.</span><br />
<span style="background: none repeat scroll 0% 0% yellow; font-family: 'Verdana','sans-serif';">O
autor declarou que a televisão é hoje «o objeto mais importante», tendo
o «espaço público desaparecido», o que deu origem a um momento em que
«tudo se passa na televisão, as intervenções dos comentadores na
televisão são mais importantes do que a realidade».</span><br />
<span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';">Eduardo Lourenço lamentou que a política já não seja uma «política real».</span><br />
<span style="background: none repeat scroll 0% 0% yellow; font-family: 'Verdana','sans-serif';">«Passámos
[…] para um tempo em que aparentemente as guerras já não têm lugar ou
são guerras de uma outra espécie, são quase guerras virtuais como se
fossem cinema puro, embora os mortos não sejam cinema nenhum. Passámos
para um tempo em que estamos – não parece à primeira vista – num mundo
em estado de guerra permanente no interior do sistema, não há nenhuma
grande produção que não esteja em guerra com uma outra ao lado», afirmou
o vencedor do prémio Camões de 1996.</span><br />
<span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';">Eduardo Lourenço disse ainda não pensar nada sobre o futuro, uma vez que «se pensasse no futuro era o dono do futuro».</span><br />
<span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';">Assim, o ensaísta, que constatou saber o que é estar «à beira do abismo» por estar próximo do seu próprio, <span style="background: none repeat scroll 0% 0% yellow;">apelou a que se tenha paciência</span>, antes de entrar «enfim na terra da promissão».</span>Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-26857354085941068592014-03-12T06:03:00.000+00:002014-03-12T06:03:46.114+00:00Manifesto dos 70<div class="newsP">
<b><u>Preparar a Reestruturação da Dívida</u>
</b></div>
<div class="newsP">
<b><u> Para Crescer Sustentadamente</u>
</b></div>
<div class="newsP">
Nenhuma estratégia de combate à crise poderá ter
êxito se não conciliar a resposta à questão da dívida com a efectivação
de um robusto processo de crescimento económico e de emprego num quadro
de coesão e efectiva solidariedade nacional. Todos estes aspectos têm de
estar presentes e actuantes em estreita sinergia. A reestruturação da
dívida é condição <i>sine qua non</i> para o alcance desses objectivos.</div>
<div class="newsP">
O que reúne aqui e agora os signatários, que têm
posições diversas sobre as estratégias que devem ser seguidas para
responder à crise económica e social mas que partilham a mesma
preocupação quanto ao peso da dívida e à gravidade dos constrangimentos
impostos à economia portuguesa, é tão somente uma tomada de posição
sobre uma questão prévia, a da identificação das condições a que deve
obedecer um processo eficaz de reestruturação. </div>
<div class="newsP">
O que a seguir se propõe tem sempre em atenção a
necessidade de prosseguir as melhores práticas de rigorosa gestão
orçamental no respeito das normas constitucionais bem como a discussão
de formas de reestruturação honrada e responsável da dívida no âmbito de
funcionamento da União Económica e Monetária, nos termos adiante
desenvolvidos.</div>
<div class="newsP">
<br /></div>
<div class="newsP">
<b><u>A Actual Dívida é Insustentável na Ausência de Robusto e Sustentado Crescimento</u>
</b></div>
<div class="newsP">
A crise internacional iniciada em 2008 conduziu,
entre outros factores de desequilibrio, ao crescimento sem precedentes
da dívida pública. No biénio anterior, o peso da dívida em relação ao
PIB subira 0.7 pontos percentuais, mas elevou-se em 15 pontos
percentuais no primeiro biénio da crise. No final de 2013 a dívida
pública era de 129% do PIB e a líquida de depósitos de cerca de 120%. O
endividamento externo público e privado ascendeu a 225% do PIB e o
endividamento consolidado do sector empresarial a mais de 155% do PIB. A
resolução da questão da dívida pública não só se impõe pelas suas
finalidades directas como pela ajuda que pode dar à criação de condições
favoráveis à resolução dos problema específicos do endividamento
externo e do sector empresarial, que são igualmente graves.</div>
<div class="newsP">
A dívida pública tornar-se-á insustentável na
ausência de crescimento duradouro significativo: seriam necessários
saldos orçamentais primários verdadeiramente excepcionais,
insusceptíveis de imposição prolongada.</div>
<div class="newsP">
A nossa competitividade tem uma base qualitativa
demasiado frágil para enfrentar no futuro a intensificação da
concorrência global. É preciso uma profunda viragem, rumo a
especializações competitivas geradas pela qualidade, pela inovação, pela
alta produtividade dos factores de produção envolvidos e pela sagaz
capacidade de penetração comercial em cadeias internacionais ou nichos
de mercado garantes de elevado valor acrescentado.</div>
<div class="newsP">
Trata-se certamente de um caminho difícil e de
resultados diferidos no tempo. A sua materialização exige continuidade
de acção, coerência de estratégias públicas e privadas, mobilização
contínua de elevado volume de recursos, bem como de cooperação nos mais
diversos campos de actividade económica, social e política. Será tanto
mais possível assegurar a sustentabilidade da dívida, quanto mais
vigoroso for o nosso empenho colectivo no aproveitamento das
oportunidades abertas pela reestruturação no sentido de promover esse
novo padrão de crescimento.</div>
<div class="newsP">
<br /></div>
<div class="newsP">
<b><u>É Imprescindível Reestruturar a Dívida para Crescer, Mantendo o Respeito pelas Normas Constitucionais</u>
</b></div>
<div class="newsP">
Deixemo-nos de inconsequentes optimismos: sem a
reestruturação da dívida pública não será possível libertar e canalizar
recursos minimamente suficientes a favor do crescimento, nem sequer
fazê-lo beneficiar da concertação de propósitos imprescindível para o
seu êxito. Esta questão é vital tanto para o sector público como para o
privado, se se quiser que um e outro cumpram a sua missão na esfera em
que cada um deles é insubstituível.</div>
<div class="newsP">
Sem reestruturação da dívida, o Estado continuará
enredado e tolhido na vã tentativa de resolver os problemas do défice
orçamental e da dívida pública pela única via da austeridade. Deste
modo, em vez de os ver resolvidos, assistiremos muito provavelmente ao
seu agravamento em paralelo com a acentuada degradação dos serviços e
prestações provisionados pelo sector público. Subsistirá o desemprego a
níveis inaceitáveis, agravar-se-á a precariedade do trabalho,
desvitalizar-se-á o país em consequência da emigração de jovens
qualificados, crescerão os elevados custos humanos da crise,
multiplicar-se-ão as desigualdades, de tudo resultando considerável
reforço dos riscos de instabilidade política e de conflitualidade social
, com os inerentes custos para todos os portugueses.</div>
<div class="newsP">
Por outro lado, a economia sofrerá simultaneamente
constrangimentos acrescidos, impeditivos em múltiplas dimensões do
desejável crescimento do investimento, da capacidade produtiva e da
produtividade, nomeadamente pela queda da procura e desestruturação do
mercado, diminuição da capacidade de autofinanciamento, degradação das
condições de acesso, senão mesmo rarefacção do crédito da banca nacional
e internacional, crescente liquidação de possibilidades competitivas
por défice de investimento e inovação. Por maioria de razões, o ganho
sustentado de posições de referência na exportação ficará em risco e
inúmeras empresas ver-se-ão compelidas a reduzir efectivos.</div>
<div class="newsP">
Há que encontrar outros caminhos que nos permitam
progredir. Esses caminhos passam pela desejável reestruturação
responsável da dívida através de processos inseridos no quadro
institucional europeu de conjugação entre solidariedade e
responsabilidade.</div>
<div class="newsP">
Há alternativa<i> </i></div>
<div class="newsP">
<br /></div>
<div class="newsP">
<b><u>A Reestruturação Deve Ocorrer no Espaço Institucional Europeu</u>
</b></div>
<div class="newsP">
No futuro próximo, os processos de reestruturação das
dívidas de Portugal e de outros países - Portugal não é caso único -
deverão ocorrer no espaço institucional europeu, embora provavelmente a
contragosto, designadamente dos responsáveis alemães. Mas reacções a
contragosto dos responsáveis alemães não se traduzem necessariamente em
posições de veto irreversível. Veja-se o que vem sucedendo com a Grécia,
caso irrepetível, de natureza muito diferente e muito mais grave, mas
que ajuda a compreender a lógica comportamental dos líderes europeus.
Para o que apontam é para intervenções que pecam por serem demasiado
tardias e excessivamente curtas ou desequilibradas. Se este tipo de
intervenções se mantiver, a União Europeia correrá sérios riscos. </div>
<div class="newsP">
Portugal, por mais que cumpra as boas práticas de
rigor orçamental de acordo com as normas constitucionais - e deve
fazê-lo sem hesitação, sublinhe-se bem - não conseguirá superar por si
só a falta dos instrumentos que lhe estão interditos por força da perda
de soberania monetária e cambial. Um país aderente ao euro não pode
ganhar competitividade através da política cambial, não lhe é possível
beneficiar directamente da inflação para reduzir o peso real da sua
dívida, não pode recorrer à política monetária para contrariar a
contracção induzida pelo ajustamento e não tem Banco Central próprio que
possa agir como emprestador de último recurso. Mas se o euro, por um
lado, cerceia a possibilidade de uma solução no âmbito nacional, por
outro convoca poderosamente a cooperação entre todos os Estados-membros
aderentes. A razão é simples e incontornável: o eventual incumprimento
por parte de um país do euro acarretaria, em última instância, custos
dificeis de calcular mas provavelmente elevados, incidindo sobre outros
países e sobre o próprio euro. Prevenir as consequências nefastas desta
eventualidade é, de facto, um objectivo de interesse comum que não pode
ser ignorado.</div>
<div class="newsP">
Após a entrada em funções da nova Comissão Europeia,
deverá estar na agenda europeia o início de negociações de um acordo de
amortização da dívida pública excessiva, no âmbito do funcionamento das
instituições europeias Na realidade, esse processo já foi lançado e em
breve iniciará o seu caminho no contexto do diálogo inter-institucional
europeu, entre Comissão, Conselho e Parlamento.É essencial que desse
diálogo resultem condições fundamentais para defender sem falhas a
democracia nos Estados-membros afectados, como valor fundacional da
própria União. </div>
<div class="newsP">
<b><u> </u>
</b></div>
<div class="newsP">
<b><u>Três Condições a que a Reestruturação Deve Obedecer</u>
</b></div>
<div class="newsP">
<b> </b>A Comissão Europeia mandatou um Grupo de
Peritos para apresentar, designadamente, propostas de criação de um
fundo europeu de amortização da dívida. O seu relatório será publicado
antes das próximas eleições para o Parlamento Europeu<b>.</b> Essas
propostas juntar-se-ão a várias outras formuladas nos últimos quatro
anos. Recorde-se que a presente tomada de posição visa apenas a questão
prévia da identificação das condições a que deve obedecer um processo
eficaz de reestruturação Serve-nos de guia o exposto sobre a dívida
portuguesa, mas pensamos que as condições adiante sugeridas defendem
também os melhores interesses comuns dos países do euro.<b>
</b></div>
<div class="newsP">
Tendo presente que a capacidade para trazer a dívida
ao valor de referencia de 60% do PIB depende fundamentalmente de três
variáveis (saldo orçamental primário, taxa de juro implícita do stock de
dívida e taxa nominal de crescimento da economia), identificam-se três
condições a que deve obedecer a reestruturação da dívida.</div>
<div class="newsP">
<b><i>1) Abaixamento da taxa média de juro</i></b></div>
<div class="newsP">
A primeira condição é o abaixamento significativo da taxa média de juro do stock<b> </b>da
dívida, de modo a aliviar a pesada punção dos recursos financeiros
nacionais exercida pelos encargos com a dívida, bem como ultrapassar o
risco de baixas taxas de crescimento, difíceis de evitar nos próximos
anos face aos resultados diferidos das mudanças estruturais
necessárias. O actual pano de fundo é elucidativo: os juros da dívida
pública directa absorvem 4.5%. do PIB. Atente-se ainda no facto de quase
metade da subida da dívida pública nos últimos anos ter sido devida ao
efeito dos juros. </div>
<div class="newsP">
<b><i>2) Alongamento dos prazos da dívida</i></b></div>
<div class="newsP">
A segunda condição é a extensão das maturidades da
dívida para 40 ou mais anos. A nossa dívida tem picos violentos. De
agora até 2017 o reembolso da dívida de médio e longo prazo atingirá
cerca de 48 mil milhões de euros. Alongamentos da mesma ordem de
grandeza relativa têm respeitáveis antecedentes históricos, um dos quais
ocorreu em benefício da própria Alemanha. Pelo Acordo de Londres sobre a
Dívida Externa Alemã, de 27 de Fevereiro de 1953, a dívida externa
alemã anterior à II Guerra Mundial foi perdoada em 46% e a posterior à
II Guerra em 51,2%. Do remanescente, 17% ficaram a juro zero e 38% a
juro de 2.5% Os juros devidos desde 1934 foram igualmente perdoados.
Foi tambem acordado um período de carência de 5 anos e limitadas as
responsabilidades anuais futuras ao máximo de 5% das exportações no
mesmo ano. O último pagamento só foi feito depois da reunificação
alemã, cerca de 5 décadas depois do Acordo de Londres. O princípio
expresso do Acordo era assegurar a prosperidade futura do povo alemão,
em nome do interesse comum. Reputados historiadores económicos alemães
são claros em considerar que este excepcional arranjo é a verdadeira
origem do milagre económico da Alemanha. O Reino Unido, que alongou por
décadas e décadas o pagamento de dívidas suas, oferece outro exemplo.
Mesmo na zona euro, já se estudam prazos de 50 anos para a Grécia.
Portugal não espera os perdões de dívida e a extraordinária cornucópia
de benesses então concedida à Alemanha mas os actuais líderes europeus
devem ter presente a razão de ser desse Acordo: o interesse comum. No
actual contexto, Portugal pode e deve, por interesse próprio,
responsabilizar-se pela sua dívida, nos termos propostos, visando sempre
assegurar o crescimento económico e a defesa do bem-estar vital da sua
população, em condições que são também do interesse comum a todos os
membros do euro. </div>
<div class="newsP">
<b>3) </b><b><i>Reestruturar, pelo menos, a dívida acima de 60% do PIB</i></b></div>
<div class="newsP">
Há que estabelecer qual a parte da dívida abrangida
pelo processo especial de reestruturação no âmbito institucional
europeu. O critério de Maastricht fixa o limite da dívida em 60% do
PIB. É diversa a composição e volume das dívidas nacionais. Como é
natural, as soluções a acordar devem reflectir essa diversidade. A
reestruturação deve ter na base a dívida ao sector oficial, se
necessário complementada por outras responsabilidades de tal modo que a
reestruturação incida, em regra, sobre dívida acima de 60% do PIB.
Nestes termos, mesmo a própria Alemanha poderia beneficiar deste novo
mecanismo institucional, tal como vários outros países da Europa do
Norte.</div>
<div class="newsP">
Os mecanismos da reestruturação devem instituir
processos necessários à recuperação das economias afectadas pela
austeridade e a recessão, tendo em atenção a sua capacidade de pagamento
em harmonia com o favorecimento do crescimento económico e do emprego
num contexto de coesão nacional. Se forem observadas as três condições
acima enunciadas, então será possível uma solução no quadro da União e
da zona euro com um aproveitamento máximo do quadro jurídico e
institucional existente.</div>
<div class="newsP">
A celeridade da aprovação e entrada em funcionamento do regime de<b> </b>reestruturação
é vital. A única maneira de acelerar essa negociação é colocá-la desde o
início no terreno firme do aproveitamento máximo da cooperação entre
Estados-membros, de modo a acolher o alongamento do prazo de
reestruturação, a necessária redução de juros e a gestão financeira da
reestruturação, tendo em atenção as finalidades visadas pelos mecanismos
de reestruturação.</div>
<div class="newsP">
Cada país integraria em conta exclusivamente sua a
dívida a transferir e pagaria as suas responsabilidades, por exemplo,
mediante a transferência de anuidades de montantes e condições
pré-determinadas adequadas à capacidade de pagamento do devedor. As
condições do acordo a estabelecer garantiriam a sua estabilidade, tendo
em conta as responsabilidades assumidas por cada Estado-membro. Deste
modo, a uma sã e rigorosa gestão orçamental no respeito das normas
constitucionais acresceria o contributo da cooperação europeia assim
orientada. As condições relativas a taxas de juro, prazos e montantes
abrangidos devem ser moduladas conjugadamente, a fim de obter a redução
significativa do impacto dos encargos com a dívida no défice da balança
de rendimentos do país e a sustentabilidade da dívida pública, bem como a
criação de condições decisivas favoráveis à resolução dos
constrangimentos impostos pelo endividamento do sector empresarial
público e privado e pelo pesado endividamento externo.</div>
<div class="newsP">
O processo de reestruturação das dívidas públicas já
foi lançado pela Comissão Europeia.Fomos claros quanto a condições a que
deve obedecer esse processo. A sua defesa desde o o ínicio é essencial.
O nosso alheamento pode vir a ser fatal para o interesse nacional.</div>
<div class="newsP">
A reestruturação adequada da dívida abrirá uma
oportunidade ímpar, geradora de responsabilidade colectiva, respeitadora
da dignidade dos portugueses e mobilizadora dos seus melhores esforços a
favor da recuperação da economia e do emprego e do desenvolvimento
sustentavel com democracia e responsabilidade social. </div>
<div class="newsP">
Por quanto ficou dito, os signatários reiteram a sua
convicção de que a estratégia de saída sustentada da crise exige a
estreita harmonização das nossas responsabilidades em dívida com um
crescimento duradouro no quadro de reforçada coesão e solidariedade
nacional e europeia.</div>
<div class="newsP">
Estes são os termos em que os signatários apelam ao
debate e à preparação, em prazo útil, das melhores soluções para a
reestruturação da dívida.</div>
<div style="background-color: white; border: medium none; color: black; overflow: hidden; text-align: left; text-decoration: none;">
<br />Ler mais: <a href="http://expresso.sapo.pt/leia-na-integra-o-manifesto-que-pede-a-reestruturacao-da-divida=f860341#ixzz2vj1Y54PM" style="color: #003399;">http://expresso.sapo.pt/leia-na-integra-o-manifesto-que-pede-a-reestruturacao-da-divida=f860341#ixzz2vj1Y54PM</a></div>
Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-85188000586466587552014-03-10T05:48:00.002+00:002014-03-10T05:48:30.968+00:00Noam Chomsky<span class="text_exposed_show"><br /> <br /> 1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.<br /> <br />
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração
que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e
das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a
técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de
informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente
indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos
conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da
psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do
público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por
temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado,
sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais
(citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranquilas')”.<br /> <br /> 2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.<br /> <br />
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um
problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a
fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer
aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a
violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o
público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da
liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como
um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento
dos serviços públicos.<br /> <br /> 3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.<br /> <br />
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la
gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira
que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram
impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo,
privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa,
salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que
haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só
vez.<br /> <br /> 4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.<br /> <br /> Outra maneira de se
fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo
“dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para
uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que
um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado
imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a
tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o
sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público
para acostumar-se com a ideia de mudança e de aceitá-la com resignação
quando chegar o momento.<br /> <br /> 5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.<br /> <br />
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso,
argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas
vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de
baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar
enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por
quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12
anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa
probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido
crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas
silenciosas para guerras tranquilas”)”.<br /> <br /> 6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.<br /> <br />
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um
curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos
indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite
abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar
idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…<br /> <br /> 7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.<br /> <br />
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os
métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da
educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e
medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira
entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e
permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas
silenciosas para guerras tranquilas’)”.<br /> <br /> 8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.<br /> <br /> Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…<br /> <br /> 9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.<br /> <br />
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua
própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de
suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se
contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o
que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição
da sua ação. E, sem ação, não há revolução!<br /> <br /> 10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.<br /> <br />
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência
têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas
possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à
neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um
conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como
psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo
comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na
maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder
sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.</span>Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-22255513293970535952014-02-22T10:55:00.000+00:002014-02-22T10:55:21.239+00:00<h1>
"Estamos ou não melhor?" - A pergunta que queima</h1>
<summary><div class="newsP">
A formulação de Passos no discurso de
abertura foi um passo ousado do líder do PSD. PS, críticos internos,
presidenciais - temas fortes de um regresso ao Coliseu </div>
</summary>
<div class="row-fluid">
<div class="author-info">
<span style="background-color: yellow;"><span class="artigoAutor">Martim Silva</span></span></div>
<time datetime="2014-02-21 18:44:44" pubdate=""></time><section id="conteudo">
<div class="newsP">
<b>O casamento Passos/Portas </b>Se este
congresso se tivesse realizado há uns meses, a relação entre o PSD e o
CDS e a relação entre Passos Coelho e Paulo Portas seria seguramente um
dos temas de topo. Hoje, fevereiro de 2014, deixou de ser uma
preocupação aguda dentro da maioria. Será que vai ser assim até 2015 ou
temas como a baixa do IRS (de que Passos não é entusiasta) ou a saída da
troika vão voltar a fazer azedar as relações?</div>
<div class="newsP">
<b>Presidenciais </b>No primeiro dia de Congresso,
pouco ou nada se falou de presidenciais. Mas o tema deve subir ao palco
na intervenção de alguns congressistas neste sábado. </div>
<div class="newsP">
<b>Soares aplaudido </b>Passos ao evocar a história do
partido e o seu papel na construção da democracia portuguesa, teve uma
palavra e um gesto simpático para com Mário Soares, evocando o seu nome.
E ouviram-se aplausos. </div>
<div class="newsP">
<b>Frases do discurso de Passos: </b>"O PSD não é hoje
menos social-democrata do que em 1974"; "Quando se começa a levar
pancada, às vezes dói mais quando já estamos moídos"; "O Governo está a
ajudar a salvar Portugal"; "Julgo que ninguém tem dúvidas que estamos
hoje melhor que há dois anos"; "A oposição está zangada com o que se
passa no país"; "Nunca ninguém me viu a silenciar seja quem for";
"Portugueses não tolerariam que voltassemos para trás"; "A receita
socialista não é sustentável"; </div>
<div class="newsP">
<b>A relação com o PS </b>Levanta-me alguma perplexida a
intervenção de Passos num ponto: todo o seu discurso troika e pós
troika assenta na necessidade de acordos, consenso. O que passa pela
necessidade de, de alguma forma, dar a mão ao PS. Ora, se assim é, e se
isso é assim tão importante, para quê o "malhar" de forma insistente nos
socialistas como Passos fez na intervenção de sexta-feira? É que essa
não é seguramente a estrada mais curta para serem conseguidos acordos. </div>
<div class="newsP">
<b>Estamos ou não melhor? (parte dois) </b>Aliás, a
ideia do "estamos ou não melhor", levanta outra observação sobre Passos.
E sobre a forma cerebral, fria, quase de pedra como ele parece falar e
agir. Durante três anos foi dessa forma fria que aplicou a austeridade
(não estou a dizer que o fez mal, apenas que o fez de forma dura e
fria). Agora, ao anunciar a retoma e ao dizer que estamos melhor que há
dois anos, volta a parecer totalmente frio e cerebral e racional. Porque
dificilmente se entende que diga tal coisa quando, manifestamente, o
país, nós todos, ainda estamos bem dentro do poço. Podemos estar a
caminhar na direcção da saída (e eu até acredito que estamos), mas que
ainda estamos lá bem no fundo, estamos. Pego na frase que Balsemão
dirigiu aos congressistas, no vídeo na abertura do congresso: "A
política também é coração". Pode ser, mas seguramente que não para
Passos Coelho.</div>
<div class="newsP">
<b>Es</b><b>tamos ou não melhor? </b>Ideia central na
intervenção de Passos Coelho, e provavelmente uma das ideias fortes que
vai marcar todo o Congresso, foi quando perguntou "estamos melhor ou
pior que há dois anos?" aos congressistas, lançando em seguida um monte
de dados, estatísticas e números para, finalmente, concluir que "julgo
que ninguém tem dúvidas de que estamos melhor". Passos deu aqui um passo
claramente maior que a perna. Umas coisa é dizer que estamos no caminho
certo. Que já batemos no fundo do poço. Que o crescimento da economia é
sustentável. Mas verdadeiramente o que "queima" na pergunta que Passos
faz é que a mesma pergunta, se feita mentalmente por cada um dos
portugueses, pode levar a uma resposta que não é propriamente a mesma
que o líder do PSD deu no Congresso.</div>
<div class="newsP">
<b>Entre o esfrangalhado e o eufórico. </b>Se o
Congresso do PSD se tivesse realizado há apenas seis meses, o que
teriamos assistido era a um partido (e a um Governo) totalmente
esfrangalhado, sem ânimo, nem norte. É verdade que o golpe de asa de
Passos a resolver a crise do verão, e ao conseguir manter a coligação
viva, foi provavelmente o momento decisivo da legislatura. E que agora o
estado de alma laranja é outro. Longe de eufórico mas pelo menos já não
tão deprimido - a isso ajudam e muito os números da economia dos
últimos meses, que afastaram a ideia da espiral recessiva que durante
tanto tempo pairou como uma nuvem negra sobre o país. Mas daí a que
Passos se permita dizer que estamos hoje melhor que há dois anos, vai
um oceano de diferenças. Até se percebe que diga que estamos no caminho
certo, mas não era preciso exagerar...</div>
<div class="newsP">
<b>O discurso longooooo de Passos. </b>Quase uma hora a
falar aos congressistas na abertura do encontro. Uma intervenção para
"prestar contas", como o próprio afirmou. Um tom muito muito
professoral, sempre a debitar números e estatísticas. Um discurso longe,
muito longe, de empolgante. Aliás, não me lembro de um discurso de
abertura de um congresso partidário em que o líder tenha sido tão pouco
aplaudido (mas o problema pode mesmo ser a minha memória). Só quando
Passos se dispôs a "malhar" no PS é que verdadeiramente a sala começou a
aquecer. Passos falou, como tantas vezes nestes três anos, de
improviso. Não só não usa teleponto como Sócrates, como nem sequer traz
discurso escrito. </div>
<div class="newsP">
<b>O bando louco de neoliberais (parte dois). </b>Percebe-se
que, por puro instinto de sobrevivência e depois de três anos de
governação e a poucos meses de eleições, o PSD insista tanto nesta tecla
de "vejam como nós não somos nem nunca fomos liberais". Mas o tema não
deixa de me causar alguma espécie. Há quatro anos quando chegou à
liderança do PSD Passos Coelho assumiu um programa marcadamente liberal
(tirar o Estado da Economia, Constituição, etc, etc). Normal num partido
grande e de centro-direita, onde cabem de liberais a conservadores a
sociais-democratas a maçons a católicos. No fundo, onde cabe quase tudo.
Ora, o que me causa espécie não é que Passos tenha assumido em 2010 um
programa liberal. Nem, no limite, que quatro anos depois o pragmatismo
eleitoral e partidário levado ao extremo leve a uma inversão de agulhas.
Verdadeiramente o que me causa espécie é que agora se passe uma esponja
e se queira esconder que o programa que levou estes senhores ao poder
era claramente um programa liberal e liberalizante para o país.</div>
<div class="newsP">
<b>O bando louco de neoliberais. </b>Todo o Congresso
está montado em torno do mote "somos muito mas muito
sociais-democratas". Das frases de Sá Carneiro que envolvem a sala do
Congresso, ao vídeo mostrado na abertura em que se puxou até mais não
pelo papel do PSD (ou melhor, da chamada Ala Liberal, já que o PSD nem
sequer existia na altura) no combate ao Estado novo e pela
democratização do regime. Até músicas de abril se ouviram. Passos disse
mesmo na sua intervenção de abertura que o partido é hoje tão
social-democrata como era em 74. O tema, manifestamente, é hoje quase
uma obsessão desta liderança, que quer mostrar à exaustão que quem manda
no PSD não é um bando de neoliberais furiosos. Que amam o Estado Social
tanto ou mais que o mais empedernido socialista. Percebe-se que o
façam: depois de três anos de troika, o rótulo de liberal passou
infelizmente em Portugal a quase equivaler a insulto. </div>
<div class="newsP">
<b>Os críticos. </b>Logo na primeira intervenção do
congresso, de Miguel Pinto Luz, líder da distrital de Lisboa do partido,
deu o mote do que vai ser seguramente uma das notas fortes deste
congresso: "O PSD não está nas televisões, está aqui". O ataque aos
críticos internos, a maior parte deles ausente vai servir como toque a
rebate, como tentativa de unir as hostes. Arranja-se um inimigo interno,
o que ainda por cima ajuda a animar um congresso que não tem grandes
pontos de interesse. Vai ser dos temas que mais aplausos vai garantir
entre os congressistas, seguramente.</div>
<div class="newsP">
<b>Presenças e ausências. </b>Já se percebeu que dos
temas mais abordados neste Congresso vai ser a ausência de algumas das
principais figuras laranja do Coliseu, sendo que são essas precisamente
algumas das figuras mais críticas da atual linha de atuação do partido.
Ferreira Leite, Marques Mendes, Marcelo, etc. Na abertura ainda havia a
dúvida sobre se Menezes regressava ou não ao Coliseu (depois da
celebremente triste intervenção dos sulistas, elitistas e liberais de há
19 anos). </div>
<div class="newsP">
<b>As Europeias. </b>Tema preferido, ou pelo menos um
dos temas preferidos na abertura do Congresso eram as eleições Europeias
do próximo dia 25 de maio. Os diretos televisivos durante a tarde de
sexta-feira à porta e dentro do Coliseu foram muito centrados na questão
de saber se o partido iria ou não apresentar o seu cabeça de lista (que
sabe-se vai ser Paulo Rangel) neste Congresso. Uns achavam que sim,
devia ser neste fim de semana que o nome era anunciado, outros achavam
que não. O deputado Duarte Pacheco disse mesmo que o nome iria ser
divulgado durante o Congresso. Mas seria o próprio Paulo Rangel a dizer à
entrada que a questão não iria ser tratada (ou seja, o anúncio formal)
nestes três dias.</div>
<div class="newsP">
<b>A presença de Portas</b>. Pouco antes de começar o
XXXV Congresso do PSD, no Coliseu, ficou a saber-se que Paulo Portas
iria repetir a presença na sessão de encerramento do conclave laranja,
repetindo o que fizera há dois anos, no Congresso do Pavilhão Atlântico.
Depois de Passos ter sido há pouco tempo aplaudido no Congresso do CDS,
não deixa de ser curioso verificar qual a reacção que Portas causará ao
"povo" laranja. Até porque, se é verdade que as relações entre os dois
líderes e os dois partidos está hoje "normalizada", não o é menos que
foi por causa de Portas que no último verão a maioria esteve a
centímetros de se estatelar.</div>
<div class="newsP">
<b>Regresso ao local onde foste feliz.</b> O XXXV
Congresso do PSD realiza-se este fim de semana no Coliseu de Lisboa. É a
quinta vez que os sociais-democratas escolhem esta sala tradicional
para a realização dos seus conclaves. Bem se pode dizer que o Coliseu é
"A SALA" dos congressos do PSD. Aqui se passaram momentos épicos, como o
célebre congresso de fevereiro de 1995, que marcou a sucessão de Cavaco
Silva depois de dez anos à frente do partido (o congresso dos
"sulistas, elitistas e liberais").</div>
</section></div>
<br />Ler mais: <a href="http://expresso.sapo.pt/estamos-ou-nao-melhor-a-pergunta-que-queima=f857365#ixzz2u2z4dppq" style="color: #003399;">http://expresso.sapo.pt/estamos-ou-nao-melhor-a-pergunta-que-queima=f857365#ixzz2u2z4dppq</a>Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-81780756187357055642014-02-11T16:22:00.002+00:002014-02-11T16:22:21.179+00:00Nunca pensei em ser polícia... Agora, o governo quer fazer de mim um polícia (ainda por cima à paisana) e também um denunciante.<br />
<div class="SubCaixaContainer">
O processo não é
complicado. Quem pedir sempre a factura a quem lhe vende um café, um
bife ou um casaco, chega ao fim do ano com um molho de bilhetes de
lotaria para o sorteio de um carro “topo de gama”, que o governo oferece
ao “bom cidadão”. Isto permite ao ministério das Finanças comparar o
volume de negócios declarado de qualquer restaurante ou de qualquer loja
com a documentação que lhe entregou a classe média à procura de um Audi
ou de um Mercedes, que a faça brilhar na vizinhança e espicace a sempre
viva inveja da família e amigos. Para animar as coisas, que, segundo
consta, não andam bem, o Estado obriga toda a gente a pedir factura.</div>
Como
se compreenderá, o Estado transforma assim com habilidade e subtileza
os portugueses numa corporação de espionagem encarregada de se espiar a
si mesma, sem gastar mais do que um carro apreendido a um criminoso ou
contrabandista. Vivendo perto da falência, o comércio e a restauração
tendem a subtrair uma factura ou outra à tosquia fiscal a que estão
submetidos. Esta prática irrita os peritos que aconselharam ao sr.
primeiro-ministro este método democrático. A Espanha acha o estratagema
“pitoresco”. Por mim, que não sou a Espanha, acho a ideia tenebrosa:
vexatória, indigna, irresponsável, excessivamente parecida com episódios
conhecidos da Ditadura e dos regimes que ela imitava e venerava. E, no
fim do ano, gostava de ver a cara do meu compatriota que ganhou esse
glorioso concurso.<br />
Estou daqui a imaginar a cena. O indivíduo
gordo e triunfante que atrapalhou a vida a centenas de pessoas, que
tinham cometido o erro de confiar nele. O sr. Passos Coelho, seguido da
sua trupe e da sua inconsciência. O automóvel cintilando ao longe. O
premiado começará por apertar a mão a S. Exa. com uma grande vénia. E, a
seguir, S. Exa. retribuirá com um pequeno discurso sobre as vantagens
da coesão social, do enorme esforço que se espera do conjunto da Pátria e
dos milhões que a operação angariou para os pobrezinhos, que ele
particularmente estima. Um secretário entregará a chave do carro ao
polícia e denunciante do ano e essa virtuosa personagem tornará a
apertar com respeito a mão do sr. Passos. A sociedade portuguesa avançou
um novo passo para a abjecção.<br />
(Vasco Pulido Valente) Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-53658270450568298782014-02-11T11:01:00.004+00:002014-02-11T11:01:42.677+00:00O ROUBO DO PRESENTE<strong> </strong><br />
<strong>(José Gil) </strong><br />
<br />
Há
pelo menos uma década e meia está a ser planeada e experimentada quer a
nível do nosso país, quer na Europa e no mundo uma nova ditadura- não
tem armas, não tem aparência de assalto, não tem bombas, mas tem terror
e opressão e domesticação social e se deixarmos andar, é também um
golpe de estado e terá um só partido e um só governo- ditadura
psicológica.<br />
Nunca uma situação se desenhou assim para o povo
português: não ter futuro, não ter perspectivas de vida social,
cultural, económica, e não ter passado porque nem as competências nem a
experiência adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o
tempo da formação e o da esperança foi porque fomos desapossados do
nosso presente. Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco negro. O
«empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida,
porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O
passado de nada serve e o futuro entupiu. O poder destrói o presente
individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de
trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário
com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade
de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar.
Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o
seu trabalho. O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de
austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas
suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes:
stress, depressões, patologias border-/ine enchem os gabinetes dos
psiquiatras que os acolhem. É o massacre dos professores. Em exemplo
contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a
política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos
portugueses (sobretudo jovens). O presente não é uma dimensão abstracta
do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da
vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do
passado e do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas
direcções. Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do
que torna possível a afirmação da nossa presença no presente do espaço
público. Actualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem
enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade está a
produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por
si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade
esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e
para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a
textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo
(real e mental) para o convivio. A solidariedade efectiva não chega
para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar
o Estado social, como está a destruir a sociedade civil. Um fenómeno,
propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do
presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e
aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a
sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se
romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte
de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando,
paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância,
vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num
ser espectral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o
que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para
si. Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si
mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se
ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a
fantomatização em massa do povo português. Este Governo transforma-nos
em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria-nos do nosso
poder de acção. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se
queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país.Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-54791459236827794342014-01-22T13:32:00.002+00:002014-01-22T13:33:44.301+00:00Edgar Morin<b>Pourquoi la vitesse est-elle à ce point ancrée dans le fonctionnement de notre société ?</b><br />
La vitesse fait partie du grand mythe du progrès, qui anime la
civilisation occidentale depuis le XVIIIe et le XIXe siècle. L’idée
sous-jacente, c’est que nous allons grâce à lui vers un avenir toujours
meilleur. Plus vite nous allons vers cet avenir meilleur, et mieux
c’est, naturellement. C’est dans cette optique que se sont multipliées
les communications, aussi bien économiques que sociales, et toutes
sortes de techniques qui ont permis de créer des transports rapides. Je
pense notamment à la machine à vapeur, qui n’a pas été inventée pour des
motivations de vitesse mais pour servir l’industrie des chemins de fer,
lesquels sont eux-mêmes devenus de plus en plus rapides. Tout cela est
corrélatif par le fait de la multiplication des activités et rend les
gens de plus en plus pressés. Nous sommes dans une époque où la
chronologie s’est imposée.<br />
<h2 class="inter_titre_article">
Cela est-il donc si nouveau ?</h2>
Dans
les temps anciens, vous vous donniez rendez-vous quand le soleil se
trouvait au zénith. Au Brésil, dans des villes comme Belém, encore
aujourd’hui, on se retrouve « après la pluie ». Dans ces schémas, vos
relations s’établissent selon un rythme temporel scandé par le soleil.
Mais la montre-bracelet, par exemple, a fait qu’un temps abstrait s’est
substitué au temps naturel. Et le système de compétition et de
concurrence – qui est celui de notre économie marchande et capitaliste –
fait que pour la concurrence, la meilleure performance est celle qui
permet la plus grande rapidité. La compétition s’est donc transformée en
compétitivité, ce qui est une perversion de la concurrence. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Cette quête de vitesse n’est-elle pas une illusion ?</h2>
En
quelque sorte si. On ne se rend pas compte – alors même que nous
pensons faire les choses rapidement – que nous sommes intoxiqués par le
moyen de transport lui-même qui se prétend rapide. L’utilisation de
moyens de transport toujours plus performants, au lieu d’accélérer notre
temps de déplacement, finit – notamment à cause des embouteillages –
par nous faire perdre du temps ! Comme le disait déjà Ivan Illich <i>(philosophe autrichien né en 1926 et mort en 2002, ndlr)</i> : <i>« La voiture nous ralentit beaucoup. »</i>
Même les gens, immobilisés dans leur automobile, écoutent la radio et
ont le sentiment d’utiliser malgré tout le temps de façon utile. Idem
pour la compétition de l’information. On se rue désormais sur la radio
ou la télé pour ne pas attendre la parution des journaux. Toutes ces
multiples vitesses s’inscrivent dans une grande accélération du temps,
celui de la mondialisation. Et tout cela nous conduit sans doute vers
des catastrophes. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Le progrès et le rythme auquel nous le construisons nous détruit-il nécessairement ?</h2>
Le
développement techno-économique accélère tous les processus de
production de biens et de richesses, qui eux-mêmes accélèrent la
dégradation de la biosphère et la pollution généralisée. Les armes
nucléaires se multiplient et on demande aux techniciens de faire
toujours plus vite. Tout cela, effectivement, ne va pas dans le sens
d’un épanouissement individuel et collectif ! <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Pourquoi cherchons-nous systématiquement une utilité au temps qui passe ?</h2>
Prenez
l’exemple du déjeuner. Le temps signifie convivialité et qualité.
Aujourd’hui, l’idée de vitesse fait que dès qu’on a fini son assiette,
on appelle un garçon qui se dépêche pour débarrasser et la remplacer. Si
vous vous emmerdez avec votre voisin, vous aurez tendance à vouloir
abréger ce temps. C’est le sens du mouvement slow food dont est née
l’idée de « slow life », de « slow time » et même de « slow science ».
Un mot là-dessus. Je vois que la tendance des jeunes chercheurs, dès
qu’ils ont un domaine, même très spécialisé, de travail, consiste pour
eux à se dépêcher pour obtenir des résultats et publier un « grand »
article dans une « grande » revue scientifique internationale, pour que
personne d’autre ne publie avant eux. Cet esprit se développe au
détriment de la réflexion et de la pensée. Notre temps rapide est donc
un temps antiréflexif. Et ce n’est pas un hasard si fleurissent dans
notre pays un certain nombre d’institutions spécialisées qui prônent le
temps de méditation. Le yoguisme, par exemple, est une façon
d’interrompre le temps rapide et d’obtenir un temps tranquille de
méditation. On échappe de la sorte à la chronométrie. Les vacances,
elles aussi, permettent de reconquérir son temps naturel et ce temps de
la paresse. L’ouvrage de Paul Lafargue <i>Le droit à la paresse</i> (qui
date de 1880, ndlr) reste plus actuel que jamais car ne rien faire
signifie temps mort, perte de temps, temps non-rentable. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Pourquoi ?</h2>
Nous
sommes prisonniers de l’idée de rentabilité, de productivité et de
compétitivité. Ces idées se sont exaspérées avec la concurrence
mondialisée, dans les entreprises, puis répandues ailleurs. Idem dans le
monde scolaire et universitaire ! La relation entre le maître et
l’élève nécessite un rapport beaucoup plus personnel que les seules
notions de rendement et de résultats. En outre, le calcul accélère tout
cela. Nous vivons un temps où il est privilégié pour tout. Aussi bien
pour tout connaître que pour tout maîtriser. Les sondages qui anticipent
d’un an les élections participent du même phénomène. On en arrive à les
confondre avec l’annonce du résultat. On tente ainsi de supprimer
l’effet de surprise toujours possible. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
A qui la faute ? Au capitalisme ? A la science ?</h2>
Nous
sommes pris dans un processus hallucinant dans lequel le capitalisme,
les échanges, la science sont entraînés dans ce rythme. On ne peut
rendre coupable un seul homme. Faut-il accuser le seul Newton d’avoir
inventé la machine à vapeur ? Non. Le capitalisme est essentiellement
responsable, effectivement. Par son fondement qui consiste à rechercher
le profit. Par son moteur qui consiste à tenter, par la concurrence, de
devancer son adversaire. Par la soif incessante de « nouveau » qu’il
promeut grâce à la publicité… Quelle est cette société qui produit des
objets de plus en plus vite obsolètes ? Cette société de consommation
qui organise la fabrication de frigos ou de machines à laver non pas à
la durée de vie infinie, mais qui se détraquent au bout de huit ans ? Le
mythe du nouveau, vous le voyez bien – et ce, même pour des lessives –
vise à toujours inciter à la consommation. Le capitalisme, par sa loi
naturelle – la concurrence –, pousse ainsi à l’accélération permanente,
et par sa pression consommationniste, à toujours se procurer de nouveaux
produits qui contribuent eux aussi à ce processus.
<b>On le voit à travers de multiples mouvements dans
le monde, ce capitalisme est questionné. Notamment dans sa dimension financière…</b><br />
Nous sommes entrés dans une crise profonde sans savoir ce qui va en
sortir. Des forces de résistance se manifestent effectivement.
L’économie sociale et solidaire en est une. Elle incarne une façon de
lutter contre cette pression. Si on observe une poussée vers
l’agriculture biologique avec des petites et moyennes exploitations et
un retour à l’agriculture fermière, c’est parce qu’une grande partie de
l’opinion commence à comprendre que les poulets et les porcs
industrialisés sont frelatés et dénaturent les sols et la nappe
phréatique. Une quête vers les produits artisanaux, les Amap <i>(Associations pour le maintien d’une agriculture paysanne, ndlr)</i>,
indique que nous souhaitons échapper aux grandes surfaces qui,
elles-mêmes, exercent une pression du prix minimum sur le producteur et
tentent de répercuter un prix maximum sur le consommateur. Le commerce
équitable tente, lui aussi, de court-circuiter les intermédiaires
prédateurs. Certes, le capitalisme triomphe dans certaines parties du
monde, mais une autre frange voit naître des réactions qui ne viennent
pas seulement des nouvelles formes de production (coopératives,
exploitations bio), mais de l’union consciente des consommateurs. C’est à
mes yeux une force inemployée et faible car encore dispersée. Si cette
force prend conscience des produits de qualité et des produits
nuisibles, superficiels, une force de pression incroyable se mettra en
place et permettra d’influer sur la production.<br />
<h2 class="inter_titre_article">
Les politiques et leurs partis ne
semblent pas prendre conscience de ces forces émergentes. Ils ne
manquent pourtant pas d’intelligence d’analyse…</h2>
Mais vous partez de
l’hypothèse que ces hommes et femmes politiques ont déjà fait cette
analyse. Or, vous avez des esprits limités par certaines obsessions,
certaines structures. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Par obsession, vous entendez croissance ?</h2>
Oui !
Ils ne savent même pas que la croissance – à supposer qu’elle revienne
un jour dans les pays que l’on dit développés – ne dépassera pas 2 % !
Ce n’est donc pas cette croissance-là qui parviendra à résoudre la
question de l’emploi ! La croissance que l’on souhaite rapide et forte
est une croissance dans la compétition. Elle amène les entreprises à
mettre des machines à la place des hommes et donc à liquider les gens et
à les aliéner encore davantage. Il me semble donc terrifiant de voir
que des socialistes puissent défendre et promettre plus de croissance.
Ils n’ont pas encore fait l’effort de réfléchir et d’aller vers de
nouvelles pensées. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Décélération signifierait décroissance ?</h2>
Ce
qui est important, c’est de savoir ce qui doit croître et ce qui doit
décroître. Il est évident que les villes non polluantes, les énergies
renouvelables et les grands travaux collectifs salutaires doivent
croître. La pensée binaire, c’est une erreur. C’est la même chose pour
mondialiser et démondialiser : il faut poursuivre la mondialisation dans
ce qu’elle créé de solidarités entre les peuples et envers la planète,
mais il faut la condamner quand elle crée ou apporte non pas des zones
de prospérité mais de la corruption ou de l’inégalité. Je milite pour
une vision complexe des choses. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
La vitesse en soi n’est donc pas à blâmer ?</h2>
Voilà.
Si je prends mon vélo pour aller à la pharmacie et que je tente d’y
parvenir avant que celle-ci ne ferme, je vais pédaler le plus vite
possible. La vitesse est quelque chose que nous devons et pouvons
utiliser quand le besoin se fait sentir. Le vrai problème, c’est de
réussir le ralentissement général de nos activités. Reprendre du temps,
naturel, biologique, au temps artificiel, chronologique et réussir à
résister. Vous avez raison de dire que ce qui est vitesse et
accélération est un processus de civilisation extrêmement complexe, dans
lequel techniques, capitalisme, science, économie ont leur part. Toutes
ces forces conjuguées nous poussent à accélérer sans que nous n’ayons
aucun contrôle sur elles. Car notre grande tragédie, c’est que
l’humanité est emportée dans une course accélérée, sans aucun pilote à
bord. Il n’y a ni contrôle, ni régulation. L’économie elle-même n’est
pas régulée. Le Fonds monétaire international n’est pas en ce sens un
véritable système de régulation. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Le politique n’est-il pas tout de même censé « prendre le temps de la réflexion » ? </h2>
On
a souvent le sentiment que par sa précipitation à agir, à s’exprimer,
il en vient à œuvrer sans nos enfants, voire contre eux… Vous savez, les
politiques sont embarqués dans cette course à la vitesse. J’ai lu une
thèse récemment sur les cabinets ministériels. Parfois, sur les bureaux
des conseillers, on trouvait des notes et des dossiers qualifiés de
« U » pour « urgent ». Puis sont apparus les « TU » pour « très urgent »
puis les « TTU ». Les cabinets ministériels sont désormais envahis,
dépassés. Le drame de cette vitesse, c’est qu’elle annule et tue dans
l’œuf la pensée politique. La classe politique n’a fait aucun
investissement intellectuel pour anticiper, affronter l’avenir. C’est ce
que j’ai tenté de faire dans mes livres comme <i>Introduction à une politique de l’homme</i>, <i>La voie</i>, <i>Terre-patrie</i>…
L’avenir est incertain, il faut essayer de naviguer, trouver une voie,
une perspective. Il y a toujours eu, dans l’Histoire, des ambitions
personnelles. Mais elles étaient liées à des idées. De Gaulle avait sans
doute une ambition, mais il avait une grande idée. Churchill avait de
l’ambition au service d’une grande idée, qui consistait à vouloir sauver
l’Angleterre du désastre. Désormais, il n’y a plus de grandes idées,
mais de très grandes ambitions avec des petits bonshommes ou des petites
bonnes femmes. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Michel Rocard déplorait il y a peu pour « Terra eco » la disparition de la vision à long terme…</h2>
Il
a raison, mais il a tort. Un vrai politique ne se positionne pas dans
l’immédiat mais dans l’essentiel. A force d’oublier l’essentiel pour
l’urgence, on finit par oublier l’urgence de l’essentiel. Ce que Michel
Rocard appelle le <i>« long terme »</i>, je l’intitule « problème de
fond », « question vitale ». Penser qu’il faut une politique planétaire
pour la sauvegarde de la biosphère – avec un pouvoir de décision qui
répartisse les responsabilités car on ne peut donner les mêmes
responsabilités à des pays riches et à des pays pauvres –, c’est une
politique essentielle à long terme. Mais ce long terme doit être
suffisamment rapide car la menace elle-même se rapproche. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Le président de la République Nicolas Sarkozy n’incarne-t-il pas l’immédiateté et la présence médiatique permanente ?</h2>
Il
symbolise une agitation dans l’immédiateté. Il passe à des immédiatetés
successives. Après l’immédiateté, qui consiste à accueillir le despote
libyen Kadhafi car il a du pétrole, succède l’autre immédiateté, où il
faut détruire Kadhafi sans pour autant oublier le pétrole… En ce sens,
Sarkozy n’est pas différent des autres responsables politiques, mais son
caractère versatile et capricieux en font quelqu’un de très singulier
pour ne pas dire un peu bizarre.
<br />
<h2 class="inter_titre_article">
Edgar Morin, vous avez 90 ans. L’état de perpétuelle urgence de nos sociétés vous rend-il pessimiste ?</h2>
Cette
absence de vision m’oblige à rester sur la brèche. Il y a une
continuité dans la discontinuité. Je suis passé de l’époque de la
Résistance où j’étais jeune, où il y avait un ennemi, un occupant et un
danger mortel, à d’autres formes de résistances qui ne portaient pas,
elles, de danger de mort, mais celui de rester incompris, calomnié ou
bafoué. Après avoir été communiste de guerre et après avoir combattu
l’Allemagne nazie avec de grands espoirs, j’ai vu que ces espoirs
étaient trompeurs et j’ai rompu avec ce totalitarisme-là, devenu ennemi
de l’humanité. J’ai combattu cela et résisté. J’ai ensuite
– naturellement – défendu l’indépendance du Vietnam ou de l’Algérie,
quand il s’agissait de liquider un passé colonial. Cela me semblait si
logique après avoir lutté pour la propre indépendance de la France, mise
en péril par le nazisme. Au bout du compte, nous sommes toujours pris
dans des nécessités de résister. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Et aujourd’hui ?</h2>
Aujourd’hui,
je me rends compte que nous sommes sous la menace de deux barbaries
associées. Humaine tout d’abord, qui vient du fond de l’histoire et qui
n’a jamais été liquidée : le camp américain de Guantánamo ou l’expulsion
d’enfants et de parents que l’on sépare, ça se passe aujourd’hui !
Cette barbarie-là est fondée sur le mépris humain. Et puis la seconde,
froide et glacée, fondée sur le calcul et le profit. Ces deux barbaries
sont alliées et nous sommes contraints de résister sur ces deux fronts.
Alors, je continue avec les mêmes aspirations et révoltes que celles de
mon adolescence, avec cette conscience d’avoir perdu des illusions qui
pouvaient m’animer quand, en 1931, j’avais dix ans. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
La combinaison de ces deux barbaries nous mettrait en danger mortel…</h2>
Oui,
car ces guerres peuvent à tout instant se développer dans le fanatisme.
Le pouvoir de destruction des armes nucléaires est immense et celui de
la dégradation de la biosphère pour toute l’humanité est vertigineux.
Nous allons, par cette combinaison, vers des cataclysmes. Toutefois, le
probable, le pire, n’est jamais certain à mes yeux, car il suffit
parfois de quelques événements pour que l’évidence se retourne.
<b>Des femmes et des hommes peuvent-ils aussi avoir ce pouvoir ?</b><br />
Malheureusement, dans notre époque, le système empêche les esprits de
percer. Quand l’Angleterre était menacée à mort, un homme marginal a
été porté au pouvoir, qui se nommait Churchill. Quand la France était
menacée, ce fut De Gaulle. Pendant la Révolution, de très nombreuses
personnes, qui n’avaient aucune formation militaire, sont parvenues à
devenir des généraux formidables, comme Hoche ou Bonaparte ; des
avocaillons comme Robespierre, de grands tribuns. Des grandes époques de
crise épouvantable suscitent des hommes capables de porter la
résistance. Nous ne sommes pas encore assez conscients du péril. Nous
n’avons pas encore compris que nous allons vers la catastrophe et nous
avançons à toute allure comme des somnambules.<br />
<h2 class="inter_titre_article">
Le philosophe Jean-Pierre Dupuy estime que de la catastrophe naît la solution. Partagez-vous son analyse ?</h2>
Il
n’est pas assez dialectique. Il nous dit que la catastrophe est
inévitable mais qu’elle constitue la seule façon de savoir qu’on
pourrait l’éviter. Moi je dis : la catastrophe est probable, mais il y a
l’improbabilité. J’entends par « probable », que pour nous
observateurs, dans le temps où nous sommes et dans les lieux où nous
sommes, avec les meilleures informations disponibles, nous voyons que le
cours des choses nous emmène à toute vitesse vers les catastrophes. Or,
nous savons que c’est toujours l’improbable qui a surgi et qui a
« fait » la transformation. Bouddha était improbable, Jésus était
improbable, Mahomet, la science moderne avec Descartes, Pierre Gassendi,
Francis Bacon ou Galilée était improbables, le socialisme avec Marx ou
Proudhon était improbable, le capitalisme était improbable au Moyen-Age…
Regardez Athènes. Cinq siècles avant notre ère, vous avez une petite
cité grecque qui fait face à un empire gigantesque, la Perse. Et à
deux reprises – bien que détruite la seconde fois – Athènes parvient à
chasser ces Perses grâce au coup de génie du stratège Thémistocle, à
Salamine. Grâce à cette improbabilité incroyable est née la démocratie,
qui a pu féconder toute l’histoire future, puis la philosophie. Alors,
si vous voulez, je peux aller aux mêmes conclusions que Jean-Pierre
Dupuy, mais ma façon d’y aller est tout à fait différente. Car
aujourd’hui existent des forces de résistance qui sont dispersées, qui
sont nichées dans la société civile et qui ne se connaissent pas les
unes les autres. Mais je crois au jour où ces forces se rassembleront,
en faisceaux. Tout commence par une déviance, qui se transforme en
tendance, qui devient une force historique. Nous n’en sommes pas encore
là, certes, mais c’est possible. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Il est donc possible de rassembler ces forces, d’engager la grande métamorphose, de l’individu puis de la société ?</h2>
Ce
que j’appelle la métamorphose, c’est le terme d’un processus dans
lequel de multiples réformes, dans tous les domaines, commencent en même
temps. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Nous sommes déjà dans un processus de réformes…</h2>
Non,
non. Pas ces pseudo-réformes. Je parle de réformes profondes de vie, de
civilisation, de société, d’économie. Ces réformes-là devront se mettre
en marche simultanément et être intersolidaires. <br />
<h2 class="inter_titre_article">
Vous appelez cette démarche « le bien-vivre ». L’expression semble faible au regard de l’ambition que vous lui conférez.</h2>
L’idéal
de la société occidentale – « bien-être » – s’est dégradé en des choses
purement matérielles, de confort et de propriété d’objet. Et bien que
ce mot « bien-être » soit très beau, il fallait trouver autre chose. Et
quand le président de l’Equateur Rafael Correa a trouvé cette formule de
« bien-vivre », reprise ensuite par Evo Morales <i>(le président bolivien, ndlr)</i>,
elle signifiait un épanouissement humain, non seulement au sein de la
société mais aussi de la nature. L’expression « bien vivir » est sans
doute plus forte en espagnol qu’en français. Le terme est « actif » dans
la langue de Cervantès et passif dans celle de Molière. Mais cette idée
est ce qui se rapporte le mieux à la qualité de la vie, à ce que
j’appelle la poésie de la vie, l’amour, l’affection, la communion et la
joie et donc au qualitatif, que l’on doit opposer au primat du
quantitatif et de l’accumulation. Le bien-vivre, la qualité et la poésie
de la vie, y compris dans son rythme, sont des choses qui doivent
– ensemble – nous guider. C’est pour l’humanité une si belle finalité.
Cela implique aussi et simultanément de juguler des choses comme la
spéculation internationale… Si l’on ne parvient pas à se sauver de ces
pieuvres qui nous menacent et dont la force s’accentue, s’accélère, il
n’y aura pas de bien-vivre.Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-72721393231566816082013-12-16T05:10:00.001+00:002013-12-16T05:10:23.577+00:00Por que no meio da dor os negros dançam cantam e riem?<a href="http://leonardoboff.wordpress.com/"><span></span></a> <br />
<div id="description">
</div>
<div id="nav">
<br />
</div>
<div class="pad" id="content">
<div class="post-2401 post type-post status-publish format-standard hentry category-etica category-ecologia category-educacao category-espiritualidade category-politica category-religiao" id="post-2401">
<div class="post-header">
<h1>
<br /></h1>
<div class="date" id="single-date">
12/12/2013</div>
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<div class="author">
</div>
</div>
<div class="entry clear">
Milhares de pessoa em toda a Africa do Sul misturam choro com
dança, festa com lamentos pela morte de Nelson Mandela. É a forma como
realizam culturalmente o rito de passagem da vida deste lado para a vida
do outro lado, onde estão os anciãos, os sábios e os guardiães do povo,
de seus ritos e das normas éticas. Lá está agora Mandela de forma
invisível mas plenamente presente acompanhando o povo que ele tant
ajudou a se libertar.<br />
Momentos como estes nos fazem recordar de nossa mais alta
ancestralidade humana. Todos temos nossas raízes na Africa, embora a
grande maioria o desconheça ou não lhe dê importância. Mas é decisivo
que nos reapropriemos de nossas origens, pois elas, de um modo ou de
outro, na forma de informação, estão inscritas no nosso código genético e
espiritual.<br />
Refiro-me aqui tópicos de um texto que há tempos escrevi sob o
título:”somos todos africanos” atualizado face à situação atual mudada.
De saída importa denunciar a tragédia africana: é o continente mais
esquecido e vandalizado das políticas mundiais. Somente suas terras
contam. São compradas pelos grandes conglomerados mundiais e pela China
para organizar imensas plantações de grãos que devem garantir a
alimentação, não da Africa, mas de seus países ou negociadas no mercado
especulativo. As famosas “land grabbing” possuem, juntas, a extensão de
uma França inteira. Hoje a Africa é uma espécie de espelho retrovisor de
como nós humanos pudemos no passado e podemos hoje ainda ser desumanos
e terríveis. A atual neocolonização é mais perversa que a dos séculos
passados.<br />
Sem olvidar esta tragédia, concentremo-nos na herança africana que se
esconde em nós. Hoje é consenso entre os paleontólogos e antropólogos
que a aventura da hominização se iniciou na África, cerca de sete
milhões de anos atrás. Ela se acelerou passando pelo homo habilis,
erectus, neanderthalense até chegar ao homo sapiens cerca de noventa mil
anos atrás. Depois de ficar 4,4 milhões de anos em solo africano este
se propagou para a Asia, há sessenta mil anos; para a Europa, há
quarenta mil anos; e para as Américas há trinta mil anos. Quer dizer,
grande parte da vida humana foi vivida na África, hoje esquecida e
desprezada.<br />
A África além de ser o lugar geográfico de nossas origens, comparece
como o arquétipo primal: o conjunto das marcas, impressas na alma de
todo ser humano. Foi na África que este elaborou suas primeiras
sensações, onde se articularam as crescentes conexões neurais
(cerebralização), brilharam os primeiros pensamentos, irrompeu a
criatividade e emergiu a complexidade social que permitiu o surgimento
da linguagem e da cultura. O espírito da África, está presente em todos
nós.<br />
Identifico três eixos principais do espírito da África que podem nos inspirar na superação da crise sistêmica que nos assola.<br />
O primeiro é o amor à Mãe Terra, a Mama Africa. Espalhando-se pelos
vastos espaços africanos, nossos ancestrais entraram em profunda
comunhão com a Terra, sentindo a interconexão que todas as coisas
guardam entre si, as águas, as montanhas, os animais, as florestas e as
energias cósmicas. Sentiam-se parte desse todo. Precisamos nos
reapropriar deste espírito da Terra para salvar Gaia, nossa Mãe e única
Casa Comum.<br />
O segundo eixo é a matriz relacional (relational matrix no dizer dos
antropólogos). Os africanos usam a palavra ubuntu que singifica:”eu sou o
que sou porque pertenço à comunidade” ou “eu sou o que sou através de
você e você é você através de mim”. Todos precisamos uns dos outros;
somos interdependentes. O que a física quântica e a nova cosmologia
dizem acerca de interconexão de todos com todos é uma evidência para o
espírito africano.<br />
À essa comunidade pertencem os mortos como Mandela. Eles não vão ao
céu, pois o céu não é um lugar geográfico, mas um modo de ser deste
nosso mundo. Os mortos continuam no meio do povo como conselheiros e
guardiães das tradições sagradas.<br />
O terceiro eixo são os rituais e celebrações. Ficamos admirados que
se dedique um dia inteiro de orações por Mandela com missas e ritos.
Eles sentem Deus na pele, nós ocidentais na cabeça. Por isso dançam e
mexem todo o corpo enquanto nós ficamos frios e duros como um cabo de
vassoura.<br />
Experiências importantes da vida pessoal, social e sazonal são
celebrados com ritos, danças, músicas e apresentações de máscaras. Estas
representam as energias que podem ser benéficas ou maléficas. É nos
rituais que ambas se equilibram e se festeja a primazia do sentido sobre
o absurdo.<br />
Notoriamente é pelas festas e ritos que a sociedade refaz suas
relações e reforça a coesão social. Ademais nem tudo é trabalho e luta.
Há a celebração da vida, o resgate das memórias coletivas e a recordação
das vitórias sobre ameaças vividas.<br />
Apraz-me trazer o testemunho pessoal de um dos nosos mais brilhantes
jornalistas, Washington Novaes:”Há alguns anos, na África do Sul,
impressionei-me ao ver que bastava se reunirem três ou quatro negros
para começarem a cantar ea dançar, com um largo sorriso.Um dia,
perguntei a um jovem motorista de taxi:”Seu povo sofreu e ainda sofre
muito. Mas basta se juntarem umas poucas pessoas e vocês estão dançando,
cantando, rindo. De onde vem tanta força?” E ele: “Com o sofrimento,
nós aprendemos que a nossa alegria não pode depender de nada fora de
nós. Ela tem de ser só nossa, estar dentro de nós.”<br />
Nossa população afrodescendente nos dá a mesma amostra de alegria que nenhum capitalismo e consumismo pode ofecer.<br />
<span style="background-color: red;">Leonardo Boff </span></div>
</div>
</div>
Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-34118707911890118212013-12-13T02:34:00.002+00:002013-12-13T02:35:55.594+00:00... façam o favor de ouvir<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/9xER5_jq4bY" width="420"></iframe><br />Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-16120105731151199422013-12-04T05:25:00.003+00:002013-12-04T05:31:22.021+00:00Testamento <br />
<br />
À prostituta mais nova <br />
Do bairro mais velho e escuro, <br />
Deixo os meus brincos, lavrados <span class="text_exposed_show"><br /> Em cristal, límpido e puro... <br /> </span><br />
<span class="text_exposed_show">E àquela virgem esquecida <br /> Rapariga sem ternura, <br /> Sonhando algures uma lenda, <br /> Deixo o meu vestido branco, <br /> O meu vestido de noiva, <br /> Todo tecido de renda... <br /> </span><br />
<span class="text_exposed_show">Este meu rosário antigo <br /> Ofereço-o àquele amigo <br /> Que não acredita em Deus... <br /> </span><br />
<span class="text_exposed_show">E os livros, rosários meus <br /> Das contas de outro sofrer, <br /> São para os homens humildes, <br /> Que nunca souberam ler. <br /> </span><br />
<span class="text_exposed_show">Quanto aos meus poemas loucos, <br /> Esses, que são de dor <br /> Sincera e desordenada... <br /> Esses, que são de esperança, <br /> Desesperada mas firme, <br /> Deixo-os a ti, meu amor... <br /> Para que, na paz da hora, <br /> Em que a minha alma venha <br /> Beijar de longe os teus olhos, <br /> Vás por essa noite fora... <br /> Com passos feitos de lua, <br /> Oferecê-los às crianças <br /> Que encontrares em cada rua...<br /> <br /> <a href="http://www.ovimbundu.org/categoria/escritores-ovimbundus/alda-lara">Alda Lara - poetisa angolana</a></span>Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-2484279741869076082013-11-26T05:42:00.001+00:002013-11-26T05:44:25.294+00:00ESTÁ A ACONTECER. JÁ SE APERCEBEU?<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYfcJL0Zg5np3Qn3gU03ZAbmR3EEDFQZWL1caUbzfA-KSz3lc1AFZdSpZUbyZXnuiNEXPCxoIF2pBoG_ArwuDu6UkCZ47NP6sBPfpfSlyVujnTgDDCKHaTJPkGOMGrjw-oDqflRg/s1600/Nicolau+Santos.png" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYfcJL0Zg5np3Qn3gU03ZAbmR3EEDFQZWL1caUbzfA-KSz3lc1AFZdSpZUbyZXnuiNEXPCxoIF2pBoG_ArwuDu6UkCZ47NP6sBPfpfSlyVujnTgDDCKHaTJPkGOMGrjw-oDqflRg/s320/Nicolau+Santos.png" /></a>
“Está a acontecer. Aquilo que nem nos passava pela cabeça que pudesse acontecer está mesmo a acontecer. Está a acontecer cada vez com mais regularidade as farmácias não terem os medicamentos de que precisamos. Está a acontecer que nos hospitais há racionamento) de fármacos e uma utilização cada vez mais limitada dos equipamentos. Está a acontecer que muitos produtos que comprávamos nos supermercados desapareceram e já não se encontram em nenhuma prateleira. Está a acontecer que a reparação de um carro, que necessita de um farol ou de uma peça, tem agora de esperar uma ou duas semanas porque o material tem de ser importado do exterior. Está a acontecer que as estradas e as ruas abrem buracos com regularidade, que ou ficam assim durante longos meses ou são reparados de forma atamancada, voltando rapidamente a reabrir. Está a acontecer que a iluminação pública é mais reduzida, que mais e mais lojas dos centros comerciais são entaipadas e desaparecem misteriosamente. Está a acontecer que nas livrarias há menos títulos novos e que as lojas de música se volatilizaram completamente. Está a acontecer que nos bares e restaurantes há agora vagas com fartura, que os cinemas funcionam a meio gás, que os teatros vivem no terror da falta de público. Está tudo isto a acontecer e nós, como o sapo colocado em água fria que vai aquecendo lentamente até ferver, não vemos o perigo, vamos aceitando resignados este lento mas inexorável definhar da nossa vida coletiva e do Estado social, com uma infinita tristeza e uma funda turbação.
Está a acontecer e não poderia ser de outro modo. Está a acontecer porque esta política cega de austeridade está a liquidar a classe média, conduzindo-a a uma crescente pauperização, de onde não regressará durante décadas. Está a acontecer porque, nos últimos quase 40 anos, foi esta classe média que alimentou cinemas, teatros, espetáculos, restaurantes, comércio, serviços de saúde, tudo o que verdadeiramente mudou no país e aquilo que verdadeiramente traduz os hábitos de consumo numa sociedade moderna. Foi na classe média — de professores, médicos, funcionários públicos, economistas, pequenos e médios empresários, jornalistas, artistas, músicos, dançarinos, advogados, polícias, etc. —, que a austeridade cravou o seu mais afiado e longo punhal. E com a morte da classe média morre também a economia e o próprio país.
E morre porque era esta classe média que mais consumia — e que mais estimulava — os produtos culturais nacionais, da literatura à dança, dos jornais às revistas, da música a outro tipo de espetáculos e de manifestações culturais. É por isso que a cultura está a morrer neste país, juntamente com a economia. E se a economia pode ainda recuperar lentamente, já a cultura que desaparece não volta mais. Um país sem economia é um sítio. Um país sem cultura não existe.
Durante a II Guerra Mundial, quando o esforço militar consumia todos os recursos das ilhas britânicas, foi sugerido ao primeiro-ministro Winston Churchill que cortasse nas verbas da cultura. O homem que conduziu a Inglaterra à vitória sobre a Alemanha recusou perentoriamente. “Se cortamos na cultura, estamos a fazer esta guerra para qué?” Mutatis mutandis, a mesma pergunta poderíamos fazer hoje: se retiramos todas as verbas para a cultura, estamos a fazer este ajustamento em nome de quê? Mas esta, claro, é uma questão que nunca se colocará às brilhantes cabeças que nos governam”.
<span style="color: red;">
Nicolau Santos</span>Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-82918198779292249312013-11-19T04:46:00.000+00:002013-11-19T12:06:07.228+00:00"Amanhã é um país desconhecido"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJgC4v53CnggrweWqcYAfUuvAqDT_FhV2mrckkr9UksgiImXnKE_juEoCX84AO83xPCPWtUoW_acEazVah2x7yatAjG9BlL5D7DvHzKifux1nYzxEbmtHjIwPMn1Y2KykSut1ZKA/s1600/Forjaz.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJgC4v53CnggrweWqcYAfUuvAqDT_FhV2mrckkr9UksgiImXnKE_juEoCX84AO83xPCPWtUoW_acEazVah2x7yatAjG9BlL5D7DvHzKifux1nYzxEbmtHjIwPMn1Y2KykSut1ZKA/s1600/Forjaz.jpg" /></a></div>
<span style="font-family: Arial;"><span style="font-weight: bold;">O Moçambique de amanhã depende do que acontecer no Moçambique de hoje.</span></span><br />
<span style="font-family: Arial;"><br />De momento o que está a
acontecer a nível político, pois nem sequer é possivel falar niveis
ideológicos, não é encorajador. Mas o amanhã é um país desconhecido. </span><br />
<span style="font-family: Arial;"><br />Não se sabe ao certo quando começa e quando acaba. O nosso amanhã é diferente do amanhã dos nossos netos.</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Preferimos portanto cingirmo-nos aos próximos anos.</span><br />
<span style="font-family: Arial;"><br />Um cenário plausivel é que
continuaremos a ser guiados, cada vez mais directamente, para uma
situação, comum em África, que é a da caricatura da democracia
aproveitando o baixissimo nivel cultural da maioria e um progressivo e
inexoravel controle dos poucos meios de comunicação social. A
confirmação da efectiva fascização do poder, que já controla
efectivamente o legislativo, o executivo e o judicial.</span><br />
<span style="font-family: Arial;"><br />Este cenário, que parece quase inevitável, continua a ser a regra mais aplicada em África, com pouquissimas excepções. </span><br />
<span style="font-family: Arial;"><br />Porque seriamos nós diferentes
de Angola, do Congo, da Uganda ou do Zimbabwe por exemplo, com passados
tão semelhantes, motivações tão próximas e afinidades tão fortes entre
os seus dirigentes?</span><br />
<span style="font-family: Arial;">A ilusão de que agora, alguns,
vamos ser ricos (…muito ricos…) obscurece sinistramente uma visão
esclarecida sobre um possivel amanhã radioso para todos os moçambicanos.
Entretanto as grandes multinacionais vão cumprindo o seu papel de
mandantes dos interessses imperialistas das grandes potências mundiais e
nós vamos ficando com os buracos, a poluição, fora de casa e com uma
divida colossal para pagar.</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Um cenário alternativo seria o de
voltar a eleger valores éticos e morais como vias de orientação do
processo politico, combater frontalmente a corrupção, a começar pela que
se instalou nos quadros politicos e governativos, promover a qualidade
do ensino, moralizar a função pública, despolitizar a direcção das
instituições e das empresas públicas e, acima de tudo abrir um diálogo
não demagógico sobre as perspectivas que se podem desenhar com a
aplicação dos beneficios da exploração das riquezas naturais para a
melhoria efectiva das condições de vida de todo o povo moçambicano.</span><br />
<span style="font-family: Arial;">E porque não dar alguma atenção a documentos como a Agenda 2025 ? </span><br />
<span style="font-family: Arial;">Na sua versão original, e na sua
revisão, são apontados caminhos corajosos e, sobretudo, possiveis para
uma renascença da credibilidade interna e externa de Moçambique como um
estado de direito governado para o bem de todo o povo.</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Essa, sim, seria uma verdadeira “renascença Africana”.</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Este cenário parece utópico no momento actual.</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Contudo, para quem atento, o
espirito de justiça está cada vez mais alerta e a repulsa pelas
arbitrariedades, cada vez mais frequentes, que se vão praticando para o
apoderamento da riqueza nacional por uma restrita classe de politicos a
serviço de si próprios, é cada dia mais patente a todos os niveis
sociais e particularmente significativa entre os jovens, cansados das
promessas vazias e do espetáculo da rampante corrupção de quem só se
sabe governar a si próprio.</span><br />
<span style="font-family: Arial;">É esse espirito que nos trás de
volta a esperança, tão desgastada, num futuro Moçambique feito de
pessoas felizes e de natureza respeitada.</span><br />
<span style="font-family: Arial;">(José Forjaz, arquitecto) </span>Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-34338348623146155722013-11-14T08:40:00.001+00:002013-11-14T08:40:31.110+00:00<a href="http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2013/11/13/escola-portuguesa-de-maputo-reforcou-as-medidas-de-seguranca-depois-dos-raptos" target="_blank">http://sicnoticias.sapo.pt/<wbr></wbr>mundo/2013/11/13/escola-<wbr></wbr>portuguesa-de-maputo-reforcou-<wbr></wbr>as-medidas-de-seguranca-<wbr></wbr>depois-dos-raptos</a>Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-73978918829124383462013-11-13T17:09:00.002+00:002013-11-13T17:10:16.038+00:00Quando a Europa salva os bancos, quem paga?<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/UwFolpgpksU" width="560"></iframe><br />Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-72180163951025865722013-10-03T04:24:00.001+01:002013-10-03T04:33:06.803+01:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdZbp16R3t0WWTcHs3py6QUxKQxKya-1_SWzxJ6P8dahgY35s1qZOvihWiwVWdOCbU-sAgH05UCpQwAY12G4hOyFwTBO0DOdESm3qLU9dj6ODQSdPZBgxlXSw5EIyB5lvOmOwEKQ/s1600/020-w.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdZbp16R3t0WWTcHs3py6QUxKQxKya-1_SWzxJ6P8dahgY35s1qZOvihWiwVWdOCbU-sAgH05UCpQwAY12G4hOyFwTBO0DOdESm3qLU9dj6ODQSdPZBgxlXSw5EIyB5lvOmOwEKQ/s320/020-w.jpg" /></a>
The idea that Africans have never had it so good is rapidly becoming
economic orthodoxy. Foreign investors, media and politicians from
William Hague to Jacob Zuma have championed a narrative usually summed
up in two words: "<a href="http://www.economist.com/news/special-report/21572377-african-lives-have-already-greatly-improved-over-past-decade-says-oliver-august">Africa rising</a>". <br />
The
majority of Africans themselves, however, feel that the picture is far
less rosy, complaining that the continent's much vaunted economic growth
is failing to trickle down to their daily lives, according to the
biggest survey of its kind.<br />
<br />
"After a decade of growth in <a href="http://www.theguardian.com/world/africa" title="More from guardian.co.uk on Africa">Africa</a>, little change in <a href="http://www.theguardian.com/society/poverty" title="More from guardian.co.uk on Poverty">poverty</a> at the grassroots," is the title of a report by the <a href="http://www.afrobarometer.org/">Afrobarometer research project</a>, which questioned 51,605 respondents in 34 countries from October 2011 to June this year.<br />
Roughly
one in five Africans told researchers they still often lack food, clean
water or medical care, while about half experience at least occasional
shortages. More than two in five regularly lack a cash income that might
enable them to meet basic needs, and three-quarters report going
without money at least once in the past year. <br />
In 16 countries
where data is available over the past decade, the average experience of
what researchers term "lived poverty" has hardly changed, the report
adds. <br />
"While we do see reductions in five countries (<a href="http://www.theguardian.com/world/cape-verde" title="More from guardian.co.uk on Cape Verde">Cape Verde</a>, <a href="http://www.theguardian.com/world/ghana" title="More from guardian.co.uk on Ghana">Ghana</a>, <a href="http://www.theguardian.com/world/malawi" title="More from guardian.co.uk on Malawi">Malawi</a>, <a href="http://www.theguardian.com/world/zambia" title="More from guardian.co.uk on Zambia">Zambia</a> and <a href="http://www.theguardian.com/world/zimbabwe" title="More from guardian.co.uk on Zimbabwe">Zimbabwe</a>), we also find increases in lived poverty in five others (<a href="http://www.theguardian.com/world/botswana" title="More from guardian.co.uk on Botswana">Botswana</a>, <a href="http://www.theguardian.com/world/mali" title="More from guardian.co.uk on Mali">Mali</a>, <a href="http://www.theguardian.com/world/senegal" title="More from guardian.co.uk on Senegal">Senegal</a>, <a href="http://www.theguardian.com/world/southafrica" title="More from guardian.co.uk on South Africa">South Africa</a> and <a href="http://www.theguardian.com/world/tanzania" title="More from guardian.co.uk on Tanzania">Tanzania</a>)," it states. <br />
"Overall,
then, despite high reported growth rates, lived poverty at the
grassroots remains little changed. This suggests either that growth is
occurring, but that its effects are not trickling down to the poorest
citizens (in fact, income inequality may be worsening), or
alternatively, that actual growth rates may not match up to those being
reported." <br />
The poll also found that 56% of Africans feel their
governments are doing a bad job of managing the economy and even higher
numbers give them low ratings for improving the living standards of the
poor (69%), creating jobs (71%) and narrowing income gaps (76%). <br />
The
findings come despite Africa's economies having grown by an average of
4.8% between 2002 and 2011, making it the new darling of the investment
community and earning headlines such as "the hopeful continent" from the
Economist magazine. <br />
Critics have warned that the boom is
benefiting only a narrow elite while leaving the poor and jobless
behind, exacerbating inequality and potentially sowing seeds of unrest.
The wave of "Afro-optimism" should be qualified, they argue. <br />
Carolyn
Logan, assistant professor of political science at Michigan State
University and deputy director of the research project, said: "The
survey results show there is a disconnect between reported growth and
the persistence – in both frequency and severity – of poverty among
ordinary citizens. It's evident that African governments need to focus
as much attention on poverty reduction efforts as they are on growing
their economies." <br />
The findings show significant correlations
between access to electrical grids, piped water and other basic services
in communities and lower levels of poverty. Higher levels of formal
education also correlate with sharply lower experiences of deprivation. <br />
People
in Burundi, Guinea, Niger, Senegal and Togo suffered the highest
average levels of poverty, while residents of Algeria and Mauritius
experienced the lowest. Five of the seven countries with the highest
levels of nutritional deprivation – Burundi, Liberia, Madagascar, Sierra
Leone and Niger – are all emerging from recent conflicts. <br />
The
report triggered in debate in South Africa, the continent's biggest
economy but one of five found to have increasing levels of poverty over
the past decade. Kenneth Mubu, shadow economic minister for the
opposition Democratic Alliance, described it as a "harsh reality check
for our government" and called for a parliamentary debate. <br />
Economists
insist, however, that the overall trends remain positive. Professor
Mthuli Ncube, chief economist of the African Development Bank, said that
the "Africa rising" narrative is intact, adding: "Even in the face of
headwinds, we still see the same drivers in place, if not even stronger,
be they political progress in terms of governance and macroeconomic
stability or <a href="http://www.theguardian.com/world/2011/dec/25/africas-middle-class-hope-continent">burgeoning domestic demand from the middle class</a>. Even China growing at 7% sustainably is good enough to keep the commodity trend in the right direction for Africa." <br />
But
it is time for governments and business to manage Africa's natural
resources windfall better, he added. "Some of it has been jobless
growth, frankly, and the idea is now that it must create jobs. The good
thing is that the leadership – whether political or economic – is
recognising that the quality of growth has to be improved. We see the
opportunity with natural resources as one way to do it, so structural
transformation is critical for the attainment of inclusive growth. I
think over the next 10 to 15 years we'll see progress in this
direction." Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-32593173165723107362013-08-28T14:53:00.002+01:002013-08-28T14:55:00.274+01:00Discurso para a História de Martin Luther King<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/x7C9OympYtQ" width="560"></iframe><br />Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-41910491240719320552013-07-24T02:05:00.002+01:002013-07-24T02:05:31.534+01:00<img src="https://fbcdn-sphotos-h-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash4/1005978_629824797036597_258080370_n.jpg" />Toixhttp://www.blogger.com/profile/07582976213382247681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6340647.post-1085803006981633722013-07-24T01:36:00.003+01:002013-07-24T01:38:25.357+01:00O meu Mandela, o meu Madiba Eu estava com o repórter fotográfico António-Pedro Ferreira, o meu amigo Tó-Pê, num clube de jazz em Joanesburgo. Mandela tinha sido libertado há pouco, De Klerk ainda era o presidente da África do Sul, mas o apartheid desmoronava-se aos poucos.
No palco, um conjunto de cinco ou seis elementos tocava standards; à volta das mesas jovens brancos e negros bebiam e ouviam - mas separados, brancos numas mesas, negros noutras. De repente, os músicos tocam What a Wonderful World e o vocalista, imitando Louis Armstrong o melhor que sabia, falava sobre as árvores verdes, as rosas vermelhas, as nuvens brancas o céu azul e o abençoado brilho do dia. E nesse momento mágico uma jovem branca, loura, levanta-se da mesa dá dois passos e convida um jovem negro para dançar.
Ele levantou-se e aceitou. E enquanto os dois dançaram o mundo era maravilhoso, os músicos geniais e todos nós vivemos uma espécie de epifania. Eu e o Tó-Pê chorámos (ele autorizou-me a confessar isto). E todos naquela sala, que nos misturámos de imediato, pensámos, talvez erradamente, que o mundo era mesmo maravilhoso e dali em diante o mal terminaria.
O que foi a queda do muro de Berlim na Europa, foi em África a libertação de Mandela, o homem que sofreu todas as humilhações sem nunca clamar vingança. E esta cena, que para mim é a minha queda do muro (o António Pedro já a tinha visto, também, em Berlim) foi uma das mais belas coisas que o jornalismo me deu e ainda hoje, 23 anos depois, me comove e me diz que a minha vida valeu a pena.
Eu sei que a maioria dos comentadores do blogue me trata como uma espécie de burocrata sentado atrás de uma secretária a escrever. Mas, durante anos, fui repórter. E cobri assuntos fáceis como... guerras. Vi horrores - homens mortos por gás, pessoas a desfalecer de fome, ouvi o som dos tiros a passar sobre a cabeça; as AK 47, as RPG 7, o armamento francês, inglês, americano, russo, israelita, checo, etc. que semeava e semeia a morte no mundo. Vi-os na guerra entre o Irão e o Iraque, no Médio Oriente, em África. Da Costa do Marfim à Namíbia, do Gabão ao Malawi, da Suazilândia ao Saara Ocidental (e é claro em Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Guiné) estive em muitos locais, dormi em muitos lados, em palhotas de campos de refugiados, em cima de camionetas, em hotéis que pareciam palácios e noutros que pareciam prostíbulos. Por isso relativizo tantas vezes o que entre nós se chama pobreza extrema ou desprezo pela vida; por isso tantas vezes me congratulo por, à nossa relativa pobreza, ter vindo a corresponder o aumento do bem-estar, da dignidade e da possibilidade da decência na maioria destes países.
Por isso acredito que nenhum homem de bem, nenhum homem sensível deixará de prestar homenagem a Nelson Mandela, ao Madiba.
Esta foi a minha!<br />
<span style="background-color: yellow;"> Henrique Monteiro
9:30 Domingo, 30 de junho de 2013</span>
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Ler mais: http://expresso.sapo.pt/chamem-me-o-que-quiserem=s25609#ixzz2Zv1i6vWW
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